sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Cantanhede: Militares podem até lucrar com Bolsonaro, mas o ônus para as Forças Armadas é imenso

No caso do ministro Eduardo Pazuello, todo atrapalhado e respondendo à PF, ao MP e ao Congresso, o risco é um general da ativa no foco de uma CPI da Pandemia  

A conta do mergulho na política e da adesão ao candidato e agora presidente Jair Bolsonaro começa a chegar para as Forças Armadas, obrigadas a explicar milhões de reais em chiclete e leite condensado e agora a defender seus churrascos em 2020, com 700 mil quilos de picanha e, como ninguém é de ferro, 80 mil cervejas puro malte. O preço foi bem salgado, R$84,14 o quilo da carne, R$ 9,80 cada cervejinha.

Também é desanimador os hospitais do Exército e da Aeronáutica bloquearem só para militares e deixarem vazios 72% (84 de 116) dos seus leitos no Amazonas, segundo o UOL, enquanto 276 pacientes de Covid aguardavam vagas ontem e 529 tiveram de ser “exportados” para outros Estados e o DF desde 15 de janeiro. Leito vazio? Pago com dinheiro público, mas só para militares? Coisa feia!

Militares brasileiros na Base Aérea de Brasília embarcando para o Haiti em 2004  Foto: Sergio Dutti/AE

O vice Hamilton Mourão anunciou que a Operação Verde Brasil 2, prevista para até 2022, vai acabar em 30 de abril, com a retirada de militares das ações contra queimadas e desmatamentos na Amazônia. Com a volta desses contingentes às suas bases, serão mantidas as montanhas de chiclete e leite condensado? E as carnes nobres e o puro malte são para quem?

A sensação é de que a retirada foi uma puxada de tapete em Mourão. Indagado se foi um pedido (ou retaliação?) de Bolsonaro, Defesa e ou Comando do Exército, ele respondeu à coluna: “Fim da missão, apenas isso”. E, assim, após pisoteados pela “boiada” do ministro Ricardo Salles, o Ibama e o ICMBio, atualmente cheios de militares, vão retomar a dianteira na proteção da Amazônia, com Inpe, Polícia Federal e Polícia Rodoviária.

Não é exclusivo do Meio Ambiente, porque o capitão Bolsonaro levou generais para a Vice e todos os cargos relevantes do Planalto, expôs um general da ativa a vexame público na Saúde numa pandemia e encheu diferentes pastas – até a pobre Secretaria de Cultura – com militares. Toma lá, dá cá de cargos com político não podia, mas com militar e agora com Centrão é uma festa.

O resultado nem sempre é engrandecedor para as FA, particularmente para o Exército, como no caso do ministro Eduardo Pazuello, todo atrapalhado e respondendo à PF, ao MP e ao Congresso por falta de oxigênio e vacinas, excesso de cloroquina inútil, descaso com seringas, agulhas e testes de Covid. O risco é um general da ativa no foco de uma CPI da Pandemia (que pode chegar até aos 73 mil militares que receberam ilegalmente o auxílio emergencial).

Pazuello gosta de cantar de galo e o secretário-geral da Saúde, coronel Elcio Franco, entrou de mau jeito na guerra política de Bolsonaro com João Doria. Quando o governador anunciou a vacinação em janeiro, o militar chamou de “devaneio” e o acusou de “estar sonhando acordado”. E ainda ensinou: “Não será com discursos de ódio ou tendenciosos que serão encontradas soluções”. Pois é...

Em meio à confusão, vem aí um livro-entrevista em que o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas confirma que o Alto Comando participou diretamente da advertência (ou ameaça) que ele fez ao Supremo, em 2018, na véspera do julgamento de um habeas corpus contra a prisão do ex-presidente Lula.

Por essas e outras, as Forças Armadas são suspeitas de atuar politicamente para tirar Lula do páreo e dar a vitória a um capitão que dá poder a generais e empregos e reformas (previdenciária e administrativa) diferenciadas para militares, enquanto discursa num ato golpista com o QG do Exército ao fundo e sobrevoa outro em helicóptero militar e com o ministro da Defesa, general de quatro estrelas.

Bolsonaro lucra muito com essa parceria, mas o ônus de médio e longo prazos para as Forças Armadas, inclusive para sua imagem, tende a ser muito maior do que o bônus fugaz para dez, cem ou milhares de seus integrantes. A História dirá.

Eliane Cantanhêde é colunista do jornal O Estado de São Paulo. Este artigo foi publicado originalmente na edição de 12 de fevereiro de 2021.

Oposição autofágica

Os partidos com potencial para construir uma alternativa ao mesmo tempo viável e responsável para derrotar Jair Bolsonaro parecem perdidos

A confortável vitória dos candidatos governistas ao comando do Congresso parece ter tido o condão de pôr a nu as profundas divergências internas em partidos que teoricamente serviriam de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Nem é preciso dizer o mal que essa autofagia oposicionista faz ao País, justamente no momento em que se faz mais necessário um obstáculo político sólido à razia bolsonarista.

O mais recente entrevero se deu no PSDB, protagonizado pelo governador de São Paulo, João Doria, e pelo deputado federal Aécio Neves. O parlamentar, ex-presidente da sigla, acusa o governador de oportunismo e autoritarismo por, segundo ele, tentar impor sua candidatura à Presidência na eleição de 2022.

Em nota duríssima, Aécio Neves não deixou dúvida sobre o mal-estar: “Se o senhor João Doria, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do inesquecível Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido”.

O governador Doria respondeu no mesmo tom, lembrando que o deputado é suspeito de corrupção no escândalo estrelado pelo empresário Joesley Batista, em 2017: “O deputado Aécio Neves precisa entender que o novo PSDB não pode se subordinar a projetos pessoais, que se perderam pela conduta inapropriada em relação à ética pública”.

O fulcro da querela é o papel do PSDB ante o governo Bolsonaro. O governador paulista trabalha para isolar os focos bolsonaristas no partido e identificou no deputado Aécio Neves um dos tucanos que operaram pela candidatura vitoriosa do deputado Arthur Lira, apoiado por Bolsonaro, à presidência da Câmara. Doria quer a presidência do PSDB para consolidar sua candidatura à Presidência da República, que seria, em sua visão, a vanguarda da oposição de centro a Bolsonaro.

A acrimônia do atrito entre os tucanos já havia se verificado, em igual medida, na implosão do DEM, provocada pelo dissídio entre o presidente do partido, ACM Neto, e o deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara. Rodrigo Maia acusou ACM Neto de “traição” por ter entregado o DEM “de bandeja” a Bolsonaro, trabalhando para que o partido fosse “anexado” ao governo. Em resposta, ACM Neto chamou Maia de “descontrolado”.

A exemplo dos tucanos, o busílis é a atitude que o DEM deveria adotar em relação ao governo Bolsonaro. Enquanto Rodrigo Maia presidia a Câmara e, nessa função, parecia ter grande influência no partido, o DEM era tido como pilar de uma possível frente de centro, junto com o PSDB, para desafiar Bolsonaro em 2022. Derrotado fragorosamente em sua sucessão, Maia foi atropelado – e o DEM retomou um papel que parecia esquecido no passado.

No que diz respeito aos interesses maiores do País, é ocioso discutir quem tem razão no meio desse banzé. O que importa é que os partidos com potencial para construir uma alternativa ao mesmo tempo viável para derrotar Bolsonaro e responsável o bastante para construir um projeto civilizado de País parecem perdidos. Nessa toada, o eleitor pode se ver novamente diante da terrível tarefa de escolher entre a delinquência bolsonarista e o embuste lulopetista.

Rusgas internas não são necessariamente sintomas de fragilidade de um partido. Ao contrário, partidos dignos do nome costumam consolidar suas bandeiras a partir de francos debates internos. Mas o que está acontecendo no DEM e no PSDB é de outra natureza: trata-se do desdobramento natural da crise de identidade que tomou de assalto o centro democrático desde a ascensão irresistível do imoral populismo lulopetista e de seu congênere, a demagogia brucutu bolsonarista.

Pode até ser que, em meio a essa depuração a céu aberto, as forças que deveriam estar na oposição consigam se reorganizar em bases mais firmes e coerentes que as atuais. Hoje, contudo, é preciso candura excessiva para apostar nisso; o mais provável é que a maior oposição a Bolsonaro continue a ser seu próprio desgoverno.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2021

Bolsonaro nomeia deputado João Roma, do Republicanos, como novo ministro da Cidadania

Onyx Lorenzoni foi deslocado para a Secretaria Geral da Presidência na primeira fase da reforma ministerial
 
O deputado João Roma (Republicanos-BA) foi escolhido como novo ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro. O parlamentar assume a vaga deixada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que foi deslocado para a Secretaria Geral da Presidência, numa primeira fase da reforma ministerial. A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União nesta sexta-feira, 12.

Roma, de 48 anos, venceu uma espécie de corrida interna no partido, que também avaliava para o Ministério da Cidadania os deputados Márcio Marinho (RJ) e Jhonatan de Jesus (RR). Ele foi escolhido por ter maior experiência em gestão pública e pela capacidade de articulação nos bastidores. Nos anos 1990 e 2000, passou por cargos de confiança nos governos de Pernambuco, Ministério da Administração, Ministério da Cultura e Agência Nacional de Petróleo (ANP).


João Roma é o novo ministro da Cidadania Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados - 2/7/2020

Antes de ser deputado, João Roma foi chefe de gabinete na prefeitura de Salvador, durante a administração de ACM Neto, presidente do Democratas. Em cinco anos no cargo, era considerado um dos homens fortes da gestão de ACM Neto e teve seu apoio para disputar o primeiro mandato de deputado federal, eleito em 2018. Por causa da crise no DEM, o ex-prefeito apelou para que Roma não aceitasse a indicação, mas o deputado ponderou que tinha aspirações pessoais e que sua indicação fazia parte de um acordo partidário do Republicanos com o Palácio do Planalto.

Em uma conversa recente com a cúpula de seu partido, Roma foi aconselhado a “cortar o cordão umbilical” com ACM Neto. A direção do Republicanos estava incomodada e via na tentativa de barrar Roma uma questão de vaidade do ex-prefeito de Salvador, que veria o “pupilo” assumir um cargo que nunca ele mesmo ocupou e em voo próprio, sem ser pelas suas mãos. Bolsonaro já havia definido a escolha. O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a telefonar ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), para relatar sobre a interferência do presidente do DEM.

Roma é católico, embora o partido seja um dos mais fortes na bancada evangélica e tenha vínculos com a Igreja Universal do Reino de Deus. O deputado é formado em Direito. Nascido em Recife (PE), é casado e tem dois filhos. Ele foi filiado ao antigo PFL, no qual militou na juventude. É neto do ex-deputado federal por três mandatos João Roma (PE), de quem herdou o nome. Nos anos 1960, o avô foi filiado ao PSD e à Arena, partido de sustentação do regime militar - ele deixaria a secretaria-geral da Arena em 1968, em discordância com o Ato Institucional Número 5 (AI-5). 

O ingresso do Republicanos no primeiro escalão de Bolsonaro é a primeira “entrega” a partidos do bloco do Centrão que apoiaram a eleição de Arthur Lira (Progressistas-AL) como presidente da Câmara dos Deputados. A costura foi realizada por Pereira, presidente nacional do Republicanos, que deixou o grupo do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ), em que era um dos nomes cotados para a disputa, para aderir à campanha do candidato do Palácio do Planalto. 

O movimento do Republicanos e de outras siglas em favor de Lira ocorreu após o governo distribuir recursos e cargos para que deputados apoiassem seus candidatos ao comando do Congresso. O Estadão revelou que apenas do Ministério do Desenvolvimento Social foram repassados R$ 3 bilhões.

Pereira se reuniu com Bolsonaro na terça-feira, dia 9, para tratar da autonomia do Banco Central, pauta conduzida por outro deputado da bancada, Silvio Costa Filho (PE).

O acordo para dar mais espaço ao Republicanos, partido conservador, vinha sendo construído numa aproximação desde o ano passado. Dois filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador no Rio Carlos Bolsonaro ingressaram no partido. O partido também indicou, no ano passado, o presidente da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) José Samuel de Miranda Melo Júnior.

Fundado com apoio de bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos nasceu durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva e apoiou os governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Políticos filiados ao partido foram ministros da Pesca, do Esporte e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Tia Eron

O licenciamento de Roma para assumir o ministério da Cidadania abrirá uma nova vaga ao Republicanos na Câmara. A suplente imediata é a ex-deputada Tia Eron (BA). Ela foi secretária nacional de Políticas para as Mulheres em 2019, tendo sido demitida pela ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Tia Eron foi secretária de Promoção Social e Combate à Pobreza na prefeitura de Salvador, durante a gestão de ACM Neto. Na Câmara, notabilizou-se em 2016 por dar um voto, no Conselho de Ética, que abriu caminho para a cassação do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ). O ex-presidente da Câmara foi preso e condenado na Operação Lava Jato.

Felipe Frazão, O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2021, Atualizado 12 de fevereiro de 2021 | 19h46

Após DEM indicar apoio a Bolsonaro, Mandetta pede reunião com cúpula do partido

Ex-ministro da Saúde deixou governo após atritos com o presidente na condução da pandemia de covid-19

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta se reunirá nos próximos dias com o presidente do DEM, ACM Neto, para decidir se continua ou não na sigla. O encontro está marcado para a última semana de fevereiro.

O médico sul-mato-grossense se irritou com ACM Neto depois que o ex-prefeito de Salvador incluiu o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, entre as opções do partido para 2022.

“A base do partido virou uma geleia. ‘Posso estar com Doria, Bolsonaro, Mandetta, Huck ou Ciro’. Daqui a pouco até Lula vai aparecer como cotado para receber o apoio”, disse Mandetta no começo da semana.

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; médico é cotado como presidenciável em 2022 Foto: Dida Sampaio/Estadão

Primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro, Mandetta deixou o governo em abril de 2020 depois de um mês de atritos com o presidente da República sobre como enfrentar a pandemia da covid-19. 

Meses depois de deixar o ministério, o médico disse que o comportamento de Bolsonaro durante a pandemia contribuiu para elevar o número de mortes no país. Até agora, mais de 230 mil brasileiros foram vitimados pela doença, segundo dados oficiais.

“Nós ainda não confirmamos quando vai acontecer, mas já sinalizamos uma conversa. Sem ser essa semana, a partir da outra. Ainda sem local ou data, mas ainda este mês, para tratar sobre o presente e o futuro”, disse ACM Neto ao Estadão.

“É natural que aconteça esse papo aí nos próximos dias, ainda este mês. Mas não é uma reunião formal do partido. É um bate-papo dele comigo e algumas pessoas (do DEM)”, afirmou o ex-prefeito de Salvador. 

A reportagem apurou que devem estar presentes o ex-governador do Rio Grande do Norte José Agripino Maia e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho, entre outros. 

O Estadão questionou ACM Neto e Mendonça Filho sobre qual caminho deverá ser seguido por Mandetta, mas ambos evitaram comentar. A possibilidade de o ex-ministro deixar o DEM, acompanhando a provável saída do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), é debatida nos bastidores. No caminho inverso, uma outra hipótese em discussão é a da sigla lançar Mandetta como pré-candidato à presidência da República. 

Maia e Mandetta reclamaram publicamente da aproximação do DEM com o governo Bolsonaro durante a eleição para a presidência da Câmara, quando o partido abandonou a aliança de Baleia Rossi (MDB-SP), favorecendo o candidato do Palácio do Planalto, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Depois de deixar o cargo de ministro, Mandetta passou a ver seu nome incluído em pesquisas de intenção de voto para 2022. No fim de janeiro, pesquisa Atlas mostrou o médico com 3,4% das intenções de voto, porcentual próximo daquele obtido pelo governador tucano de São Paulo, João Doria (3,6%), e maior que o apresentador Luciano Huck (1,9%). 

Bancada do DEM não tem disposição de seguir Maia, diz ACM Neto

O ex-prefeito de Salvador também comentou o levantamento do Estadão com a bancada do DEM na Câmara. A reportagem mostrou que dos 22 deputados que responderam às perguntas, só dois – Alexandre Leite (SP) e Kim Kataguiri (SP) – descartaram apoiar Bolsonaro em 2022. Um discurso que contraria o que Neto teria dito a Doria nesta semana, quando garantiu ao tucano que o DEM não estará com o atual ocupante do Planalto na próxima disputa presidencial.

André Shalders, O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2021

Brasil registra 1.204 mortes por Covid em 24 horas; total vai a 237,6 mil

País contabilizou 9.765.694 casos e 237.601 óbitos por Covid-19 desde o início da pandemia, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa. Já são 23 dias com a média móvel de mortes acima da marca de 1 mil.

O consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h desta sexta-feira (12).

O país registrou 1.204 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 237.601 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 1.068. Já são 23 dias com essa média acima da marca de 1 mil. A variação foi de 0% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de estabilidade nos óbitos pela doença.

Em casos confirmados, desde o começo da pandemia 9.765.694 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 49.396 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 45.229 novos diagnósticos por dia. Isso representa uma variação de -12% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de estabilidade nos diagnósticos.

Dez estados estão com alta nas mortes: MG, GO, AC, PA, RO, RR, TO, BA, MA e RN.

O estado do Ceará não divulgou novos dados até as 20h desta sexta-feira.


Brasil, 12 de fevereiro

Total de mortes: 237.601

Registro de mortes em 24 horas: 1.204

Média de novas mortes nos últimos 7 dias: 1.068 (variação em 14 dias: 0%)

Total de casos confirmados: 9.765.694

Registro de casos confirmados em 24 horas: 49.396

Média de novos casos nos últimos 7 dias: 45.229 por dia (variação em 14 dias: -12%)

(Antes do balanço das 20h, o consórcio divulgou um boletim parcial às 13h, com 236.638 mortes e 9.725.231 casos confirmados.)


Estados

Subindo (10 estados): MG, GO, AC, PA, RO, RR, TO, BA, MA e RN

Em estabilidade (10 estados e o Distrito Federal): RS, SC, SP, DF, MS, MT, AM, AL PE, PB e PI

Em queda (5 estados): PR, ES, RJ, AP e SE

Não divulgou (1 estado): CE

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás (entenda os critérios usados pelo G1 para analisar as tendências da pandemia).

Vale ressaltar que há estados em que o baixo número médio de óbitos pode levar a grandes variações percentuais. Os dados de médias móveis são, em geral, em números decimais e arredondados para facilitar a apresentação dos dados.

G1, em 12.02.2021.

Fuga de eleitores e planos de cisão: o dramático final de Trump abre uma fissura no Partido Republicano

Agremiação perdeu filiados, enquanto ex-dirigentes debatem a criação de um novo partido de centro-direita.


A senadora republicana Susan Collins fala com membros da Guarda Nacional no Capitólio. Foto deJIM LO SCALZO / EFE

Mais de 33.000 eleitores registrados como republicanos na Califórnia deixaram o partido nas três semanas seguintes ao ataque do Capitólio. Na Pensilvânia, foram mais de 12.000 deserções no último mês. Arizona, Flórida... o padrão se repete em todos os Estados que divulgaram dados. São números pequenos em escala nacional, mas a tendência preocupa os dirigentes partidários.

As assustadoras imagens do ataque ao Capitólio por parte de seguidores do ex-presidente Donald Trump, que os democratas vêm há três dias exibindo no julgamento do seu impeachment, dificilmente servirão para alterar a postura dos senadores republicanos. Mas talvez o destinatário real dessas imagens não sejam eles, e sim os eleitores conservadores tradicionais, cuja fuga colocaria o Partido Republicano em sérias dificuldades.

Segundo um levantamento do The New York Times, quase 140.000 republicanos deixaram o partido desde 6 de janeiro nos 25 Estados que divulgaram os dados. É o dobro das deserções democratas no mesmo período. Sempre há movimentos nos registros depois das eleições, em alguns casos porque os Estados atualizam as bases de dados e retiram os falecidos ou quem mudou de domicílio. Mas os especialistas concordam que, depois do ataque ao Capitólio, os republicanos sofreram um abandono maior que o habitual.

A tendência preocupa os quadros atuais e antigos do Grand Old Party. E também entre eles se nota o descontentamento. Dezenas de ex-dirigentes, conforme publicou a Reuters na quarta-feira, estão conversando para formalizar uma ruptura e criar um partido de centro-direita. Entre participantes desse debate inicial, segundo essa mesma notícia, haveria ex-altos-funcionários dos Governos Reagan, Bush pai e Bush filho, assim como diplomatas e marqueteiros do partido.

Mais de 120 deles participaram na semana passada de uma teleconferência para debater a cisão. A ideia, sempre segundo a Reuters, é apresentar candidatos próprios em algumas circunscrições e, em outras, apoiar candidatos centristas de qualquer filiação política. Debateu-se sobre formar um partido ou uma corrente, dentro ou fora da formação republicana. E se cogitam os nomes de Partido da Integridade e Partido de Centro-Direita, segundo a Reuters.

A iniciativa ilustra a que ponto os acontecimentos do final do mandato de Trump aprofundaram a fissura na formação. O trumpismo continua sendo uma força dominante no Partido Republicano. Segundo uma pesquisa da ABC News e The Washington Post feita entre 10 e 13 de janeiro, 69% dos norte-americanos consideram que os republicanos deveriam levar o partido para outra direção. Entre os republicanos, 60% insistem em seguir o rumo determinado por Trump. Esse percentual era de 83% em 2018.

O traumático final do mandato de Trump torna mais difícil a tolerância passiva de seus excessos, o que terminou por alienar uma parte do setor moderado. Os republicanos ampliaram sua presença na Câmara de Representantes depois das eleições de novembro, e entre os novos integrantes entraram perfis em sintonia com as bases mais extremistas do trumpismo. Até 139 membros da Câmara Baixa e oito senadores votaram a favor de bloquear a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden horas antes do ataque ao Capitólio. Mas exatamente uma semana depois da violenta insurreição, 10 congressistas republicanos votaram pelo impeachment de Trump. Não é uma proporção grande entre os 211 deputados do partido, mas é o número mais elevado na história de votos dados por deputados pela destituir um presidente do seu próprio partido.

Na cabeça dos deputados, e também na dos senadores que terão que condenar ou absolver o ex-presidente, há outros cálculos. Neste momento, a força mobilizadora de Trump nas bases republicanas continua sendo grande, por isso a vontade de enfrentá-lo tende a ser proporcional à distância temporal que separa os atuais parlamentares da disputa por um novo mandato.

PABLO GUIMÓN, de Washington DC,  para o EL PAÍS, em 12 FEV 2021.

Com DEM em crise, Huck se aproxima do PSB: veja os cenários para 2022

Articulações para eventual candidatura à Presidência incluem fusões de legendas e a construção de proposta de um centro liberal e democrático; apresentador conversa com João Campos

A vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) na Câmara dos Deputados reforçou a percepção no grupo mais próximo a Luciano Huck de que é necessário construir uma estrutura partidária consistente para viabilizar o projeto presidencial do apresentador e empresário. No cálculo para uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto são levadas em conta fusões de legendas e um arranjo que sustente a proposta de um centro liberal e democrático, capaz de se contrapor à polarização entre bolsonaristas e petistas. Desde o ano passado, ao menos quatro partidos já sondaram Huck.

Com o DEM fragmentado e mais governista, uma opção que passou a ser avaliada com atenção extra por aliados do apresentador é o PSB. As conversas ocorrem desde o ano passado e têm sido estimuladas pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), e por sua namorada, a deputada federal Tabata Amaral (SP), que está rompida com seu partido, o PDT. Tabata tem relação próxima com Huck e foi a ponte entre ele e Campos. Os dois jovens políticos integram o RenovaBR, grupo de renovação e formação política que tem o apoio do apresentador.

O empresário e apresentador Luciano Huck é apontado como possível candidato à Presidência em 2022 Foto: Renato Bueno/Divulgação

O filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos (que morreu em um acidente aéreo na campanha de 2014) e Huck também estreitaram a relação quando o pessebista assumiu, aos 27 anos, o mandato de deputado federal e adotou uma agenda ambientalista e progressista. No Congresso, o atual prefeito da capital pernambucana foi relator da CPI do Óleo e também presidiu a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica.

O DEM, que flertava com o apresentador, mergulhou em uma crise interna após a eleição da presidência da Câmara, quando a bancada liberou seus deputados para votarem em Lira - candidato do presidente Jair Bolsonaro.  A aproximação da legenda com o Palácio do Planalto e a iminente saída de Rodrigo Maia (RJ) tem o potencial de esfriar as conversas do DEM com Huck.


A alternativa PSB tem como pano de fundo uma possível fusão entre a sigla socialista e o PCdoB, o que resultaria na criação de uma nova legenda de centro-esquerda. Apesar de ainda embrionária, a tese tem sido bem recebida por quadros dos dois partidos. Segundo interlocutores de Campos, há consenso de que é preciso construir pontes no campo da esquerda além do PT.

"A fusão do PSB com o PCdoB  é uma possibilidade. Há conversas entre os líderes dos dois partidos", disse o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). "Assim como em 2018, a eleição de 2022 também não será convencional. A ideia é buscar uma pessoa da sociedade e acima dos partidos, mas ainda não aconteceu nenhuma conversa da direção do PSB com o Huck", afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Huck tem revelado em conversas reservadas ter admiração pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), com quem também tem mantido conversas regulares nos últimos dois anos. O governador fez duas visitas ao apresentador no Rio de Janeiro antes da pandemia de covid-19. Durante a pandemia, organizaram ao menos cinco reuniões virtuais fechadas com públicos diferentes: empresários, políticos e ativistas. Dino vê em Huck um quadro "liberal progressista", que, uma vez eleito, não adotaria uma agenda de esquerda “puro sangue”, mas faria um governo associado à pauta de proteção social e ambiental. Em uma das conversas que tiveram, Huck chegou a perguntar a Dino sobre sua experiência de deixar um “porto seguro” (ele era juiz) para se aventurar na política.

Uma outra hipótese de união partidária - entre Cidadania, PV e Rede - poderia servir de guarida a uma candidatura de Huck. A ex-ministra Marina Silva mantém interlocução com o apresentador, mas a Rede resiste à ideia de fusão. "Essa conversa já foi feita com eles (Rede) e a decisão que tomaram foi negativa. Não tenho informação de que isso tenha mudado", afirmou Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania. Ele reconhece que há um alinhamento com o PV e que, no futuro, isso pode caminhar para uma proposta formal. "Mas não é pauta ainda." O Cidadania era considerado um destino confortável para o apresentador e abrigou diversos quadros dos movimentos de renovação política. Mas a avaliação corrente entre aliados de Huck é que o partido ainda carece de capilaridade e recursos para uma disputa presidencial.

Cláusula de barreira

Fusões partidárias estão no radar de legendas médias ou pequenas por causa da cláusula de desempenho (conhecida também como cláusula de barreira). Criada em 2017, ela funciona como uma espécie de filtro e usa como base de cálculo as eleições gerais – quando são escolhidos o presidente da República, governadores, deputados federais e senadores. Na disputa de 2018, a exigência foi para que os partidos somassem ao menos 1,5% dos votos válidos em nove Estados, com 1% dos votos em cada um deles. O porcentual aumenta de forma progressiva e no próximo ano será de 2%.

Na articulação político-partidária, o projeto de Huck concorre com o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que também tenta formar uma rede de apoios com partidos da centro-direita e passou a fazer acenos à centro-esquerda na busca por uma frente anti-Bolsonaro.

O apresentador abriu um leque amplo de interlocutores. Nas conversas, porém, é econômico e geralmente escuta mais do que fala. Segundo aliados, entre os partidos que já lhe sondaram ou fizeram convites, está o Podemos, que costuma ser identificado com a defesa da Lava Jato. Huck se reuniu com o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro no fim de outubro do ano passado. O encontro não foi bem recebido por boa parte dos seus apoiadores. A avaliação é que o ex-magistrado de Curitiba contamina o seu projeto, trazendo para dentro dele a polarização PT x Bolsonaro. Alérm disso, Moro afasta da articulação de Huck as forças políticas da esquerda.

Uma possível filiação de Huck é algo tratado num horizonte ainda distante. Conforme a legislação, a data-limite é o início de abril do ano que vem, seis meses antes das eleições. Por enquanto, o apresentador continuará se colocando “à disposição” do País em manifestações pontuais. Aos poucos, pretende definir sua questão profissional na TV Globo (ele ainda é cotado como um possível substituto de Fausto Silva nas tardes de domingo em 2022) e fazer a transição de celebridade para o político. 

Procurados, Huck, Campos, Tábata Amaral e Renata Abreu, presidente do Podemos, não quiseram se manifestar./ COLABORARAM EDUARDO KATTAH e ADRIANA FERRAZ

Pedro Venceslau, O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2021 | 11h07


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Democratas concluem acusação e pedem condenação de Trump para evitar violência no futuro

Ao relacionar os atos e falas de Trump ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, democratas argumentaram que o republicano pode incitar novamente à violência civil no país se não for punido 

 Depois de duas tardes de argumentação, deputados democratas concluíram a acusação contra Donald Trump no Senado americano, com pedido de condenação do ex-presidente para evitar episódios de violência no futuro. Ao relacionar os atos e falas de Trump ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, democratas argumentaram que o republicano pode incitar novamente à violência civil no país se não for punido. 

"Não tenho medo de Donald Trump concorrer novamente em quatro anos. Tenho medo de que ele concorra de novo e perca, porque ele poderá fazer isso de novo", disse o deputado democrata Ted Lieu. "Impeachment não é para punir, mas para prevenir", disse  a democrata Diana DeGette. "Não estamos aqui para punir Trump. Estamos aqui para evitar que as sementes do ódio que ele plantou produzam mais frutos”, afirmou a deputada.

O apelo é também uma forma de dizer aos senadores republicanos, que não estão dispostos a condenar o ex-presidente de seu partido, que eles terão responsabilidade se episódios violentos de extremismo político voltarem a ocorrer.

Vídeo de discurso de Donald Trump é apresentado durante processo de impeachment no Senado  Foto: Erin Schaff/The New York Times

Os democratas concluíram os argumentos de acusação por volta das 16h20 (18h20 no horário de Brasília) desta quinta-feira. Os advogados de Trump terão oito horas -- ou dois dias -- para fazer a defesa do ex-presidente. A equipe de defesa de Trump já avisou que não pretende levar mais de um dia para a sustentação e a votação final do impeachment poderá ocorrer no fim de semana. 

Os advogados de Trump já apresentaram as linhas prévias de defesa e devem argumentar que, fora do cargo, ele não pode ser condenado no processo de impeachment. Hoje, no entanto, democratas anteciparam parte dos argumentos da defesa e desconstruíram a ideia de que a previsão de impeachment serve essencialmente para remover um presidente. Segundo eles, o impeachment não deve ser usado para punir, mas para evitar que novos atos de violência ocorram. 

"Pedimos humildemente que condenem o presidente Trump pelo crime pelo qual ele é totalmente culpado. Se vocês não fizerem isso, se fingirmos que isso não aconteceu, ou pior, se deixarmos ficar sem resposta, quem pode dizer que não vai acontecer de novo?", disse o deputado Joe Neguse.

“Meus queridos colegas, há algum líder político nesta sala que acredita que se o Senado permitir que ele volte ao Salão Oval, Donald Trump pararia de incitar a violência para conseguir o que quer?", questionou o líder da acusação, Jamie Raskin. “Você apostaria a vida de mais policiais nisso? Você apostaria a segurança de sua família nisso? Você apostaria o futuro da sua democracia nisso?", disse o deputado.

Democratas lembraram outros momentos em que Trump consentiu e estimulou atos violentos, como quando disse haver pessoas boas "dos dois lados" durante o ataque de supremacistas brancos em Charlottesville, em 2017. Mais recentemente, lembraram os deputados, Trump mostrou apoio em um tuíte à invasão do legislativo de Michigan por extremistas armados contrários à quarentena imposta pela governadora como medida de contenção do coronavírus. Segundo a acusação, a violência e o estímulo ao ataque do dia 6 de janeiro não foi algo fora da rota no governo Trump, mas um "estado de espírito" estimulado pelo republicano.

Beatriz Bulla / Correspondente, O Estado de São Paulo, em 11 de fevereiro de 2021 | 19h22

‘O Brasil não se resume a São Paulo’, diz Leite sobre disputa no PSDB

Governador gaúcho é alçado a pré-candidato à Presidência em 2022 por ala do partido que se rebelou contra chefe do Executivo paulista

Alçado a pré-candidato à Presidência por uma ala do PSDB que se rebelou contra o governador João Doria (SP), o governador gaúcho, Eduardo Leite, afirmou nesta quinta-feira, 11, que “o Brasil não se resume a São Paulo”. A declaração foi dada em um encontro realizado no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, com presença de 11 deputados federais e um senador – nenhum paulista.

“O governador Doria exerce uma liderança que respeitamos, assim como o PSDB de São Paulo, que também respeitamos. Mas o Brasil não se resume a São Paulo”, afirmou Leite.

A articulação desse grupo é uma resposta à ofensiva de Doria para que a bancada do PSDB adote uma postura mais incisiva de oposição ao presidente Jair Bolsonaro e à movimentação de aliados para que o governador paulista assuma a presidência do partido em maio. “Com todas as diferenças que temos com o governo Bolsonaro, não podemos boicotar o País para ter uma facilidade eleitoral”, disse Leite.

O governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB) Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

Esse grupo de parlamentares quer que o governador gaúcho assuma protagonismo no cenário nacional. “O Eduardo Leite é aquele que mais agrada à bancada federal”, disse o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). “Não faz sentido o PSDB ter a relatoria da Reforma da Previdência e suas lideranças criticarem sistematicamente o governo federal”, afirmou Abi-Ackel, que vê Leite como pré-candidato do partido em 2022.

“O brasileiro está farto desse radicalismo, deste perfil de político mais áspero. O governador tem um estilo firme e habilidoso para resolver os problemas. Ele (Eduardo Leite) pode se apresentar e se colocar como um pré-candidato à Presidência.”

O deputado Cunha Lima (PB), filho do senador Cássio Cunha Lima, adotou um discurso conciliador. “Tudo que o Brasil menos precisa é de mais briga, e muito menos o PSDB precisa de mais briga.”

Questionado se era pré-candidato ao Planalto em 2022, Leite e os demais parlamentares evitarem responder. “Todos nós que estamos na política temos a intenção de ocupar espaços. Evidentemente a presidência da República é uma aspiração política. Mas ela é muito mais destino do que resultado de uma aspiração pessoal”, disse. Na quarta, em entrevista à Coluna do Estadão, o governador gaúcho havia dito que é “precipitado definir candidatura, seja de quem for” para 2022.

O senador Rodrigo Cunha (AL) ressaltou as qualidades do governador e traçou paralelos com outros políticos. “O governador Eduardo Leite não tem o perfil de querer ser herói, nem salvador da pátria, nem mito”.

Miro Teixeira: 'Não é odiando que se derrota o Bolsonaro'

Ex-deputado está de volta ao PDT para coordenar campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022

Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República surgida com o fim da ditadura em 1985, o ex-deputado Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas pelos nanicos Rede e PROS. Convidado pelo presidente nacional pedetista, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio. Ressalta, porém, que é sempre o candidato quem assume, na prática, a coordenação da empreitada eleitoral.

Para vencer o presidente Jair Bolsonaro, o ex-constituinte, ex-deputado federal por 11 mandatos e ex-ministro das Comunicações no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera “sequestrados” pelo bolsonarismo. Também propõe que tenha como mote “o dever da esperança”, expressão retirada do título de um livro lançado recentemente por Ciro.

Miro afirma ainda ser contra o impeachment do presidente. Nos próximos meses e na campanha, segundo ele, o foco deve ser mostrar à população que há um “desgoverno” no País.

Ex-deputado constituinte Miro Teixeira volta ao PDT 

O ex-deputado Miro Teixera, que volta ao PDT para coordenar campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, durante entrevista ao Estadão em seu escritório no centro do Rio. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

“Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno”, diz o experiente político. Ele foi deputado federal pela primeira vez em 1970, pelo MDB comandado na então Guanabara por Chagas Freitas, e passou pelo PMDB no início dos anos 80, antes de se filiar ao PDT de Leonel Brizola.

Deputado na Assembleia Nacional Constituinte, quando começou a ser formado o grupo que hoje é chamado de Centrão, Miro diz que seria hipocrisia censurar Bolsonaro por se aliar ao bloco execrado como fisiológico por seu apetite por verbas e cargos. “O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo?”.


Confira abaixo a entrevista ao Estadão:


Por que essa volta ao PDT e qual é o projeto que será tocado?

Tudo atrasou um pouco por causa da pandemia. Todos os grupos de que participo têm sido sobre isso, e as discussões foram sendo travadas. Um dia, o Lupi participou de um desses grupos e começou a dizer que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.

E vai coordenar?

Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência da República é o candidato, não outra pessoa. Se outra pessoa ficar imaginando que vai coordenar, vai virar um problema.

Então o que acaba sendo na prática?

A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, de autoria do presidenciável). Acho que “dever da esperança” tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão que tenho travado: temos de gostar do Brasil. O Bolsonaro está dizendo que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.

O senhor então acha que houve um sequestro de símbolos nacionais por parte do presidente Bolsonaro?

Acho que sim. Eu frequento o Maracanã e, em jogo da seleção, escuto “Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Vamos cantar isso aí. O Exército não é do Bolsonaro, é da Pátria. “A Polícia Militar atende ao que o Bolsonaro mandar”. Não, atende ao que a lei manda. Temos que acabar com essas coisas, estão nos dividindo. Estão acabando com a possibilidade de se ter discussões racionais.

Qual será o Ciro de 2022? Mais à esquerda ou o Ciro “terceira via”?

Não acho que vá haver unidade dos partidos. Essa conversa de “No segundo turno todo mundo se junta”... Vamos parar com essa conversa. Isso aí é para quem não é do ramo. É no primeiro turno que se elegem deputados e senadores. Os partidos se juntam ou não se juntam por causa dos fundos partidário e eleitoral. Isso gerou no Brasil empresas partidárias, não partidos políticos. Então acredito que, tirando um ou outro, não vai haver grandes alianças. Vamos correr o Brasil, falar com as pessoas. E vamos de verde e amarelo.

Mas para que lado Ciro deve ir mais?

Não estou falando do Ciro, e sim do meu pensamento. O Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é muito criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo todo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade. O cidadão está desesperado pensando em emprego, em comida. Essa questão toda (de ódio) foi criada por grupos que não são de uma direita democrática.

Nessa linha, o senhor acha que Bolsonaro configura uma ameaça à democracia?

Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem… Não. Elas estão submetidas à Constituição. Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro (ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade. Acho que alimentar a exceção é um erro brutal. A democracia veio para ficar, e isso é uma virtude da Constituição.


Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro (ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade.

'Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade', diz Miro Teixeira. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

Mas vê movimentos nesse sentido por parte do presidente Bolsonaro?

Acho que o Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas para o Bolsonaro, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não vamos achar que estamos diante de um idiota. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.

Como o senhor analisa eleitoralmente o presidente para 2022?

Ele é, muito provavelmente, o único garantido no segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento brasileiro? Por que, com nossa capacidade industrial, estamos registrando perdas enormes?

Quanto à composição política, como o senhor avalia essa aproximação dele com o Centrão?

O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? O Centrão é algo que precisa ser mais bem explicado. Existia um centro, ali na Constituinte, que todo mundo procurava de alguma forma convencer - porque, se convencesse, ganharia. Teve um dia que o Roberto Cardoso Alves chegou ao microfone e deu um grito: “É dando que se recebe, o presidente da República precisa entender isso.” Aquilo gerou uma perplexidade. Ali começa a surgir essa organização que virou o Centrão como se conhece hoje. Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.

Do ponto de vista dos crimes de responsabilidade, acha que Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment?

Eu fui contra no início (cita um debate do qual participou em 2020, antes dos acontecimentos mais recentes). Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser buscar o impeachment do Bolsonaro nem de qualquer um. O impeachment, ou existe na sua face ou não existe. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.

Então para o senhor o foco é derrotá-lo nas urnas?

Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo. É perder o ódio e analisar. Eu não assinaria o impeachment do Bolsonaro.

Mas, na prática, como derrotá-lo? Como o senhor defende que o Ciro chegue para 2022?

Com as propostas que ele tem. Mostrando como o Brasil é rico, tem potencial.


Teixeira defende derrota de Bolsonaro nas urnas: 

Teixeira defende derrota de Bolsonaro nas urnas: 'O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo'. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

E quem buscar para formar uma aliança?

Isso vai surgir no curso do processo. Eu acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.

Acha que alguma das forças que já estão colocadas poderiam se unir a ele?


Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.

O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha ele no eleitorado de esquerda e com o PT?

Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, as pessoas dizem que vão apoiar uma pessoa ou outra, mas o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar. Já se decide logo para onde vai quando acaba o primeiro turno.

Caio Sartori, O Estado de São Paulo, em 11 de fevereiro de 2021 | 11h00


Bolsonaro diz que auxílio emergencial deve voltar em março e por até quatro meses

Segundo o presidente, essa é a alternativa que está sendo discutida com o Congresso; ele disse que não sabe qual seria o valor do benefício

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 11, que uma nova rodada do auxílio emergencial deve ser paga a partir de março e por um período de até quatro meses. O chefe do Executivo afirmou que essa é a alternativa discutida atualmente entre o Executivo e o Congresso. Ele disse, contudo, que não sabe qual seria o valor do benefício.

"Está quase certo, ainda não sabemos o valor. Com toda certeza - pode não ser - a partir de março, (por) três, quatro meses", disse em conversa com jornalistas ao final de evento do governo em Alcântara (MA). "Isso que está sendo acertado com o Executivo e com o Parlamento também porque temos que ter responsabilidade fiscal", acrescentou.

O presidente não deu detalhes de quantas pessoas vão ser contempladas com essa nova rodada do auxílio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que a ideia é atender à metade dos 64 milhões de beneficiários que receberam no ano passado. Nem o presidente nem o ministro disse como vão ser os critérios de seleção. 

O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia de entrega de títulos de propriedade rural em Alcântara (MA). Foto: Alan Santos/PR

Mais cedo, durante evento de entrega de títulos de propriedade rural, Bolsonaro já havia sinalizado que o governo estuda conceder novas parcelas do auxílio emergencial "por alguns meses". Em janeiro, o presidente disse que a retomada do auxílio "quebraria" o Brasil. Agora, contudo, ele diz que vai ter uma nova rodada, mas que a retomada do benefício "representa  um endividamento muito grande do nosso País".

Na conversa com jornalistas após a cerimônia, repetiu que o auxílio custa "caro" para o País. "Eterno é aposentadoria, o BPC (Benefício de Prestação Continuada), tá? E é uma questão emergencial, porque custa caro para o Brasil", disse.

 Bolsonaro reforçou sua defesa pela retomada das atividades normais do comércio, sem restrições por conta da pandemia da covid-19. “Agora, não basta apenas conceder mais um período de auxílio emergencial, o comércio tem que voltar a funcionar, tem que acabar com essa história de ‘fecha tudo’”, disse.

“Devemos cuidar dos mais idosos e quem tem comorbidade, o resto tem que trabalhar, caso contrário, se nos endividarmos muito o Brasil pode perder crédito e daí a inflação vem, a dívida já está em R$ 5 trilhões, daí vem o caos. Ninguém quer isso aí”, declarou.

Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou o ministro da Economia, Paulo Guedes, por uma nova rodada do auxílio emergencial com "uma alternativa viável" para o benefício ser concedido. 

Como mostrou o Estadão, Guedes aceita mais três parcelas de R$ 200, mas condiciona a aprovação de uma nova rodada à aprovação de medidas de ajuste fiscal, como cortes de gastos com servidores, e uma base jurídica (que poderia ser uma cláusula de calamidade ou uma nova versão da PEC do orçamento de guerra para permitir ao governo ampliar os gastos fora de amarras fiscais).

Emilly Behnke, O Estado de São Paulo, em 11 de fevereiro de 2021 | 14h44

Militares usam verba pública para bancar 700 mil quilos de picanha e 80 mil cervejas

Representação de deputados à PGR aponta despesas suspeitas em compras de carne nobre e cervejas especiais; para Ministério da Defesa, denúncia se baseia em 'informações absolutamente equivocadas'

Picanha de R$ 84,14 o quilo. Cervejas especiais, de puro malte, a R$ 9,80 cada. Em tempos de extrema restrição de orçamento, as Forças Armadas brasileiras usaram dinheiro público, ao longo de 2020, para bancar a compra de mais de 700 mil quilos de picanha e 80 mil cervejas. E não se trata de itens quaisquer. Para um dos cortes de carne mais nobres do País, foram escolhidas como referência peças das mais caras. Entre as cervejas, privilegiou-se o puro malte, entre outras.

As despesas com bebidas alcoólicas e carne de churrasco foram tema de uma representação que deputados do PSB enviaram na terça-feira, 9, ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que investigue os gastos militares. O levantamento foi feito diretamente pela equipe dos parlamentares. A representação levada à PGR foi divulgada pelo site Congresso em Foco. Os questionamentos não se limitam ao tipo de item que foi comprado. Há fortes indícios, de acordo com os parlamentares, de superfaturamento nas aquisições.

Cerveja

Forças Armadas do Brasil compraram mais de 80 mil cervejas, segundo Painel de Gastos do Ministério da Economia; deputados apontam superfaturamento Foto: Pixabay

O levantamento utilizou informações do Painel de Preços do Ministério da Economia, a mesma ferramenta pública que revelou as compras milionárias de leite condensado. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro justificou que se tratava de um item “necessário” aos militares, dado seu alto teor energético e calórico.

A reportagem questionou as Forças Armadas sobre quais seriam as justificativas e motivações para a compra dos 714.700 quilos de picanha e 80.016 garrafas e latas de cerveja em pleno ano de pandemia. Em nota, o Ministério da Defesa (MD) informou que aguarda a notificação da Procuradoria Geral da República. "O Ministério da Defesa e as Forças Armadas reiteram seu compromisso com a transparência e a seriedade com o interesse e a administração dos bens públicos. Eventuais irregularidades são apuradas com rigor", diz a pasta.

O ministério sustenta que a representação do PSB se baseia em “informações absolutamente equivocadas” e que o tema foi objeto de nota de esclarecimento, mas o órgão não explicou as razões que levaram à aquisição de cervejas e de picanha: “Ficou claro que as quantidades adquiridas e os valores efetivamente gastos com os determinados produtos eram de 10 a 20 vezes menores do que foi divulgado”.

O deputado Elias Vaz de Andrade (PSB-GO), que está entre aqueles que assinam a representação, afirma que os dados são oficiais e que se trata de preços devidamente registrados e aprovados pelas Forças Armadas, para que possa solicitar os alimentos. “Estamos denunciando esses processos licitatórios. Essas empresas tiveram suas propostas aprovadas, por esses valores. Há processos de compra concluídos e, inclusive, já efetivamente pagos. Todos eles foram homologados pelas Forças Armadas”, disse o deputado. “Falam que fazem uma alimentação balanceada, mas não explicam por que essa alimentação deve incluir itens como picanha e cerveja.”

Marcas famosas

Na relação detalhada de compras de cervejas anexada à denúncia dos deputados estão, por exemplo, 500 garrafas da bebida, da marca Stella Artois, ao preço unitário de R$ 9,05. Há ainda a aquisição de 3 mil garrafas de Heineken, a R$ 9,80 cada.

O comando da 23ª Brigada de Infantaria de Selva preferiu 3.050 garrafas de Eisenbahn, ao custo de R$ 5,99. Já a Brigada de Infantaria Motorizada do Rio de Janeiro optou por 1.008 latas de Bohemia Puro Malte, pelo valor de R$ 4,33 cada. Em supermercados, aponta a representação, o preço médio desse item é de R$ 2,59.

A lista de cervejas inclui ainda 2 mil garrafas de 600 ML de Bohemia Puro Malte, pelo valor de R$ 7,29, quando essas garrafas são encontradas por R$ 5,79. Para comprar mais 1.600 latas de Skol Puro Malte, de 350 ML, os militares pagaram R$ 4,00 pela unidade, item que é encontrado a R$ 2,69 em redes de varejo.

“O superfaturamento é evidente. Além disso, a grande quantidade que os órgãos solicitaram via processo licitatório deveria favorecer a negociação e proporcionar preços muito menores que os oferecidos no varejo. A realidade, todavia, demonstra que os preços contratados são superiores aos praticados pelos supermercados”, afirmam os deputados, na representação.

As informações revelam ainda que Marinha, Aeronáutica, Exército, Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) e a administração interna do Ministério da Defesa são grandes consumidores de picanha. Só em 2020, foram concluídos 76 processos de compra do corte, somando 714.700 quilos da carne nobre.

O Comando do Exército Brasileiro é o campeão em processos de compras do produto, tendo consumido 569.215 quilos do total.

Exército

Só em 2020, Marinha, Aeronáutica, Exército, Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) e a administração interna do Ministério da Defesa fizeram 76 processos de compra de picanha, somando 714.700 quilos da carne nobre. Foto: Sérgio Dutti/Estadão

Os dados revelam uma licitação de 13.670 quilos, na qual o valor de cada quilo pago foi de R$ 84,14. A se basear no preço que os militares estavam dispostos a pagar pela carne, até que saiu barato. O valor médio estimado pela equipe que conduziu a fase interna da licitação, de acordo com os documentos do certame, foi de R$ 118,25 o quilo. 

“Sinceramente, é preciso investigar qual foi o corte de carne usado para se chegar a esse preço médio irreal”, informa a representação.

“Em um ano de pandemia, com crise sanitária, econômica e social devastando nosso país, é inacreditável que os cofres públicos tenham custeado gastos com cerveja”, declaram os deputados. “Enquanto nosso povo padece por falta de recursos para sobrevivência, nossos militares usaram dinheiro público para custear bebidas alcoólicas. Tal conduta fere de morte o Princípio Constitucional da Moralidade Pública.”

Não se quer afirmar que os militares "não podem comer carne", argumentam os parlamentares, mas, sim, questionar “o grau de sofisticação empregado” nas compras de cortes nobres e específicos. “O episódio narrado nesse item revela que houve ostentação e os privilégios direcionados para alguns, conduta que destoa do discurso de humildade e simplicidade usado pelo Presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.”

Diferenças

Segundo a nota do Ministério da Defesa, “existe sempre uma significativa diferença entre processos de licitação e a compra efetivamente realizada, cuja efetiva aquisição é concretizada conforme a real necessidade da administração”. Assim, “é imprescindível que se faça essa segmentação adequada, quando se faz a totalização dos valores, interpretação e principalmente a divulgação pública destes dados, de modo a evitar a desinformação”. De acordo com a pasta, “apresentar valores totais de processos licitatórios homologados como sendo valores efetivamente gastos constitui grave equívoco”, afirma a nota, referindo-se aos dados incluídos na representação. No documento apresentado à PGR, entretanto, os deputados trazem os dados detalhados com a identificação da compra realizada e seu referido fornecedor.

André Borges, O Estado de São Paulo, em 11 de fevereiro de 2021 | 11h09

Atualizado 11 de fevereiro de 2021 | 16h37


Brasil registra 1.351 mortes por covid-19 em 24 horas

Com mais de 54 mil novos casos confirmados em 24 horas, total de infectados passa de 9,7 milhões. Ao todo, 236 mil pessoas morreram no país em decorrência do coronavírus.    

Professora distribui álcool gel para aluno em escola de São Paulo

O Brasil registrou oficialmente 54.742 casos confirmados de covid-19 e 1.351 mortes ligadas à doença nesta quinta-feira (11/02), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

Com isso, o total de infecções identificadas no país subiu para 9.713.909, enquanto os óbitos chegam a 236.201.

Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.

O Conass  não divulga número de recuperados. Segundo o Ministério da Saúde, 8.596.130 pacientes haviam se recuperaram da doença até quarta-feira.

A taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes subiu para 112,4 no Brasil, a 22ª mais alta do mundo, quando desconsiderados os países nanicos San Marino, Liechtenstein e Andorra.

Em números absolutos, o Brasil é o terceiro país do mundo com mais infecções, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 27,3 milhões de casos, e da Índia, com 10,8 milhões. Mas é o segundo em número absoluto de mortos, já que mais de 474 mil pessoas morreram nos EU

Ao todo, mais de 107,6 milhões de pessoas já contraíram o coronavírus no mundo, e 2,3 milhões de pacientes morreram.

Deutsche Welle Brasil, em 11.02.2021, há 10 minutos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Brasil registra 1.330 mortes por covid-19 em 24 horas

Com mais de 59 mil novos casos confirmados em 24 horas, total de infectados passa de 9,6 milhões. Ao todo, 234 mil pessoas morreram no país em decorrência do coronavírus.

Funcionários da prefeitura do Rio desinfetam ruas de Santa Marta para conter covid-19 

O Brasil registrou oficialmente 59.602 casos confirmados de covid-19 e 1.330 mortes ligadas à doença nesta quarta-feira (10/02), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

Com isso, o total de infecções identificadas no país subiu para 9.659.167, enquanto os óbitos chegam a 234.850.

Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.

O Conass não divulga número de recuperados. Segundo o Ministério da Saúde, 8.523.462 pacientes haviam se recuperaram da doença até terça-feira.

A taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes subiu para 111,8 no Brasil, a 22ª mais alta do mundo, quando desconsiderados os países nanicos San Marino, Liechtenstein e Andorra.

Em números absolutos, o Brasil   o terceiro país do mundo com mais infecções, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 27,2 milhões de casos, e da Índia, com 10,8 milhões. Mas é o segundo em número absoluto de mortos, já que mais de 470 mil pessoas morreram nos EUA.

Ao todo, mais de 107 milhões de pessoas já contraíram o coronavírus no mundo, e 2,3 milhões de pacientes morreram.

Deutsche Welle Brasil, há 20 minutos.

Paulo Delgado: o assador Lira

Quando se formam maiorias predatórias, algo de atentatório à democracia emerge

Se o Executivo quiser humilhar a Câmara por considerar ridículo ter de respeitá-la, a maioria se esfarela. As conveniências venceram, mas como prego mal pregado na parede. Se o presidente não souber lidar com o poder, o humor do Legislativo não vai espelhar o do Executivo. E teremos o parlamentarismo do Centrão.

A concha acústica que seria colocada no ponto mais alto do terreno para projetar o grito de manifestantes para dentro do Congresso jamais foi construída. Mas o espelho d’água para desencorajar a multidão a invadir o prédio, esse, sim, foi aberto.

Senado e Câmara elegeram seus novos presidentes sob a indiferença dos brasileiros. No Senado não foi tanto vitória do governo. Foi o Senado, velho e sem se fazer de caduco, que escolheu um homem jovem, gentil, associativo para enfrentar uma política totalmente sem imaginação. O belo discurso de Simone sobre o mar, barcos e remos se perdeu nas ondas de procuradores imaturos e de um juiz que, se foi duro para perseguir grandes, se viu menor diante de um pequeno. Talvez por isso, a poesia logo foi suplantada pelo discurso de formatura do melhor aluno da turma de 2018.

Um senador sem freios apurou: Simone para lá, Rodrigo para cá, depois morreu. Que gente! Ninguém poderia imaginar que assim contassem votos no Senado da República.

Na Câmara foi diferente. Houve boxe, com socos combinados e frases dirigidas para acalmar a boa consciência de traidores engajados. SUS, rede de proteção social, pauta emergencial, cadeira giratória, todos conheço por nome. Clichês endereçados a aplastados partidos. Uff!

A matemática é inexorável. Dos 211 do bloco de Baleia, 145 votos ele teve. Assolador. Com 247 em seu bloco, Lira obteve 302 votos, revelando que os convencidos eram minoria diante dos dispostos a ser convencidos. Partidos de gente partida.

Não é o apocalipse. Mas há um parentesco natural entre Executivo e Legislativo quando um mesmo apetite adquire peso e a balança do destino coloca a vida perto da necessidade e do medo. Se o Congresso deu outra chance ao presidente, não deve imitar sua deformidade.

A relação com ele é incompatível com a emoção, como bem fez o Senado. Há emoções que ajudam a corrigir e reorganizar o caráter; há outras que o exacerbam. Há inversão de papéis se o Parlamento imagina manipular cordéis do Executivo. Certo que há parlamentares colegas acostumados com a longa prática da hipocrisia que é usufruir o mandato mais do que exercê-lo. Estranho é um número tão grande achar isso natural.

O governo pode ter posto o inimigo em casa. Já o Congresso pode ter armado uma rede em que ele próprio cairá. Se continuar comovido e aceitar suflê, será servido na mesma vasilha do forno sem imaginação do presidente. Em política a distração é cômica.

Todo esse vaudeville é sinal da luta do politeísmo pagão praticado pelos partidos. Alguma coisa lembra George Foreman e sua máquina de grelhar. A iniquidade que a chapa inflige à carne é que permite o triunfo glorioso do churrasco. Mal passado, bem passado ou cru, o assador Lira deve cuidar para produzir pouca fumaça num plenário em que uns nada querem entender, outros nada querem ver e a maioria só vê o que quer. O fácil se torna impossível. E quando se formam maiorias predatórias algo de atentatório à vida democrática emerge.

A tensão é de cabo de guerra. O governo não olha sequer os mortos. Mas a política é um padre mole que une os casais que parentes desaprovam. A hora do divórcio é que interessa em país onde os governos caem de dentro para fora.

Antes do primeiro churrasco Lira homenageia Niemeyer descrevendo a grandeza sutil da arquitetura do plenário. Minutos depois, assentado no trono, queima a carne passada. Anula a votação da Mesa e ataca Maia, inexoravelmente abandonado, sem condições de conter a velocidade da adesão. Fidelidade é guarda-chuva frágil; na tormenta, melhor táxi.

Inacreditável: as 35 propostas prioritárias são um gasto psíquico acreditar. Revelam como a política se desequilibra em desfavor da racionalidade quando os ideais se esgotam. Um amontoado que desvirtua conceitos, privilegia tontices para contornar o custo de enfrentar privilégios. Uma lembra o esquadrão da morte ao defender imunidade para policiais arbitrários. A miscelânea tem gás, água, luz, pedágio, pedofilia, Fräulein, startups, arma, índio e o emergencial é de 2019. Nada sobre os mandarins do Estado, vacina, pobreza, jovem, privilégio militar, desemprego. A incompreensibilidade e o desprezo pela economia fazem o Brasil refratário à evolução humana e a aspirações coletivas.

É uma cegueira fingir não ver que o artificial da economia vai estourar. Manter a estagnação econômica e apostar na pobreza dos não influentes para proteger os influentes da depressão é intelectual e moralmente pouco exigente. A razão da força paradoxal do presidente talvez seja o esforço que faz para manter o estado de crise e evitar que a paz seja um dia longa. Seu jogo parlamentar não se sustenta se metade do dia ele se dedicar à prosperidade de sua reeleição. E na outra metade a impedir a prosperidade da Nação.

Paulo Delgado, o autor deste artigo, é sociólogo. Publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 10 de fevereiro de 2021.

Antes de dinheiro, falta espírito público

Desinteresse pela sorte dos brasileiros preside a discussão sobre a volta do auxílio emergencial

É excruciante a demora do governo e do Congresso para encontrar as fontes de financiamento para retomar o auxílio emergencial para os milhões de cidadãos destituídos de renda em razão da pandemia de covid-19. O auxílio acabou em dezembro, mas a pandemia não – e lá se vão dois meses e meio sem que o poder público tenha sido capaz de se entender sobre tão urgente demanda.

Do mesmo modo, causa indignação a notícia de que caiu em 76% o total de leitos hospitalares para tratamento de covid-19 em São Paulo que são financiados pelo governo federal. O motivo é tão prosaico quanto assombroso: terminou em 31 de dezembro a validade da emenda constitucional que criou o chamado “orçamento de guerra”, que previa recursos extraordinários para o enfrentamento da pandemia. Sem a emenda, faltou dinheiro.

Nos dois casos, espanta a incapacidade do governo de Jair Bolsonaro de se antecipar a problemas com data marcada para acontecer. Ante a óbvia escalada da pandemia – em Manaus, por exemplo, já se fala em uma “terceira onda” –, é simples irresponsabilidade deixar de tomar providências tempestivas. A esta altura, nada disso era imprevisível – ao contrário, o recrudescimento da pandemia foi antecipado insistentemente pelos cientistas.

Como o governo é liderado por um presidente inimigo da ciência e indiferente ao sofrimento de seus governados, nada disso deveria espantar. Enquanto o mundo civilizado passou boa parte de 2020 na corrida por uma vacina, Bolsonaro e o intendente que responde pelo Ministério da Saúde dedicaram-se a fazer propaganda de remédios sem eficácia contra a covid-19 e potencialmente perigosos, ao mesmo tempo que o presidente questionava a segurança dos imunizantes. A vacina só se tornou prioritária para o governo quando passou a ser vista por Bolsonaro como um possível ativo eleitoral.

É esse desinteresse pela sorte dos brasileiros que preside a discussão bizantina sobre a volta do auxílio emergencial. “Acho que vai ter uma prorrogação”, disse Bolsonaro, como se fosse um comentarista político, e não o presidente da República. Um presidente não “acha” nada: ordena de acordo com a lei. É para isso que serve o poder que as urnas lhe conferiram em 2018. Se a volta do auxílio emergencial é indispensável – e é –, então cabe ao presidente mandar que aconteça o mais rápido possível, tomando as decisões políticas necessárias.

Mas é precisamente isso o que Bolsonaro não quer fazer, porque tomar decisões políticas acarretam ônus diversos. Quando era deputado do baixo clero, Bolsonaro não tinha esse problema: podia exercer sua irresponsabilidade à vontade. Como presidente, contudo, deve enfrentar o peso de suas escolhas e indicar ao País uma direção clara.

Talvez o maior símbolo atual da falta de direção do governo Bolsonaro seja o incrível atraso da aprovação do Orçamento, que deveria ter sido votado no ano passado. Sem o Orçamento, não há planejamento possível, algo especialmente grave numa pandemia.

O caso da obscena queda do financiamento federal de leitos para tratamento de covid-19, que atinge vários Estados além de São Paulo, é exemplar: “Não houve planejamento. O Orçamento de 2021 é o mesmo de 2019. Simplesmente desconsiderou o Orçamento de 2020, como se a pandemia tivesse terminado em 31 de dezembro”, disse o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Carlos Lula. Segundo a Secretaria da Saúde paulista, a situação obrigou os gestores locais a gastarem mais de uma hora para outra.

Ao contrário das aparências, nada disso é de improviso. A pandemia serve aos demagogos como argumento para a irresponsabilidade fiscal, que hipoteca o futuro do País, mas rende votos. Como o Estado noticiou, os novos comandantes do Congresso, apadrinhados de Bolsonaro, querem relançar o auxílio emergencial fora do teto de gastos e sem cortar nenhuma outra despesa. Fala-se de novo em reeditar a famigerada CPMF como forma de financiar o auxílio. Seria o coroamento da desfaçatez, mas, a esta altura, já se sabe que o problema não é falta de dinheiro, mas de espírito público.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de São Paulo, em 10 de fevereiro de 2021 


Leite diz que vai ajudar PSDB a ‘construir o melhor caminho’ para 2022

Governador Eduardo Leite. FOTO: EDUARDO BELESKE

Diante de um aumento na pressão interna do PSDB para que seja uma alternativa presidenciável a João Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que é “precipitado definir candidatura, seja de quem for”, mas promete ajudar o partido a buscar o melhor caminho para 2022.

“Ainda é precipitado definir candidatura, seja de quem for. O partido deve primeiro se reunir em torno de ideias, de um propósito. E é papel de quem exerce funções relevantes, como nós governadores, de ajudar na condução dos debates para uma futura tomada de decisão. Mas jamais impor um caminho em função de pretensões pessoais”, disse à Coluna, sem citar nominalmente Doria, que já se coloca como o candidato da sigla para Presidência da República.

Leite se diz focado no que chama de “missão” que recebeu do povo gaúcho: o reequilíbrio das finanças do Rio Grande do Sul. “Ainda tenho muito por fazer aqui e cuidar do RS continua sendo meu foco. Não obstante, naturalmente (e até pela história e tradição do meu Estado) vou buscar ajudar meu partido a construir o melhor caminho para ajudar o Brasil em 2022”.

O nome de Leite é defendido por parte da bancada, que vai almoçar com ele na quinta-feira, 11, para tratar disso. Caciques como FHC e o senador Tasso Jeressati (CE) também citaram, recentemente, seu nome em entrevistas.

O entorno do apresentador Luciano Huck também vê com bons olhos uma chapa que junte os dois. À Coluna, o governador gaúcho disse que conversa com Huck “com alguma regularidade”.

“Desenvolvemos uma amizade cívica. Ele é alguém genuinamente interessado em colaborar num projeto de futuro para o país”, completou.

Marianna Holanda, O Estado de São Paulo, em 10 de fevereiro de 2021 

Promotores da Geórgia investigarão tentativa de Trump de alterar resultado da eleição no Estado

Eles instruíram funcionários estaduais a preservar documentos que podem mostrar esforços do ex-presidente para tentar modificar o resultado da votação que deu vitória a Joe Biden

Os promotores do Condado de Fulton, na Geórgia, abriram uma investigação criminal para apurar  as tentativas de Donald Trump de influenciar os resultados das eleições presidenciais de 2020 no Estado. Um dos alvos da investigação é o telefonema que ele fez para o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, no qual o pressionou a "encontrar" votos suficientes para ajudá-lo a reverter sua derrota, segundo o jornal americano The New York Times. 

Além do telefonema para Raffensperger, o ex-presidente ligou para o governador Brian Kemp em dezembro e o pressionou a convocar uma sessão legislativa especial para reverter sua derrota eleitoral. 

A recém-eleita promotora do Condado de Fulton, Fani Willis, enviou uma carta aos funcionários estaduais pedindo que preservem documentos relacionados a uma investigação sobre a tentativa de influência nas eleições de 2020 na Geórgia. 

Brad Raffensperger, em entrevista coletiva; republicano, o secretário de Estado foi criticado por membros de seu próprio partido por defender a precisão da contagem de votos na Geórgia Foto: Brynn Anderson/AP

“Este assunto é de alta prioridade e estou confiante de que, como colegas oficiais da lei que juraram defender as Constituições dos Estados Unidos e da Geórgia, nossa aquisição de informações e evidências de crimes em potencial por meio de entrevistas, documentos, vídeos e registros eletrônicos será cooperativa”, disse na carta datada de 10 de fevereiro, de acordo com a agência de notícias Reuters. 

A carta, que não menciona o nome de Trump, foi enviada a Brad Raffensperger e outros governantes republicanos do Estado da Geórgia, entre eles, o governador e o procurador-geral, Chris Carr.

Na segunda-feira, o gabinete de Raffensperger iniciou a própria investigação sobre o telefonema de Trump no dia 2 de janeiro, pressionando-o a derrubar a vitória do democrata Joe Biden no Estado com base em alegações infundadas de fraude eleitoral. 

A investigação na Geórgia ocorre enquanto Trump enfrenta um segundo julgamento de impeachment em Washington, sob a acusação de "incitar a insurreição" que ocorreu no Capitólio em 6 de janeiro. As ligações realizadas por Trump podem infringir três leis estaduais, segundo apuração do New York Times.

Uma é a solicitação criminosa para cometer fraude eleitoral, que pode ser um crime ou contravenção. Como crime, é punível com pelo menos 1 ano de prisão. Há também uma acusação de conspiração, que pode ser processada como contravenção ou crime. Uma terceira lei, um delito de contravenção, proíbe a "interferência intencional" no "desempenho de deveres eleitorais" de outra pessoa./NYT e REUTERS

Redação, O Estado de São Paulo, em 10 de fevereiro de 2021

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Brasil registra 1.350 mortes por covid-19 em 24 horas

Com mais de 51 mil novos casos confirmados em 24 horas, total de infectados passa de 9,59 milhões. Ao todo, 233 mil pessoas morreram no país em decorrência do coronavírus.

Coveiros sentados em meio a túmulos de vítimas de covid-19 em Manaus

O Brasil registrou oficialmente 51.486 casos confirmados de covid-19 e 1.350 mortes ligadas à doença nesta terça-feira (09/02), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e pelo Ministério da Saúde.

Com isso, o total de infecções identificadas no país subiu para 9.599.565, enquanto os óbitos chegam a 233.520.

Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.

O Conass não divulga número de recuperados. Segundo o Ministério da Saúde, 8.523.462 pacientes já se recuperaram da doença.

A taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes subiu para 111,1 no Brasil, a 23ª mais alta do mundo, quando desconsiderados os países nanicos San Marino, Liechtenstein e Andorra.

Em números absolutos, o Brasil é o terceiro país do mundo com mais infecções, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 27,1 milhões de casos, e da Índia, com 10,8 milhões. Mas é o segundo em número absoluto de mortos, já que mais de 466 mil pessoas morreram nos EUA.

Ao todo, mais de 106,4 milhões de pessoas já contraíram o coronavírus no mundo, e 2,3 milhões de pacientes morreram.

Deutsche Welle Brasil, em 09.02.21

Governo brasileiro vive ‘crise de reputação’ no exterior, aponta estudo

Levantamento feito por consultoria mostra que 92% de 1.179 textos publicados em 2020 por veículos estrangeiros apresentaram um viés negativo sobre a administração de Jair Bolsonaro

Apesar do esforço do governo brasileiro em melhorar a avaliação do País no exterior, um estudo feito pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem, aponta que o País vive uma “crise de reputação”. O levantamento mostra que 92% de 1.179 textos publicados em veículos estrangeiros ao longo de 2020 apresentaram um viés negativo sobre a administração de Jair Bolsonaro.

O Itamaraty tem orientado embaixadas brasileiras ao redor do mundo a ter uma posição mais proativa em relação ao noticiário doméstico, numa tentativa de desfazer a imagem negativa do País e do governo no exterior. A ordem às representações na Europa e na Ásia é de passar um “pente fino” do noticiário sobre o Brasil, que ganhou manchetes no mundo todo após alta nos índices de queimadas no fim de 2019.

A análise das publicações feitas pela consultoria, no entanto, chegou a um índice de imagem – tecnicamente chamado de índice de Valor, Gestão e Relacionamento (iVGR) – de  -3,38, numa escala que vai de -5 a +5. Pela metodologia do índice, criado em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), as crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2. O patamar negativo foi mantido nos 12 meses do ano, o que pode ser visto como um indicativo de crise, segundo a fundadora da consultoria, Olga Maria Curado.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, em audiência no Senado  Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

Para chegar ao número, os consultores analisaram textos de sete veículos internacionais de reconhecida relevância: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El Pais (Espanha), Le Monde (França) e Der Spiegel (Alemanha). O que foi observado é que a imagem do governo que prevaleceu ao longo do ano foi de “incompetente” e “vulnerável”, qualidades analisadas na gestão. No aspecto ético, o atributo “irresponsável” manteve média de 20% de participação ao longo de 2020.

Às vésperas da chegada do coronavírus no Brasil, em fevereiro, o iVGR do governo apresentou seu momento menos negativo durante o ano. Ainda assim ficou em -2,59, abaixo do patamar considerado de crise. Já entre abril e junho, no auge da primeira onda de covid-19 no País, o índice apresentou o pior momento, voltando a se deteriorar a partir de setembro por causa de outra cobertura desfavorável: a política ambiental do governo federal e os incêndios na Amazônia e no Pantanal.

Das 1.179 matérias publicadas, 1.088 foram negativas (92%) e 91 positivas (8%). Entre as negativas, 52% estavam relacionadas à gestão da pandemia. No tema “outros”, destaque para textos sobre a crise econômica do Brasil fora do contexto da pandemia e a violação a direitos humanos. No grupo do noticiário positivo, estavam abordagens sobre expectativas de retomada da economia e de reformas estruturais. Essas notícias estiveram mais concentradas no primeiro trimestre do ano. Outros temas que geraram visibilidade positiva foram o pagamento de auxílio emergencial e testes com vacinas no Brasil.

Para Anthony Pereira, professor do Brazil Institute e do Department of International Development do King's College de Londres, o retrato negativo do Brasil no exterior já era esperado. “Não é uma surpresa, mas, de modo geral, houve muita cobertura negativa sobre outros países também”, comparou, citando ações do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi durante a pandemia; a postura do ex-presidente americano Donald Trump de não aceitar a derrota de sua reeleição, e a demora do premiê britânico, Boris Johnson, de aderir a medidas de quarentena. “Houve um superávit de cobertura negativa em 2020”, constatou.

Em geral, o professor disse concordar com o resultado do estudo de que o governo brasileiro é visto com a imagem negativa por causa de assuntos como meio ambiente e a pandemia, mas não apenas em função de dados. “Os discursos também contribuem para isso, como o de que as ONGs incentivam a queima da floresta e o de que os dados sobre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) são uma mentira. Esse discurso negacionista e o desmantelamento da infraestrutura de combate a incêndios gerou essa imagem. Fora as falas na área de direitos humanos e política externa, como ter sido um dos últimos líderes a parabenizar Joe Biden pela vitória na eleição.”

Pereira relatou ainda que, em seus contatos recentes com o governo britânico, não há qualquer interesse de estreitar relacionamento com o presidente Bolsonaro. “Não conheço um governo da Europa que gostaria de receber uma visita de Estado de Bolsonaro. Como há a pandemia agora, esta é uma situação hipotética, mas, de meus contatos com o governo daqui, ninguém se mostrou ansioso em recebê-lo. É um governo um pouco isolado”, avaliou.

Para Itamaraty, pesquisa não reflete opinião de ‘governos de outros países’

Procurado, o Itamaraty, responsável pela política externa do governo brasileiro, afirmou considerar que o levantamento em veículos de imprensa “não parece refletir a opinião da população ou governos de outros países”. 

“O exercício da atividade diplomática no exterior inclui a comunicação formal, quando o assunto requer, entre o representante diplomático e os órgãos de imprensa, para permitir ao público conhecer também a perspectiva oficial brasileira a respeito de determinado assunto – contexto em que se inscreve o exemplo citado”, afirma, em nota, o Ministério das Relações Exteriores.

Célia Froufe, O Estado de São Paulo, em 09 de fevereiro de 2021