sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O Brasil na era das ferrovias?

O esforço do governo em buscar receitas novas para financiar o desenvolvimento do setor está alinhado com a agenda mundial.

Vem sendo anunciado um plano para ampliar a malha ferroviária no Brasil, mediante a retomada de investimentos públicos em parcerias públicoprivadas no setor. Ao sinalizar uma estratégia de desenvolvimento – sem a falsa narrativa de que o capital privado pode financiar sozinho os gargalos no setor, o Ministério dos Transportes indica que o Brasil se insere na agenda global de investimentos em infraestrutura ferroviária.

Como autor do projeto de lei que se converteu no Marco Legal das Ferrovias – Lei n.º 14.273, de 2021 –, vejo com bons olhos a proposta do governo. Fui um crítico do teto de gastos e um dos parlamentares a propor um novo arcabouço fiscal, para preencher lacunas que hoje ainda estão na Lei de Responsabilidade Fiscal. Na vigência do teto, prevaleceu no País a ideologia de que o setor privado pode resolver sozinho todos os gargalos da infraestrutura de grande vulto, em especial ferrovias. Virou pecado falar em um orçamento de capital para promover o setor.

O teto de gastos, que vigorou até 2022, dilacerou os investimentos públicos em ferrovias, levando-os a patamares inferiores a R$ 400 milhões, quando o governo federal investira mais de R$ 3 bilhões por ano até 2016. A correlação com os investimentos privados é clara: os investimentos privados no setor se reduziram de R$ 8,3 bilhões por ano, na média do período de 2010 a 2016, para R$ 5,9 bilhões entre 2019 e 2022.

Mas os efeitos do teto podem ter sido ainda piores, devido à negligência do gestor na arrecadação de receitas.

Afinal, para que arrecadar mais se há um limite de gastos impedindo o uso de recursos orçamentários? No final do dia, um real adicional que ingressasse na conta única do Tesouro era automaticamente contingenciado pelo Ministério da Fazenda.

Importa aqui ressaltar que o investimento em infraestrutura no País – setores público e privado, juntos – corresponde a 1,85% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, na média anual, no período entre 2008 e 2020. Esse valor é muito inferior ao necessário, estimado entre 4% e 5%. Ou seja, a lacuna de investimentos corresponde a no mínimo 2% do PIB. Considerando o investimento público, o Brasil é um dos países que menos investe na América Latina. Entre 2008 e 2019, cerca de 0,7% do PIB ao ano, na média, enquanto outros países chegaram a investir mais de 3% do PIB.

O atual Ministério dos Transportes vem promovendo uma revisão de receitas e despesas decorrentes das políticas que conviveram com o teto de gastos, baseando-se na prática internacional conhecida como spending reviews. Como entusiasta do tema, por ter sido inclusive o autor do projeto aprovado no Senado Federal para instituir no País essa boa prática internacional (PLS n.º 428, de 2017), percebo que as novas fontes de recursos que financiarão os investimentos públicos em ferrovias serão provenientes de descumprimentos contratuais e revisões do modelo de precificação de ativos. O próprio Tribunal de Contas da União (TCU), e mesmo empresas do setor, analisam o tema com sinalizações de que o processo das prorrogações antecipadas poderia ter sido mais vantajoso para o setor ferroviário.

Vale registrar o empenho de vários países em investir recursos do orçamento público em ferrovias. Os Estados Unidos anunciaram um orçamento de US$ 66 bilhões para investimentos no setor. A Índia alocou em seu orçamento algo em torno de US$ 30 bilhões, para fomentar a aquisição de locomotivas a hidrogênio e equipamentos elétricos.

O esforço do governo brasileiro em buscar receitas novas para financiar o desenvolvimento do setor ferroviário está alinhado com a agenda mundial. Organismos internacionais, como o Banco Mundial, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam para a importância dos investimentos públicos em infraestrutura sustentável, como é o caso das ferrovias. Trata-se, portanto, de uma agenda internacional.

Acredito que a nova estrutura de investimentos públicos em ferrovias deva compreender um sistema de governança baseado em bons projetos, considerando as dimensões de uma infraestrutura sustentável: econômica, ambiental e social. E com políticas públicas bem desenhadas, capazes de atrair o investimento privado, o Brasil pode conferir a necessária segurança jurídica para destravar corredores ferroviários estruturantes.

Sabe-se que o País precisa ampliar a participação das ferrovias na matriz de transporte. No segmento de transporte de passageiros, não faltam oportunidades para o desenvolvimento de políticas públicas específicas, bem como para a estruturação de projetos. E com um transporte de carga pujante, com corredores estruturantes alimentados por shortlines, nosso país poderá transportar minérios, grãos e carga geral, de forma eficiente e sustentável.

Fico na torcida para que o plano nacional ferroviário saia do papel. Pode ser um importante passo para que o Brasil ingresse na era das ferrovias, com a agenda voltada para uma infraestrutura sustentável e eficiente. •



José Serra, o autor deste artigo, é economista. Foi Governador de S. Paulo e candidato a Presidente da Republica. Pubicado originalmene n'O Estado de S. Paulo, em 25.01.23

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

A esquerda precisa deixar de ser chata se quiser se manter competitiva

A meta deles é transformar simpatizantes em neutros, neutros em adversários e adversários em inimigos

Ilustração de Ariel Severino para coluna de Wilson Gomes - Ariel Severino

A minha última proposta de mudança de atitude para uma esquerda que quiser se manter competitiva é bem prosaica: deixem de ser chatos, ninguém gosta de chatos, o chato estraga qualquer causa.

Basta um pouco de bom senso. Suponhamos que você seja proprietário, sei lá, da Concessionária Brasil. Quem você contrataria para vender carros? Alguém simpático, capaz de identificar desejos que o comprador nem sabia ter e convertê-los em vendas, ou um chato? Na política, uma atividade que requer, por natureza, persuasão, convencimento e sedução, a mesma lógica se aplica.

Na ilustração em preto e branco sobre um fundo chapado amarelo, mostra uma cabeça feita de frangalhos, como tiras de papel, que tenta se desvencilhar de uma mão que a sujeita, pressionando com força com o dedo indicador contra o piso. A cabeça está pressa numa extremidade e as facões se deformam mostrando a violência do ato. A sombra da cabeça de tiras de papel sobre o fundo amarelo acrescenta dramatismo.

O chato é insuportável, molesto, inconveniente. Quer estragar uma pauta? Tornar socialmente antipática a causa mais nobre? Quer aumentar o número dos seus adversários? Deixe por conta dos chatos e tudo isso estará garantido.

O chato despreza a simpatia como estratégia, o negócio dele é incomodar. A meta é transformar simpatizantes em neutros, neutros em adversários e adversários em inimigos.

Para não deixar dúvida, "chato" aqui não tem o sentido de maçante, aborrecido, enfadonho, uma acepção possível, mas de antipático, desagradável. "Monótono" pode até ser um predicado positivo nesses tempos de coisas bizarras, mas o chato a que me refiro acumula os defeitos de ser ativo, incômodo e repelente.

Foi Jô Soares quem melhor o descreveu: "Um chato nunca perde o seu tempo. Perde sempre o dos outros". Foi ele quem lapidou a lei mor do chato: "Todo chato cutuca". Cutuca, apalpa e acha sempre uma costura frouxa na sua camisa. Tudo isso a cinco centímetros da sua boca.

Toda área tem seu chato, mas o paradigma é o mesmo. Na religião, há aqueles sujeitos que batem à porta da sua casa às sete da manhã do domingo para indagar: "Olá, você teria um minuto para ouvir a palavra?". Cogita-se um "chaticídio", claro. O chato não tem senso, conveniência ou limites, não aceita ser ignorado.

Há várias categorias de chatos na esquerda e, aparentemente, estão se multiplicando nesses tempos em que os ativistas nem sequer tiveram um treinamento "presencial". Formaram-se sozinhos, nas quebradas digitais. Tivessem passado pela convivência física, teriam aprendido a regra de ouro: o que você não teria coragem de dizer a alguém a meio metro distância tampouco deveria ser dito online.

O chato mais comum na esquerda é o "problematizador". Ele tem ideias curtas, mas opiniões compridas, que simplesmente precisa apresentar. Não importa se alguém se interessa por elas ou se a audiência está ali por outra pessoa. Antigamente, o tipo mais clássico de problematizador de esquerda era o "louco de palestra", que já frequentou muita crônica —e muita conferência.

Eu o acho mais chato que maluco e tenho certeza que um chato aparecerá aqui para denunciar que "saúde mental é coisa séria e que essa acepção de maluco é politicamente incorreta". Como a "chatofobia" ainda não foi criminalizada, tentarei por esse caminho.

"Gostaria de problematizar essa sua colocação" é uma forma de cutucar ou achar uma linha solta ou uma migalha na camisa do interlocutor, no caso, do palestrante, colunista ou autor do post. "Acho que você está certo, mas senti um certo tom de misoginia" é frase típica do chato da hipercorreção política. "O que você está dizendo dos yanomamis procede, mas acho desrespeitoso não mencionar os ataques americanos aos houthis do Iêmen" é próprio do chato sommelier de indignações morais.

"Seu texto até estava indo bem, mas ‘la donna è mobile’ é de uma ária da ‘Traviata’ e não do ‘Rigoletto’" é do chato sabe-tudo, que em geral corrige errado. "É evidente que você não sabe do que está falando, sugiro que em vez de Habermas leia Bohumila", diz o chato que passa bibliografia.

Mas o "Chato’s Award" de 2023 certamente vai para o beato da pureza política. Ele é o olheiro, "que a vida do vizinho e da vizinha pesquisa, escuta, espreita esquadrinha, para o levar à praça e ao terreiro", a que se refere Gregório de Matos. O beato da pureza política se encarrega de fazer listas dos delitos de opinião que devem ser atribuídos a fulano e a sicrano para desmascará-los perpetuamente.

"Sabem essas jornalistas cujos textos vocês estão compartilhando? Uma apoiou a Lava Jato a outra chegou a dizer que Sergio Moro era inteligente. Em 2014." O "desmascarado" naturalmente se resume a isso, à "falha" que o chato detectou e precisa repetidamente mostrar. O chato não faz novos amigos nem quer que ninguém os faça; ele precisa de inimigos, quanto mais, melhor.

Wilson Gomes, o autor deste artigo, é professor titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada". Pubicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 24.01.24

Lênin: por que cérebro de líder comunista foi fatiado em mais de 30 mil pedaços

Após a morte do fundador da extinta União Soviética, Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido como Lênin, em janeiro de 1924, alguns dos médicos que cuidaram dele propuseram a remoção de seu cérebro para estudá-lo.

A múmia de Lenin no Mausoléu de Moscou (Crédito: Getty Images)

Há cem anos, o objetivo desses cientistas e de políticos aliados era descobrir onde residia o que consideravam a "genialidade" de Lênin.

A ideia foi aprovada pela hierarquia soviética, que criou uma instituição com a finalidade de realizar tais pesquisas.

Um século depois, onde está o cérebro de Lenin e que resultados as análises mostraram? Para responder a essas e outras perguntas, a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, conversou com historiadores e neurocirurgiões que pesquisaram o caso.

O médico alemão Oskar Vogt, um dos maiores especialistas no estudo do cérebro no início do século 20, foi chamado pelos soviéticos para analisar o cérebro de Lênin (Crédito: Getty Images)

Um convidado incômodo

"A história do cérebro de Lênin começa com uma proposta ao Politburo (comitê central do partido comunista da extinta União Soviética) do ministro da Saúde, Nikolai Semashko, e do assistente pessoal de Stalin, Ivan Tovstukha, de 'exportar' o órgão para Berlim (Alemanha) para estudo", disse o historiador americano Paul Roderick Gregory.

O especialista, que escreveu o livro Lenin's Brain and Other Tales from the Secret Soviet (em tradução livre, "O cérebro de Lenin e outras histórias dos arquivos secretos soviéticos") especificou que, no momento da morte do líder, a Rússia carecia de neurocientistas.

E, por isso, as autoridades soviéticas convidaram o médico alemão Oskar Vogt (1870-1959) para analisar o órgão, que foi colocado em formaldeído (conhecido como formol) após ter sido retirado durante a autópsia.

Vogt era um renomado neurologista que fundou e dirigiu o Instituto Imperador William para Pesquisa do Cérebro (hoje Sociedade Max Planck, uma prestigiada organização que reúne vários centros científicos alemães).

O cérebro de Lênin foi cortado em mais de 30.000 partes e estas foram colocadas em placas de vidro e algumas foram banhadas em corantes para estudo. Na década de 90, as amostras foram expostas à imprensa (Crédito: Getty Images)

"A Alemanha tinha o melhor nível científico da época e o maior número de prêmios Nobel", explica José Ramón Alonso, professor de Neurobiologia da Universidade de Salamanca (Espanha), à BBC News Mundo.

"E embora Vogt tivesse alguma relutância em aceitar a tarefa, o governo alemão o instou a fazer isso. Naquela altura, a Alemanha estava interessada em manter boas relações com a URSS, para ultrapassar através daquele país as sanções que a impediam de desenvolver armamentos após a Primeira Guerra Mundial", acrescenta o especialista, que estudou o assunto para seu livro Historia del Cerebro ("História do Cérebro").

Contudo, o plano de levar o cérebro de Lênin para Berlim foi abortado.

"Stalin não gostou da ideia de um estrangeiro estar envolvido nesse processo, porque não conseguiria controlá-lo", diz Gregory, que é bolsista do Instituto Hoover da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Retrato de Stalin discursando no sexto congresso do Partido Comunista Soviético (Getty Images)

'Como um queijo suíço'

Apesar das objeções de setores da liderança soviética, Vogt acabou sendo convidado a participar da pesquisa e recebeu uma das 30.953 partes em que foram divididos o cérebro do falecido líder, que ele poderia levar para seu laboratório na Alemanha para estudá-lo.

Em troca, Moscou pediu ao especialista alemão que treinasse médicos russos na área de neurociências e dirigisse a criação do Instituto Russo do Cérebro (hoje Academia Russa de Ciências Médicas).

No entanto, anos mais tarde, confrontos que Vogt teve com o regime nazista não só lhe custaram as suas posições na Alemanha, mas também ofereceram a Stalin a desculpa para dispensá-lo, acrescentou o historiador americano.

As dúvidas soviéticas sobre a intervenção estrangeira pareciam justificadas. Na década de 1930, do Terceiro Reich, alegaram que Lênin estava doente e que seu cérebro parecia "queijo suíço", lembra Alonso.

E é por isso que, quase no final da Segunda Guerra Mundial, Moscou lançou uma operação secreta para resgatar a amostra que estava nas mãos de Vogt, disseram os pesquisadores belgas L. van Bogaert e A. Dewulf.

"Os soviéticos temiam que a amostra que Vogt tinha caísse nas mãos dos americanos e pudessem usá-la para desacreditar Lênin, dizendo que ele sofria de sífilis ou que não era um gênio", afirma o professor espanhol.

Caricatura de Lênin retratada como uma aranha destruindo a Rússia (Getty Images)

Os nazistas retrataram Lênin como um doente e um criminoso e alegaram que seu cérebro se assemelhava a um 'queijo suíço' porque estava cheio de buracos

Tentativa fracassada de agradar

No final da década de 1920, Vogt apresentou os resultados preliminares de seus estudos em uma série de palestras na Europa. E ali afirmou que "os neurônios piramidais da camada III do córtex cerebral de Lênin eram excepcionalmente grandes e numerosos".

Para o neurologista alemão, isso explicava a "mente ágil" do falecido líder e a sua capacidade de "relacionar ideias muito rapidamente, bem como o seu sentido de realidade", razão pela qual chamou Lênin de "atleta do pensamento associativo".

Embora à primeira vista o especialista tenha dado a Moscou o que procurava, alguns líderes soviéticos não ficaram satisfeitos. A razão? Outros especialistas da época sustentavam que grandes e numerosos neurônios piramidais também eram característicos de atraso mental, alertou um líder comunista em um relatório.

"As descobertas de Vogt foram amplamente criticadas porque se acredita que ele disse aos russos o que eles queriam ouvir: que o cérebro de Lenin era único e excepcional", diz Alonso.

"As autoridades soviéticas sustentavam que Lênin era o maior dos gênios e esperavam que o seu cérebro tivesse características especiais e que houvesse algo distinguível que lhes permitisse dizer que não era como o de qualquer outro ser humano", acrescenta o neurobiólogo espanhol.

Vogt acreditava que havia ligações diretas entre a estrutura (tamanho e forma) do cérebro e a inteligência das pessoas.

Os líderes soviéticos sustentaram que Lênin era um gênio e procuraram provar isso cientificamente, estudando o seu cérebro (Getty Images)

Sob sete chaves

Uma pessoa que defendeu o uso do terror para controlar as massas ou que viveu às custas da mãe até ela morrer pode ser considerada intelectualmente superior?

Os biógrafos soviéticos ignoraram isso e destacaram que a grande memória de Lênin lhe permitiu dominar sete línguas e ser capaz de escrever um artigo para um jornal em apenas uma hora.

As investigações para encontrar a raiz de "gênio" do líder bolchevique duraram mais de uma década, pois foi necessário começar a coletar outros cérebros para que os especialistas pudessem compará-los com o do falecido revolucionário, explicam os estudiosos sobre o tema.

Essa é a razão pela qual nas prateleiras da Academia de Ciências Médicas de Moscou hoje não apenas o cérebro de Lênin é mantido trancado a sete chaves, mas também o do fisiologista Ivan Pavlov, o do engenheiro aeronáutico Konstantin Tsiolkovski e o do escritor Maxim Gorky.

No entanto, os pedaços de cérebro do fundador da URSS foram comparados não apenas com os de compatriotas brilhantes, mas também com os de dez cidadãos comuns. Os resultados não foram divulgados e apenas apresentados às mais altas autoridades.

"No Instituto Hoover há uma cópia do relatório que o Politburo recebeu, que tem 63 páginas. O relatório está em mau estado e contém muita linguagem científica e coisas sem sentido, mas é claro que conclui que Lênin foi um gênio até ao fim dos seus dias. Isso apesar de ele ter sofrido quatro derrames cerebrais e ter ficado incapacitado desde o segundo deles", diz Gregory.

"Foi cômico ler esse documento, porque parecia que (seus autores) estavam inventando coisas para chegar à conclusão que queriam", acrescenta.

Desde 1922, Lênin sofreu pelo menos quatro derrames, o que o impediu de falar, escrever e andar, mas a liderança soviética da época insistiu que a sua mente funcionava como uma máquina (Getty Images)

Embora pesasse apenas em 1,3kg, em comparação com mais de 2 para alguns escritores famosos da época, os investigadores soviéticos asseguraram que o cérebro de Lênin apresentava uma "complexidade de relevos e peculiaridades na configuração dos sulcos e circunvoluções, especialmente no seu lobo frontal" dignos de alguém com "altas habilidades intelectuais".

Alonso rejeita as conclusões de Vogt e daqueles que o sucederam.

"Ninguém acredita que o tamanho ou a forma do cérebro tenha alguma coisa a ver com a inteligência (...) Há pessoas com cérebros grandes que deixaram grandes obras artísticas ou científicas, mas também há pessoas com cérebros pequenos que o fizeram. Não encontramos um padrão que nos permita dizer onde está a genialidade", explica.

E Alonso lembra que "hoje continuamos discutindo o que chamamos de inteligência".

"(O pintor Vincent) Van Gogh é considerado um gênio artístico, mas era uma pessoa com muitos problemas. O mesmo aconteceu com (o físico Isaac) Newton, que é considerado o melhor cientista da história, mas não tinha amigos e vivia quase na miséria, apesar de ter dinheiro", conclui o especialista.

Na Academia Russa de Ciências Médicas há um modelo em cera do cérebro de Lênin, que permite vê-lo como era no momento de sua morte (Getty Images)

Uma arma política

Após a dissolução da URSS em 1991, alguns cientistas que guardavam ou examinavam o cérebro de Lênin começaram a oferecer outras versões além da oficial.

"Certamente tinha um grande lobo frontal e um grande número de neurônios piramidais. Agora, o que isso significa? Só podemos especular (...) que o cérebro não tem nada de especial", admitiu Oleg Adrianov em 1993, então diretor do centro que protege os cérebros do líder bolchevique.

"Não creio que ele fosse um gênio", concluiu o cientista russo em declarações à imprensa britânica.

O estudo do cérebro de Lênin também foi uma das armas com as quais Stalin procurou se estabelecer como herdeiro do fundador da URSS.

"Stalin não só queria provar a genialidade de Lênin, mas também se tornar o intérprete desse gênio, a fim de fortalecer a sua posição na luta pelo poder que começou assim que Lênin morreu", acrescenta Gregory.

A imortalidade de Lênin fazia parte da estratégia de Stalin para obter o controle da nova URSS (Getty Images)

Mas o cérebro de Lênin não foi a única coisa que Stalin usou na sua guerra pelo poder. Ele ignorou os desejos do seu antecessor e da sua família e decidiu preservar o corpo de Lenine e exibi-lo publicamente como o de um santo no mausoléu construído sob os muros do Kremlin, onde permanece até hoje.

No entanto, especialistas como o historiador cubano Armando Chaguaceda acreditam que o próprio Lênin deu origem em vida ao seu posterior processo de endeusamento.

"Lênin foi o criador do Estado totalitário soviético, que tem a propaganda entre os seus pilares", diz.

"Uma coisa é o que dizem os dirigentes e outra coisa é o que acontece na prática, para todos estes líderes: Lênin, Fidel Castro ou Mao Tse Tsung disseram que não queriam um culto à personalidade à sua volta, mas isso era retórica, porque em vida eles organizaram ou patrocinaram um culto à sua figura e isso continuou após suas mortes", afirma.

Juan Francisco Alonso, o autor deste artigo, é jornalista. Pubicado originamente pela BBC News Mundo em 22.01.23

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Redescobrir a leitura é preciso

A nova geração tem mais acesso à informação que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete em um ganho cultural

A dependência das ferramentas da era digital é um fato. Os adolescentes não desgrudam do celular. Passam horas navegando na web ou absortos nos videogames. Mas não só eles. Todos, jovens e menos jovens, estamos reféns do mundo digital.

Para o norte-americano Nicholas Carr, formado em Harvard e autor de livros de tecnologia e administração, a dependência no uso da internet está empobrecendo nossa cultura, matando talentos e causando distúrbios psíquicos. Ele não fala do uso da internet, mas da compulsividade virtual.

Segundo Carr, o uso exagerado da internet está reduzindo nossa capacidade de pensar com independência e profundidade. “Você fica pulando de um site para o outro. Recebe várias mensagens ao mesmo tempo. Isso desenvolve um novo tipo de intelecto, mais adaptado a lidar com as múltiplas funções simultâneas, mas está perdendo a capacidade de se concentrar, ler atentamente ou pensar com profundidade.”

A nova geração de adolescentes tem mais acesso à informação que qualquer outra antes dela. Mas isso não se reflete em um ganho cultural. De fato, há uma perda considerável de qualidade da mão de obra. Os índices de leitura e de compreensão de texto vêm caindo intensamente. A conclusão é que, apesar do maior acesso às tecnologias, não se vê um ganho expressivo em termos de apreensão de conhecimento.

A internet é uma formidável ferramenta. Mas não deve perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de desvio que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Precisamos, todos, redescobrir o prazer e a beleza da leitura.

Estou de férias e dando voltas ao tema desta coluna. Qual será o tema? Bingo! Ocorreu-me compartilhar com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem em suas férias de verão. Vamos lá:

O Óbvio Ululante – As Primeiras Confissões (Editora Agir, Rio de Janeiro). Como dizia Nelson Rodrigues, “a arte da leitura é a releitura”. Comentário certeiro. Acabo de reler as memórias de Nelson Rodrigues, suas Confissões, condensadas no magnífico Óbvio Ululante. Trata-se de um dos maiores cronistas que o Brasil já teve. Seu conhecimento da alma humana, com seus picos de grandeza de seus abismos de miséria, fica esculpido num texto insuperável. Nelson foi um criador de tipos antológicos. Como o anônimo cidadão que lhe serviu para criar Palhares, o canalha, o que “atacava as cunhadas nos corredores”. Ou a imortal grã-fina “com nariz de cadáver”. Ou, ainda, o sacerdote que o inspirou a criar o “padre de passeata”. Seu texto, brilhante e saboroso, dissecava a alma humana e radiografava a sociedade. Mas o que mais me impressiona é a atualidade do pensamento rodrigueano. Um livro fascinante.

O Quinto Movimento – Propostas para uma Construção Inacabada (Já Editora, Porto Alegre). Seu autor, Aldo Rebelo, é um estadista. Quatro vezes ministro de Estado, deputado federal em muitas legislaturas, presidiu a Câmara dos Deputados e, como relator, dotado de grande capacidade de convencimento, conseguiu aprovar um Código Florestal irretocável. Trata-se de um depoimento sobre a centralidade da questão nacional que, segundo Rebelo, “é a ideia de que a nação é o eixo organizador da vida social na presente etapa da história da civilização: a convicção segundo a qual o Estado nacional é a organização apta para proteger os valores da dignidade da pessoa humana e a crença na certeza de que viver em um país livre de qualquer submissão a outro país é o mais sagrado dos direitos do homem depois do direito à vida”. Dotado de uma cultura extraordinária e uma incontida paixão pelo Brasil, Aldo Rebelo apresenta propostas que merecem uma reflexão. A coragem e sinceridade do autor é uma lufada de esperança num ambiente tão conturbado e num momento tão crucial da nossa história. Um livro obrigatório para quem quer entender o Brasil.

A Igreja das Revoluções (Editora Quadrante, São Paulo). Esse é o último título da História da Igreja de Cristo, a monumental obra de Daniel-Rops. O autor, membro da Academia Francesa de Letras, estava trabalhando no 11.º, que trataria do Concílio Vaticano II, quando faleceu. A multissecular história da Igreja, intimamente relacionada com a história da civilização, é um banho de cultura e um magnífico prazer intelectual.

O Fio de Ariadne – A Literatura e o Labirinto da Vida (Cultor de Livros, São Paulo). Rafael Ruiz, em seu livro, procura olhar para a literatura como um caminho que leva o ser humano à plena realização, ou seja, é um trajeto que humaniza o ser humano. Nas palavras do autor, o livro funciona como um mapa que nos leva “em busca do humano”. Esse mapa nos guia através de histórias já muito conhecidas, apontando-nos as armadilhas e os tesouros do coração do homem. Ulisses, El Cid e os personagens de O Senhor dos Anéis viajam e regressam conosco, transformados. Frankenstein e os personagens de Dostoievski viajam, mas nunca retornam. E nós?

A literatura é o Waze que nos conduz na aventura da vida.

Boa leitura!

Carlos Alberto Di Franco, o autor dese artigo, é jornalista. Escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto d'O Estado de S. Paulo. Publicado originalmente em 22.01.24.

Lula é um oportunista

Presidente muda discurso ao sabor de seus interesses, o que traz descrédito para a política

O presidente Lula em reunião em Brasília - Gabriela Biló - 12.dez.23/Folhapress) - Folhapress

Lula é um oportunista, no que o termo encerra de positivo e de negativo. Quando viu que enfrentaria uma disputa difícil contra o então presidente Jair Bolsonaro, o petista veio com o discurso da frente ampla para salvar a democracia e convidou o ex-adversário Geraldo Alckmin para compor a chapa, na posição de vice.

Com isso, conseguiu atrair o voto de eleitores que faziam restrições ao PT, mas tinham ainda mais medo de Bolsonaro. Deu certo. Lula venceu por estreita margem.

O panorama agora é outro. O TSE tornou Bolsonaro inelegível. Isso é bom para Lula e o PT. O bolsonarismo sem Bolsonaro fica enfraquecido, mas ainda é forte o suficiente para inibir o surgimento de outras forças oposicionistas. Lula já não necessita do discurso da frente ampla. Isso lhe deu liberdade para tentar reescrever a história, em linhas que podem ajudar seu partido nos pleitos municipais deste ano. Os casos de corrupção no entorno da Petrobras, que o próprio Lula já reconhecera como reais ("Você não pode dizer que não há corrupção, se as pessoas confessaram"), acabam de se tornar uma orquestração dos Estados Unidos com juízes e procuradores brasileiros para prejudicar a empresa petrolífera.

Não foi a única reviravolta conceitual de Lula, que fez questão de subir a rampa do Planalto acompanhado de minorias, mas não se esforçou tanto para encontrar mulheres para pôr no STF ou que agora empresta a Advocacia-Geral da União para fazer coro ao machismo dos militares, que insistem em vetar a incorporação de membros do sexo feminino em unidades de combate.

Fazer política é negociar. Daí que o discurso de políticos é necessariamente menos definitivo do que o de líderes religiosos, por exemplo. O problema é que, quando as mudanças batem de frente contra os fatos ou soam muito oportunistas (agora só no sentido pejorativo), contribuem para o descrédito da própria política, o que é ruim para a democracia.

Hélio Schwartsman, o autor deste artigo, é Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…". Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, ediçao digital, em 23.01.23

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Apetite parlamentar sobre Orçamento precisa de freio

Ideias mirabolantes se avolumam a cada ciclo

O presidente Lula, junto aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, durante sua cerimônia de diplomação - Ueslei Marcelino - 12.dez.22/Reuters - REUTERS

Os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à lei orçamentária deste ano, que devem abrir uma nova frente de disputa com o Congresso Nacional, poderiam ser o pontapé inicial para uma discussão que deveria envolver a sociedade civil para o resgate do equilíbrio na relação entre o Legislativo e o Executivo.

Enquanto a cobertura da imprensa ainda foca no vaivém do embate sobre o veto, o pecado original está na aprovação, em 2015 e em 2019, das emendas orçamentárias impositivas e igualitárias. A partir de então, o Executivo se viu obrigado a empenhar todas as emendas individuais e coletivas de maneira equitativa entre os parlamentares. As mudanças abriram as portas para tentativas cada vez mais ousadas dos congressistas de se apropriar do planejamento e da execução de políticas públicas. A cada ciclo orçamentário, deputados e senadores apresentam novas ideias mirabolantes para ganhar mais poder orçamentário.

Na votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) deste ano, a ousadia parlamentar foi ainda maior ao tentar estabelecer um calendário de execução obrigatório das emendas. É meritório discutir um ordenamento ao toma lá dá cá estabelecido na dinâmica do relacionamento entre Executivo e Legislativo.

O governo eleva o volume de liberação das emendas nas negociações para a aprovação de pautas de interesse no Congresso, e não é razoável acreditar que os prefeitos, na ponta, tenham de estar sujeitos a essa incerteza ou ao timing de Brasília.

Contudo, o calendário de execução acaba dando mais poder sobre partes do Orçamento a deputados específicos (como o relator da LDO) e à cúpula do Congresso do que ao presidente da República. Sem contar que, na impossibilidade de o governo definir prioridades na alocação das emendas e com um Orçamento cujo espaço para despesas discricionárias gira em torno de 7% do total, a execução da política pública na ponta fica prejudicada, favorecendo apenas as lideranças locais com acesso aos legisladores de turno.

Emenda parlamentar amplia abismo no acesso a água com abandono e desperdício

Muito se fala de o Congresso impor alguns limites ao ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal e, apesar de os projetos ora apresentados e votados trazerem mais fumaça do que calor, a democracia ganha quando o Legislativo se fortalece. Por exemplo, a literatura em ciência política aponta que os parlamentares da coalizão em geral corrigem e aperfeiçoam proposições de lei do Executivo via emendas.

O Congresso também foi responsável pela adoção de inúmeras políticas públicas importantes. Em 2020, os parlamentares constitucionalizaram o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que financia a educação básica e pública país afora. No mesmo ano, aprovaram o Marco Legal do Saneamento Básico, política pública gestada dentro do Congresso que regulou possíveis investimentos do setor privado visando melhorar o saneamento básico.

Mario Sérgio Lima e Beatriz Rey, os autores deste artigo, são - ele, Analista sênior da consultoria de risco político Medley Advisors; e ela, Doutora em ciência política, é pesquisadora sênior do Núcleo de Estudos sobre o Congresso (Necon), da Uerj, e da Fundação POPVOX (EUA). Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 20.01.23

Emenda para um verso de pé quebrado

Retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima não é resgate de um projeto visionário, como o governo anuncia, e sim uma tentativa de reduzir o prejuízo com o desatino lulopetista

Como uma reprise de um filme ruim, a cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, paralisadas desde 2015, foi marcada por discursos tão grandiloquentes quanto delirantes. Ao ouvir o presidente Lula da Silva cantar as glórias da iniciativa de gastar ainda mais dinheiro numa obra que simboliza a corrupção e a inépcia da era lulopetista, é impossível deixar de lembrar do ufanismo que acompanhou, entre 2005 e 2006, os anúncios de investimentos astronômicos da Petrobras, como a própria refinaria pernambucana e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dois sumidouros de recursos públicos que viraram símbolos de corrupção.

Havia dois caminhos para a Refinaria Abreu e Lima, que produz menos da metade do que previa o projeto original. O melhor deles, de longe, seria a venda, que chegou a ser tentada, em meados de 2019. Não apareceram compradores, e a pandemia de covid que veio a seguir enterrou de vez as esperanças de atrair investidores. A outra via era concluí-la, para pelo menos reduzir o prejuízo da empresa depois dos quase R$ 60 bilhões despejados na obra.

O que está ocorrendo agora, portanto, é uma tentativa de emendar um verso de pé quebrado, não o resgate de um projeto visionário, como o governo tenta apregoar. Por essa razão, o governo faria melhor se realizasse a retomada das obras sem fanfarra, com a discrição e a modéstia exigidas daqueles que cometeram um erro grave e são capazes de reconhecê-lo. Mas Lula e o PT, claro, nunca erram. De maneira constrangedora, em vez da discrição escolheram o estardalhaço, num comício em que Lula não só anunciou, como se fosse algo positivo, que o Brasil gastaria ainda mais dinheiro num projeto perdulário que nem deveria existir, como o fez atacando o governo anterior, a Lava Jato e as elites. No mesmo tom, Abreu e Lima foi apresentada como “a refinaria do futuro, da virada” pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Nem todo o malabarismo retórico do lulopetismo, no entanto, é capaz de esconder o fato de que dezenas de bilhões de dólares foram consumidos em obras que, quando muito, ficaram pela metade, tornando-se um butim para políticos e executivos corruptos. Os testemunhos dos próprios envolvidos no esquema não deixaram dúvidas sobre a farra inescrupulosa que levou a Petrobras ao centro de um dos mais rumorosos casos de corrupção do mundo.

Mas Lula da Silva não se dá por vencido. Insiste na tese de que o escândalo conhecido como “petrolão” fez parte, na verdade, de “uma mancomunação entre alguns juízes e procuradores (da Lava Jato) subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”. Sem pudor, voltou a usar a tese de que seu governo e a Petrobras foram vítimas de um grande complô, capitaneado, é claro, pelos “imperialistas estadunidenses”.

Prates anunciou, pela primeira vez, a estimativa de gastos para terminar a obra: R$ 8 bilhões – quase o mesmo valor inicialmente previsto para a obra na época em que foi apresentada pelo então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o principal delator do esquema de corrupção que ajudou a montar na empresa. Costa também alardeava que o projeto representava o estado da arte no setor de petróleo, com o uso de novas tecnologias para refinar tanto o petróleo do pré-sal quanto o venezuelano. A parceria entre Lula e o então ditador da Venezuela, Hugo Chávez, deveria significar o grande salto adiante dos dois países. Chávez, que era esperto, ignorou o acordo e não colocou um tostão na empreitada.

Dezoito anos depois, só restaram um imenso prejuízo e a habitual alucinação patrioteira do lulopetismo. A refinaria, que levou nove anos para entrar em operação parcial, foi descrita pelo atual presidente da Petrobras como “uma máquina maravilhosa”, a mais moderna de todo o continente americano. Será, quando muito, a prova cabal dos estragos que uma ideologia antediluviana é capaz de causar ao País.

Editorial \ Notas & Informações, O Estado de S.Paulo, em 22/01/2024 

sábado, 20 de janeiro de 2024

O desastre é nosso

Lula voltou para refazer exatamente o que deu errado na Petrobras. Colocará entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões na Abreu e Lima

Obra da Refinaria Abreu e Lima, envolvida na Lava-Jato, vai custar até R$ 8 bi, diz presidente da Petrobras (Foto: Agência O Globo)

Em entrevista ao Valor Econômico, publicada em 17 de setembro de 2009, o presidente Lula (segundo mandato) contou como levara a Petrobras a mergulhar num programa de investimento ambicioso. Ele ficara decepcionado com os planos da estatal propostos em 2008. O que fez?

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— Convoquei o conselho da empresa.

A pressão funcionou. O portfólio de investimentos da estatal escalou para nada menos que quatro refinarias, das grandes, construídas ao mesmo tempo. A economia mundial estava desacelerando, empresas globais reduziam investimentos temendo queda de demanda e de preços. Exatamente o que aconteceu com o petróleo. Mas Lula disse, naquela entrevista, que era preciso atacar, sair na frente e coisas assim. E lá se foi a Petrobras na direção do desastre.

Obra da Refinaria Abreu e Lima, envolvida na Lava-Jato, vai custar até R$ 8 bi, diz presidente da Petrobras

As refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj, no Rio, já estavam no pacote. Entraram outras duas, tipo premium, uma no Ceará, outra no Maranhão, que seria a maior do país. Não saíram do papel. Em janeiro de 2015, a então presidente da estatal, Graça Foster, cancelou oficialmente os projetos, por absoluta inviabilidade técnica e financeira. Ela até havia tentado salvar a coisa, mandando as plantas para revisão nos Estados Unidos. Não deu. Foi melhor cancelar. Mas a Petrobras gastou, em dinheiro de hoje, perto de R$ 5 bilhões em projetos, terraplenagem e compra de equipamentos. Para nada.

O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro andou quase nada. A Refinaria Abreu e Lima estava em construção. Fora anunciada em 2005 ao preço de US$ 2,3 bilhões. Mas, já naquele setembro de 2009, a estatal fizera, digamos, ligeira reavaliação. A coisa custaria o quíntuplo, cerca de US$ 13 bilhões. Quando as obras foram paralisadas, em 2015, estava concluída meia refinaria, por quase US$ 20 bilhões. De longe, a mais cara do mundo.

Por que parou?

Segundo Lula, este do terceiro mandato, por causa de uma conspiração de juízes e promotores da Lava-Jato com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para destruir a Petrobras. Narrativas à parte, a Petrobras estava esgotada. Em quatro anos, já no governo Dilma, acumulara prejuízo de R$ 100 bilhões. Duas causas: os enormes investimentos mal dimensionados e a venda de combustível por um preço mais barato do que a estatal pagava na importação e produção. Isso para derrubar a inflação.

Assim a petrolífera brasileira tornou-se a mais endividada do mundo. Mesmo sem corrupção, a estatal não aguentaria. No balanço, a Petrobras registrou oficialmente, lá atrás, perdas de R$ 6 bilhões por causa da roubalheira. Mixaria perto dos equívocos de gestão.

De todo modo, o então candidato Lula admitiu que houve corrupção na empresa. Em entrevista ao Jornal Nacional, atacou a Lava-Jato, mas disse que era difícil negar quando pessoas confessavam ter roubado. Agora, é tudo mentira. Não teve corrupção, não teve investimento errado, não teve preço subsidiado.

Debelada a tal conspiração, o governo Lula voltou para refazer exatamente o que deu errado. Colocará algo entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões na Abreu e Lima para deixá-la entre as maiores e mais eficientes do mundo. Mas quem pode acreditar nessas estimativas? Volta também o Comperj. Ainda não falaram nada sobre Maranhão e Ceará. E é melhor nem lembrar.

A Petrobras também não esconde seu objetivo de explorar o petróleo da Margem Equatorial, no litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte. As grandes petroleiras globais continuam explorando óleo. Não investem, porém, no refino, levando em conta as restrições mundiais, já anunciadas, para a produção e comercialização de veículos a combustão. A estatal brasileira vai em todas, óleo e refino, em grande escala.

E o governo ainda se apresenta como campeão da luta contra o aquecimento global, desenvolvedor das energias verdes. Isso também exige investimentos novos. E daí? Lula não quer apenas voltar ao passado. Pretende dobrar a aposta.

O governo americano não tem o menor interesse em acabar com a Petrobras. Ao contrário, topa comprar óleo brasileiro, e as empresas americanas topam ser sócias da brasileira.

Qualquer coisa errada é coisa nossa mesmo.

Carlos Alberto Sardenberg, o autor deste artigo, é Jornalista. Publicado originalmente n'O Globo,em 20.01.24.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

‘Viagem’ de Lula ao passado do PT no governo é um ‘trem-fantasma’ que assombra a oposição

Presidente embarca no ‘túnel do tempo’, ao ressuscitar projetos malsucedidos de gestões anteriores do partido, como a retomada de investimentos na Refinaria Abreu e Lima, e ao tentar revogar tudo o que veio após o impeachment de Dilma, para consertar o estrago causado ao País naquele período

A lista de ações do governo Lula para resgatar projetos malsucedidos no passado parece não ter fim Foto: Ricardo Stuckert/PR

A decisão da Petrobras de investir até R$ 8 bilhões para promover a ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, celebrada de forma entusiasmada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, simboliza com perfeição a viagem no “túnel do tempo” que o atual governo está empreendendo, para ressuscitar um passado que deixou um saldo doloroso para o País.

Como uma espécie de “trem-fantasma”, que assombra a oposição e todos os brasileiros que zelam pela responsabilidade fiscal e acreditam na força do setor privado para conduzir o processo de desenvolvimento, Lula vem tentando retomar, desde o primeiro dia de seu governo, uma série de planos e projetos adotados em gestões anteriores do PT, ancorados na visão estatista que predominou naquele período.

Ao mesmo tempo, ele tem se oposto a tudo o que veio depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, para reequilibrar as finanças públicas e melhorar a governança das estatais, violentadas nos governos petistas, e para tornar mais amigável o ambiente de negócios para os empreendedores.

Do uso de estatais como a Petrobras para tentar impulsionar a fórceps o crescimento econômico às investidas para interferir na gestão de empresas privadas como a Vale; da retomada do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e dos incentivos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) à gastança sem lastro que jogou o País na maior recessão de que se tem notícia em todos os tempos, que prejudicou principalmente os mais pobres, a lista de ações do governo Lula para resgatar projetos malsucedidos do passado parece não ter fim.

Isso sem falar na tentativa de promover um “revogaço” das medidas liberalizantes e de melhoria da gestão pública adotadas nos governos Temer e Bolsonaro, como a autonomia do Banco Central, a Lei das Estatais, o novo marco do saneamento, que tornou mais atraentes a realização de investimentos na área pelo iniciativa privada, e a privatização da Eletrobras. Até a Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), uma empresa criada no segundo mandato de Lula para fabricar circuitos integrados, que estava em processo de extinção e só deu prejuízo desde então, ganhou uma sobrevida na atual gestão.

“O PT e a maioria das lideranças do partido e da esquerda não admitem que as políticas adotadas atrás foram a causa da grande recessão de 2014 a 2016

Como diz o economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, uma escola de negócios, direito e engenharia de São Paulo, Lula, o PT e seus aliados parecem ser incapazes de aprender com seus erros, ignorando os efeitos nefastos que produziram na economia. “O PT e a maioria das lideranças do partido e da esquerda não admitem que as políticas adotadas atrás foram a causa da grande recessão de 2014 a 2016″, afirmou Mendes, em entrevista recente ao Estadão. “Eles acham que tudo estava indo muito bem e que foi a Lava Jato, o processo de impeachment, alguma coisa no campo político que atrapalhou o projeto deles. É natural, portanto, que, ao voltar ao poder, retomem aquelas políticas que eles acreditam que estavam indo bem.”

Em linha com o que diz Mendes, é sintomático que Lula tenha acusado a Lava Jato, sem quaisquer provas, de ter agido em conluio com o governo americano para prejudicar a estatal petrolífera brasileira, no discurso que fez ao anunciar a retomada dos investimentos em Abreu e Lima, um exemplo emblemático da aplicação inadequada de recursos públicos e de corrupção nos governos petistas.

‘Mancomunação’

“Tudo o que aconteceu neste país foi uma mancomunação entre alguns juízes, alguns procuradores subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que nunca aceitou o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”, disse Lula, desconsiderando que os crimes apurados pela Lava Jato jamais foram contestados, apesar dos “problemas processuais” que levaram o STF (Supremo Tribunal Federal) a tirá-lo do xilindró e a anular decisões judiciais tomadas no âmbito da operação, que recuperou cerca de R$ 5 bilhões para os cofres públicos do País.

Em sua ofensiva para ressuscitar as malfadadas políticas do passado, tema de uma reportagem recente do jornal Financial Times, Lula e o PT “se esquecem” também de que, desde que Dilma foi defenestrada pelo Congresso pelas “pedaladas fiscais” que promoveu, numa iniciativa considerada até hoje como um “golpe” pelo partido e por seus apoiadores, o Brasil já não é o mesmo das primeiras administrações petistas.

Hoje, o governo enfrenta dificuldades no Congresso para tocar os seus planos estatizantes, apesar do fisiologismo de boa parte dos parlamentares, que reforça as características perdulárias do presidente. Ainda que avalize o aumento de gastos sem lastro proposto por Lula, a maioria dos parlamentares da atual legislatura é de centro, centro-direita e direita, e não tem se mostrado disposta até agora apoiar o “revogaço” proposto pelo governo.

Foi assim, por exemplo, com as tentativas de revogar o novo marco do saneamento e a medida que liberava o trabalho aos domingos no comércio. Foi assim também com as propostas para rever a autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobras, ventiladas nos bastidores e rejeitadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

Margem de manobra

“A principal reforma que o Congresso brasileiro vai ter que brigar diariamente (para implementar) é a reforma de não deixar retroceder tudo o que já foi aprovado no Brasil no sentido da amplitude do que é mais liberal” afirmou Lira, em maio do ano passado, ao participar de evento em Nova York com lideranças empresarias e investidores estrangeiros.

O problema é que, mesmo assim, o governo ainda tem uma margem de manobra considerável para reviver políticas nocivas, independentemente do aval do Congresso, como no caso do investimento da Petrobras em Abreu e Lima e da possível ida do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o Conselho de Administração da Vale, com o objetivo de interferir nos rumos da empresa.

Investir em refinarias é uma decisão equivocada da Petrobras, diz Adriano Pires

Além disso, o governo aposta no apoio do STF para legitimar sua agenda, com decisões favoráveis a seus pleitos em questões como a privatização da Eletrobras e a revisão da Lei das Estatais, que foram judicializadas pelo PT e por seus aliados, o que pode contribuir para agravar o quadro sinistro que já está se desenhando no horizonte.

Eleito com um discurso voltado para a “pacificação” do País, por um frentão “pela democracia” que incluiu forças que iam da extrema esquerda à centro-direita, Lula até o momento só atuou para reforçar a polarização política e impor a velha agenda estatista do PT à sociedade, como se tivesse vencido as eleições com uma chapa “puro-sangue”.

Forças alienígenas

Sua determinação em ressuscitar planos e projetos do passado e rever medidas adotadas nos governos Temer e Bolsonaro é um aviso inequívoco, para quem ainda tinha alguma dúvida, de que Lula, o PT e seus aliados não estão nem um pouco preocupados com que o que pensam sobre o assunto as forças alienígenas que “fizeram o L” no pleito de 2022.

Pelo que já se vê em pouco mais de um ano de governo, o discurso de campanha de Lula foi apenas isso – discurso de campanha, para enganar os incautos e voltar ao poder. Agora, porém, “a Inês é morta’, como se diz por aí. Aos brasileiros descontentes com os rumos do governo, aí incluídos aqueles que votaram e os que não votaram em Lula, só resta esperar que o Congresso continue a minimizar os danos do flashback do presidente, no que for possível, e se preparar para enfrentar o que seu trem-fantasma nos reserva pela frente.

José Fucs, o autor deste artigo, é repórter especial d'O Estado de S. Paulo. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Pubicado originalmente na edicão em 19.01.24, às 17h05

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Em Davos, super-ricos pedem para pagar mais impostos

Grupo de 250 multimilionários entrega carta a líderes mundiais pedindo que lhes sejam cobrados mais tributos a fim de combater desigualdades e melhorar serviços públicos. Apenas um brasileiro está entre os signatários.

Schweiz Davos | Weltwirtschaftsforum (Foto: Markus Schreiber/AP/picture alliance)

Um grupo de mais de 250 bilionários e milionários divulgou uma carta nesta quarta-feira (17/01) exigindo que a elite política global, reunida nesta semana no Fórum Econômico Mundial de Davos, aumente os impostos sobre suas fortunas, a fim de combater as desigualdades e possibilitar melhoras nos serviços públicos às populações em todo o mundo.

"Estamos surpresos que vocês fracassaram em responder a uma simples pergunta que fazemos há três anos: quando vocês vão taxar a riqueza extrema? Se os representantes eleitos nas principais economias do mundo não adotarem medidas para lidar com o aumento dramático da desigualdade econômica, as consequências continuarão a ser catastróficas para a sociedade", afirma a carta aberta aos líderes mundiais.

"Nós somos as pessoas que investem em startups, moldam os mercados de ações, fazem os negócios crescerem e fomentam o crescimento econômico sustentável. Somos os que mais se beneficiam do status quo. Mas a desigualdade atingiu um ponto de inflexão, e os custos dos riscos à nossa estabilidade econômica, societal e ecológica são graves, e aumentam a cada dia. Em suma, precisamos de ação já." 

Os signatários da carta são pessoas ricas de 17 países, entre os quais estão a herdeira do império Disney, Abigail Disney; o ator e roteirista Simon Pegg; Valerie Rockefeller, herdeira da dinastia de sua família; Ise Bosch, neta do industrial alemão Robert Bosch e o músico e compositor Brian Eno, além do ator da série Succession, Brian Cox.

O único brasileiro na lista é João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia que hoje investe em projetos sociais e colabora com as cooperativas do Movimento dos Sem Terra (MST).

"Queremos ser taxados"

"Nosso pedido é simples. Nós, os muito ricos em nossa sociedade, queremos ser taxados por vocês. Isso não vai alterar fundamentalmente o nosso padrão de vida, tampouco prejudicar nossas crianças ou afetar as economias de nossas nações. Irá transformar a riqueza extrema e improdutiva em investimento em nosso futuro democrático comum", diz o documento.

O grupo quer entregar a carta intitulada Proud to pay ("Orgulhosos em pagar") diretamente aos líderes mundiais reunidos em Davos.

Uma pesquisa recente revela que 74% dos super-ricos apoiam pagar mais impostos sobre suas fortunas para ajudar a combater a crise no custo de vida e melhorar os serviços públicos.

O levantamento realizado pela entidade de pesquisas Survation a pedido do grupo Patriotic Millionaires, dos Estados Unidos, entrevistou mais de 2,3 mil pessoas em 20 países que possuem cada um mais e 1 milhão de dólares (R$ 4,94 milhões) em bens de investimentos, excluindo suas próprias casas – o que os coloca entre os 5% mais ricos do mundo.

Segundo a pesquisa, 58% dos ricos apoiam a criação de uma taxa de 2% sobre os que possuem fortunas de 10 milhões de dólares, sendo que 54% acreditam que a riqueza extrema gera ameaças à democracia.

Aumento das desigualdades

Um relatório da ONG de combate à pobreza Oxfam apresentado em Davos nesta semana revelou que as fortunas dos cinco homens mais ricos do mundo mais do que dobraram desde 2020, enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres.

A Oxfam International afirmou que, somadas, as fortunas das cinco pessoas mais ricas do mundo – Elon Musk (Tesla, SpaceX), Bernard Arnault (LVHM), Jeff Bezos (Amazon), Larry Ellison (Oracle) e o megainvestidor Warren Buffet – aumentaram 114%, o que corresponde a 464 bilhões de dólares (R$ 2,26 trilhões), chegando a 869 bilhões de dólares no ano passado.

Em contrapartida, desde 2020 o poder financeiro de quase 4,77 bilhões de pessoas – ou 60% da população mundial – caiu 0,2% em termos reais. Segundo a entidade, seriam precisos 229 anos para erradicar a pobreza a nível global.

Publicado originalmente por DeutscheWelle Brasil, em 18.01.24

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O liberalismo está abalado, mas ainda não quebrado

Liberais compartilham a confiança de que seres humanos podem decidir as coisas por si mesmos

A ideia central da democracia —de que os governos são responsáveis perante os governados— ainda é valorizada em grande parte do mundo. De que outra forma explicar o fato de que mais da metade da população mundial vai votar este ano?

No entanto, o mundo também tem passado por uma "recessão democrática", como Larry Diamond, da Universidade Stanford, chama, há quase duas décadas.

O poder da autocrática China tem aumentado. Vladimir Putin sufocou a democracia na Rússia. O autoritarismo está triunfando em muitos países. A reeleição de Donald Trump, após sua tentativa de derrubar o resultado da última eleição presidencial dos Estados Unidos, também seria uma mudança decisiva na democracia mais influente do mundo.

No entanto, o que está acontecendo não é principalmente uma perda de confiança nas eleições em si. Afinal, os autoritários frequentemente usam as eleições para consagrar seu poder.

Como Francis Fukuyama argumenta em seu livro recente, "Liberalismo e seus Descontentamentos", "as instituições liberais que estão sob ataque imediato".

Ele está se referindo aqui às instituições centrais —tribunais, burocracias não partidárias e mídia independente. Estamos vendo uma perda de confiança no liberalismo, o conjunto de crenças que pareciam tão triunfantes após a queda da União Soviética.

Afinal, o que é o liberalismo? Escrevi sobre isso em uma coluna publicada em 2019, em resposta a uma afirmação de Putin de que "a chamada ideia liberal já cumpriu seu propósito".

O liberalismo, argumentei, não é o que os americanos geralmente pensam que é, porque a história de seu país é única. O que os liberais compartilham é a confiança nos seres humanos para decidir as coisas por si mesmos. Isso implica o direito de fazer seus próprios planos, expressar suas próprias opiniões e participar da vida pública.

Essa capacidade de exercer agência depende da posse de direitos econômicos e políticos. São necessárias instituições para proteger esses direitos.

Mas essa agência também depende de mercados para coordenar os agentes econômicos, mídia livre para debater a verdade e partidos políticos para organizar a política.

Por trás dessas instituições estão valores e normas de comportamento —um senso de cidadania; crença na necessidade de tolerar aqueles que diferem de si mesmo; e a distinção entre ganho privado e propósito público, necessária para conter a corrupção.

O liberalismo é uma atitude, não uma filosofia completa do mundo. Ele reconhece conflitos e escolhas inevitáveis. É ao mesmo tempo universal e particular, idealista e pragmático. Ele reconhece que não pode haver respostas finais para a pergunta de como os seres humanos devem viver juntos. No entanto, ainda existem princípios centrais.

Sociedades baseadas em princípios liberais são as mais bem-sucedidas na história mundial. Mas tanto elas quanto suas ideias estão em disputa.

Como observou o Centre for the Future of Democracy [Centro para o Futuro da Democracia] em um relatório publicado no final de 2022, a invasão da Rússia galvanizou o apoio à Ucrânia entre as democracias liberais ocidentais. Mas o oposto aconteceu em grande parte do resto do mundo.

"Como resultado, China e Rússia estão agora ligeiramente à frente dos EUA em sua popularidade entre os países em desenvolvimento." Isso certamente é preocupante. Além disso, acrescenta, com base em pesquisas que abrangem 97% da população mundial, isso "não pode ser reduzido a interesses econômicos simples ou conveniência geopolítica".

"Pelo contrário, segue uma clara divisão política e ideológica. Em todo o mundo, os melhores preditores de como as sociedades se alinham são seus valores e instituições fundamentais —incluindo crenças na liberdade de expressão, escolha pessoal e o grau em que as instituições democráticas são praticadas e percebidas como legítimas", afirma o relatório.

Uma maneira interessante de analisar isso é fornecida pelo "Mapa Cultural Inglehart-Welzel", da World Values Survey. Ele mapeia valores em dois eixos: um mostra o foco na "autoexpressão" em relação à "sobrevivência", o outro mostra o foco em valores "seculares" em relação a valores "tradicionais".

Notavelmente, diferentes regiões do mundo estão em lugares muito diferentes. O destaque na autoexpressão (um valor liberal central) é relativamente alto na Europa Ocidental e nos países de língua inglesa, com os países africanos-islâmicos no extremo oposto.

Curiosamente, as sociedades "confucianas" têm maior ênfase em valores seculares, em oposição a valores tradicionais, do que os EUA. O ponto principal, no entanto, é que as diferenças de valores são profundas.

Alguns aspectos do liberalismo —como mercados livres, por exemplo— viajam com bastante facilidade, mas outros —como a mudança de normas de gênero, por exemplo–, não.

No entanto, a resistência ao liberalismo é evidente não apenas no exterior. Também é doméstica. Fukuyama destaca, por exemplo, como a esquerda progressista e a direita reacionária concordam com a centralidade das identidades de grupo na política dos EUA.

Eles concordam também que suas diferenças são sobre quais grupos detêm o poder, em vez de como criar as melhores oportunidades iguais para os indivíduos. Mas os conflitos de poder são um jogo de soma zero.

Além disso, a esquerda "progressista" parece ter esquecido que, em uma guerra de identidades, as minorias quase certamente perderão. Por que esses ativistas não conseguem entender esse ponto óbvio?

Com o liberalismo em xeque não apenas em todo o mundo, mas até mesmo em seus redutos, é fácil acreditar que o futuro está nas políticas autoritárias e nos valores sociais tradicionais. Se assim for, este século pode ecoar o anterior, embora sem o fervor revolucionário daquela época.

O apelo do "grande líder" que assumirá tudo para si mesmo parece eterno. Também são eternos os confortos do tribalismo, das hierarquias tradicionais e das verdades antigas. Também é eterno o carisma do profeta revolucionário que promete transformar a sociedade para melhor. Conflitos sobre poder e modos de vida são inevitáveis.

Além disso, a liberdade sempre significará escolhas difíceis. Ela é necessariamente limitada. Significa responsabilidade, ansiedade e insegurança. No entanto, a liberdade é preciosa. Ela deve ser defendida, por mais difícil que seja essa tarefa.

Martin Wolf, o autor deste artigo, é comentarista-chefe de economia no Financial Times, de Londres-UK e doutor em economia pela London School of Economics. Publicado no Brasil pela Folha de S. Paulo, online, em 09.01.24, às 19,30 hrs.

Lula, o presidente Sol

A julgar pelo discurso do presidente a propósito do 8 de Janeiro, o Brasil gira em torno do lulopetismo, aquele que, nas palavras de seu líder, é a ‘garantia’ da democracia nacional

Não há mais dúvida: o Brasil gira em torno de Lula. Esse arremedo de Luís 14 considera que a história dele e a do PT são a “garantia”, segundo suas próprias palavras, de que a democracia brasileira existirá “inabalável” no País.

O demiurgo petista detalhou sua teoria lulocêntrica perto do final de seu discurso por ocasião do evento de anteontem, em Brasília, que lembrou o primeiro aniversário da tentativa de golpe de Estado promovida por hordas bolsonaristas.

Era para ser um pronunciamento adequado ao momento solene – no qual era preciso enfatizar o papel das instituições na resistência à barbárie dos liberticidas que, insuflados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, pretendiam criar o caos a partir do qual, conforme seus delírios, produzir-se-iam uma ruptura e o estabelecimento de um regime de exceção liderado por tiranetes bolsonaristas.

Lula até que salientou, corretamente, “a coragem de parlamentares, governadores e governadoras, ministros e ministras da Suprema Corte, ministros e ministras de Estado, militares legalistas e, sobretudo, da maioria do povo brasileiro” naquele dia infame.

No entanto, em vez de ater-se ao script à sua frente, cujo tom, malgrado alguns exageros retóricos, parecia no geral correto, Lula foi fiel à sua vocação palanqueira e transformou aquela cerimônia de defesa da democracia em comício para atacar seus adversários e louvar a si mesmo e a seu partido – exatamente como previam os vários governadores de oposição que, por essa razão, se recusaram a comparecer.

Lula chamou Bolsonaro de “golpista” e fez diversas insinuações de malfeitos do ex-presidente. No trecho do discurso em que claramente estava improvisando – e, portanto, foi mais autêntico –, Lula chegou a sugerir que os três filhos de Bolsonaro que se elegeram para cargos políticos renunciassem a seus mandatos em protesto contra as urnas eletrônicas, que, dizem os extremistas bolsonaristas, foram fraudadas para impedir a reeleição do ex-capitão.

Ora, não era isso o que se esperava do estadista que Lula julga ser. Nem se discute que a cantilena bolsonarista contra a lisura das urnas eletrônicas era e é profundamente antidemocrática, como já dissemos repetidas vezes neste espaço, mas Lula, na condição de presidente da República e sendo o principal orador de um evento voltado à celebração da democracia e à pacificação nacional, deveria ter se limitado a louvar a manutenção do regime de liberdade e de respeito à lei.

Mas a natureza é implacável. Lula não conhece outra língua senão a do enfrentamento. Aproveita todo e cada momento para estimular o rancor contra aqueles que considera seus inimigos, o que é particularmente inapropriado no momento em que as autoridades públicas, sobretudo o presidente da República, têm o dever de esfriar os ânimos e buscar convergências.

No mesmo fôlego em que atacou duramente seus adversários políticos numa cerimônia supostamente apolítica, Lula foi capaz de declarar que a democracia brasileira viceja, vejam só, porque ele e o PT existem. “Eu queria dizer para vocês, e sobretudo aos companheiros da Suprema Corte e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral: quando alguém colocar dúvidas sobre a democracia no Brasil, seria importante que vocês não tivessem receio de utilizar a minha história e a história do meu partido como garantia da existência inabalável da democracia neste país”.

Mais autorreferente do que nunca, o presidente mostra que nada aprendeu com os fatos recentes. Se a democracia resistiu ao 8 de Janeiro, foi em razão da força de suas instituições, testadas até o limite nos últimos anos, e da união da sociedade, que ignorou suas diferenças para derrotar um de seus maiores inimigos. O mérito é de muitos, inclusive de alguns que se ausentaram ou que não se sentiram representados no evento comemorativo.

É realmente lamentável que uma data que tinha tudo para se firmar como uma efeméride relevante para a democracia brasileira tenha sido convertida por Lula em uma festa em louvor a si mesmo e à companheirada. Do mesmo modo que Bolsonaro tentou sequestrar o 7 de Setembro, Lula quer se apropriar do 8 de Janeiro. Se depender dos verdadeiros democratas, não conseguirá.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S. Paulo, em 10.01.24

sábado, 30 de dezembro de 2023

Os desafios para Lula em 2024

Maior dificuldade virá da gestão das contas públicas, essencial para ditar a expectativa de investidores e agentes econômicos

Presidente Lula e Nicolás Maduro Presidente da Venezuela — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Se 2023 foi o ano da preservação da democracia, de bons resultados na economia e da aprovação da reforma tributária, 2024 exigirá do governo Lula maior capacidade de negociar com os demais Poderes e de apresentar soluções contemporâneas para problemas complexos. Isso demandará mais competência para atingir, por meio de projetos e políticas públicas, os setores da sociedade ainda impermeáveis a seu programa.

O maior desafio será a gestão das contas públicas, essencial para pautar as expectativas de investidores e agentes econômicos. É uma contradição perigosa o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentar sucessivas medidas, como as anunciadas ontem, para corrigir o que ele considera distorções em termos de benefícios tributários e de outra natureza a empresas e setores inteiros da economia, enquanto Congresso, Judiciário e o próprio governo elevam seus gastos sem limites.

Também parece uma aposta arriscada do ministro esperar os últimos dias do ano para anunciar uma Medida Provisória para revogar uma lei aprovada pelo Congresso que havia sido vetada pelo presidente e restaurada pelos parlamentares, por meio da derrubada do veto.

Esse “pôquer interminável” com o Legislativo só traz desgastes. Ao longo de 2023, viu-se que o Executivo não dispõe de uma articulação política azeitada o suficiente, a despeito da grande nominata de partidos que em tese integram a coalizão de Lula, para comprar brigas com o Congresso.

Isso só elevará a dependência já considerável em relação ao Judiciário, especificamente ao Supremo Tribunal Federal. Depois não adianta reclamar de excessiva “judicialização”, ou de busca por “protagonismo” ou de “ativismo” da Corte. Essa é outra das questões desbalanceadas que precisam ser calibradas no ano que vem para o bem da harmonia dos entes republicanos.

Mais uma contradição evidente precisará ser equacionada, sob pena de o presidente ver mais arranhões em sua tão cara imagem de líder global: a que existe entre um país que quer ser vanguarda no combate à emergência climática e na preservação ambiental e o que está de olho na nova fronteira petrolífera. Lula se esquivou de arbitrar a disputa ao longo do primeiro ano, mas algum desfecho terá forçosamente de ser dado ao embate entre setores do próprio governo nos próximos meses.

Outra questão em que o Planalto ficou devendo neste primeiro quarto de mandato, e, certamente, responsável por manter em níveis bem parcimoniosos a popularidade do presidente outrora chamado “o cara”, são as posições em política externa.

O endosso incondicional a Nicolás Maduro não foi consenso nem entre os integrantes do Mercosul e forneceu matéria-prima farta para a narrativa da extrema direita bolsonarista, contraponto que eles não poderiam esperar melhor ao desgaste do 8 de Janeiro, das joias sauditas, da inelegibilidade de Bolsonaro e de outros reveses.

Nessa mesma linha, a dubiedade de Lula, que arrastou em algumas ocasiões o próprio Itamaraty, em relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia e ao conflito israelo-palestino também turvou a tentativa de, logo de cara, mostrar ao mundo que o Brasil “voltou” ao tabuleiro geopolítico como um ator importante. Será preciso calibrar o discurso e evitar que o presidente, com uma retórica muitas vezes não combinada com a diplomacia profissional, crie embaraços ao país.

Por fim, Lula parece carente de um mote que seja capaz de realmente unir o país. Se parece impossível atingir as franjas mais radicalizadas, ao menos fazer com que se atinjam maiores fatias do eleitorado urbano. Para isso, um posicionamento inteligente nas eleições, que minimize disputas dentro da própria base capazes de fortalecer a oposição, parece crucial. Mas não é algo, pelo que se vê, de que muita gente esteja cuidando com zelo.

Vera Magalhães, a autora deste artigo, é Jornalista. Publicado n'O Globo, em 29.12.23

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

10 sintomas do câncer que podem passar despercebidos

A maioria das pessoas, quando ouve a palavra câncer, associa o termo a uma doença perigosa com resultado fatal.


As chances de superar o câncer são muito altas se ele for diagnosticado precocemente. (Getty Images)

Mas desde a década de 1970, a taxa de sobrevivência triplicou, sobretudo graças ao diagnóstico precoce.

Na realidade, a maioria dos tumores são tratáveis ​​com um resultado favorável para o paciente quando são diagnosticados antes de chegarem a um quadro avançado.

O problema é que, muitas vezes, por não querermos ir ao médico ou por não lhe darmos a devida importância, ignoramos alguns sintomas que podem ser cruciais para um diagnóstico precoce.

Segundo um estudo realizado pela organização Cancer Research UK, no Reino Unido, mais de metade dos britânicos já sofreu algum dos sintomas que poderiam indicar a presença de um câncer, mas apenas 2% pensavam que poderiam ter a doença e mais de um terço completamente ignorou os alarmes e não foi ao médico.

Katriina Whitaker, pesquisadora da University College London e principal autora da pesquisa, falou à BBC sobre a importância de ir ao médico.

“Há quem pense que não deveríamos encorajar as pessoas a serem hipocondríacas, mas temos um problema com indivíduos que não vão ao médico porque acreditam que estão desperdiçando seu tempo e usando inutilmente os recursos do sistema de saúde".

“Temos que transmitir a mensagem de que se você tiver sintomas que não desaparecem, especialmente aqueles que são considerados sinais de alerta, você não deve ignorá-los, deve ir ao médico e procurar ajuda”, diz.

A BBC News Mundo, serviço em língua espanhola da BBC, compilou uma lista com 10 sintomas gerais de câncer que, segundo a American Cancer Society, você não deveria ignorar.

O diagnóstico precoce pode impedir que o câncer se espalhe para o resto do corpo. (Getty Images)

1. Perda de peso inexplicável

A maioria das pessoas com câncer experimenta perda de peso em algum momento.

Quando você emagrece sem motivo aparente, isso é chamado de perda de peso inexplicável.

Uma perda de 5kg ou mais pode ser o primeiro sinal de câncer.

Isso ocorre com mais frequência no caso de câncer de pâncreas, estômago, esôfago e pulmão.

2. Febre

A febre é muito comum em pacientes com câncer, embora ocorra com mais frequência depois que o câncer se espalhou desde o local de origem.

A febre afetará quase todas as pessoas com câncer especialmente se a doença ou seus tratamentos afetarem o sistema imunológico.

Com menos frequência, a febre pode ser um sinal precoce de câncer, como leucemia ou linfoma.

3. Cansaço

A fadiga é uma exaustão extrema que não melhora com o repouso. Pode ser um sintoma importante à medida que o câncer progride.

No entanto, em alguns tipos de câncer, como a leucemia, pode ocorrer cansaço no início.

Alguns tipos de câncer de cólon ou estômago podem causar perda de sangue anormal.

Esta é outra forma pela qual o câncer pode causar cansaço.

A febre constante é um sintoma a se ficar atento (Getty Images)

4. Alterações na pele

Junto com os cânceres de pele, alguns outros tipos de câncer podem causar alterações visíveis na pele.

Esses sinais e sintomas incluem: escurecimento da pele (hiperpigmentação), pele e olhos amarelados (icterícia), vermelhidão (eritema), comichão (prurido), além do crescimento excessivo de pêlos.

5. Mudanças nas funções da bexiga e do cólon

Constipação, diarreia ou alteração no tamanho das fezes por um longo período podem ser um sinal de câncer de cólon.

Por outro lado, dor ao urinar, sangue na urina ou alterações na função da bexiga (como urinar com mais ou menos frequência) podem estar relacionadas ao câncer de bexiga ou de próstata.

6. Feridas que não cicatrizam

Muitas pessoas sabem que manchas que crescem, doem ou sangram podem ser sintomas de câncer de pele, mas também devemos estar atentos a pequenas feridas que não cicatrizam por mais de quatro semanas.

Uma ferida na boca que não cicatriza pode ser causada por câncer bucal.

Qualquer alteração na boca que perdure por muito tempo deve ser examinada imediatamente por um médico ou dentista.

Feridas no pênis ou na vagina podem ser sinais de infecção ou câncer em estágio inicial e devem ser examinadas por um profissional de saúde.

Mulher sendo atendida por profissional de saúde (Getty Images)

7. Sangramento

Sangramento incomum pode ocorrer com câncer em estágio inicial ou avançado.

Tossir sangue pode ser um sinal de câncer de pulmão.

Por outro lado, se aparecer sangue nas fezes (que podem ser de cor muito escura), pode ser um sinal de câncer de cólon ou câncer de reto.

O câncer cervical do endométrio (revestimento do útero) pode causar sangramento vaginal anormal.

Além disso, sangue na urina pode ser um sinal de câncer de bexiga ou rim.

Uma secreção com sangue no mamilo pode ser um sinal de câncer de mama.

8. Rigidez ou caroços em qualquer parte do corpo

Muitos tipos de câncer podem ser sentidos na pele.

Esses cânceres ocorrem principalmente nas mamas, testículos, gânglios linfáticos (glândulas) e tecidos moles do corpo.

Um caroço ou rigidez pode ser um sinal precoce ou tardio de câncer.

9. Dificuldade para engolir

Indigestão persistente ou dificuldade para engolir podem ser sinais de câncer de esôfago (o tubo de deglutição que leva ao estômago), estômago ou faringe (garganta).

No entanto, como a maioria dos sintomas desta lista, muitas vezes são causados ​​por outras causas além do câncer.

10. Tosse ou rouquidão persistente

Uma tosse persistente pode ser um sinal de câncer de pulmão.

É aconselhável consultar um médico após a terceira semana de tosse.

Já a rouquidão pode ser um sinal de câncer na laringe ou na glândula tireoide.

BBC News, em 10.09.23