domingo, 10 de janeiro de 2021

Polarização e populistas ameaçam até democracias tidas como consolidadas

Falta de credibilidade nas instituições políticas tradicionais é fator que leva à eleição de ‘outsiders’ e mostra como a crise democrática em diversos países independe do antigo embate esquerda versus direita; mobilização popular é peça-chave para mudar cenário

A falta de credibilidade das instituições políticas tradicionais e o aumento da polarização que levam ao surgimento de ‘outsiders’ nas estruturas de poder político ameaçam a democracia em todos os continentes e parecem ter cada vez mais apelo em sociedades que buscam soluções fáceis para resolver seus conflitos complexos.

Analistas afirmam que as crises democráticas têm impacto sobre a presença de empresas nos países e a mobilização popular consciente é um elemento-chave para mudar o cenário.

Invasão ao Congresso americano no dia em que o Senado ratificava Joe Biden como o novo presidente americano mostra como até o país considerado “a maior democracia do mundo” está em crise e tem seus sistemas políticos tradicionais questionados Foto: Katherine Frey/WP

“Há muitas pessoas dispostas a tolerar a erosão das instituições democráticas se gostam das políticas, ideologias ou identidade do líder. Mas quando um número razoável de pessoas decide dizer ‘ele pode dizer o que eu quero, fazer o que concordo, mas está minando nossa capacidade futura de mudar governos, então vou me virar contra eles, porque são antidemocráticos’, essa é a única esperança”, afirma Adam Przeworski, autor do livro Crises da Democracia.

A invasão ao Congresso americano no dia em que o Senado ratificava Joe Biden como o novo presidente americano mostra como até o país considerado “a maior democracia do mundo” está em crise e tem seus sistemas políticos tradicionais questionados.

Ascensão de grupos extremistas, tentativas de golpes, eleições questionadas: como está o sistema democrático em diferentes países

O ressurgimento de partidos extremistas na Europa, com o aumento do número de seguidores, desafia a unidade da União Europeia e ganha força em países como Polônia e Hungria. “Se você perguntar sobre a democracia na Polônia, ela está nas ruas agora. Não está no governo, nas instituições oficiais, mas na auto-organização da sociedade”, sustenta Malgorzata Fidelis, professora polonesa de estudos do Leste Europeu na Universidade de Illinois.

“Jaroslaw Kaczynski (presidente do partido Lei e Justiça, majoritário no governo polonês) disse acreditar que a política polonesa, após a queda do comunismo em 1989, foi tomada pelo o que ele chama de uklad (establishment)”, explica Adam Traczyk, pesquisador especializado em Europa Central e Leste Europeu no Conselho Alemão de Relações Exteriores. “Esse uklad teria sido criado por elites liberais e ex-comunistas que negociaram uma transição pacífica e agora controlam os negócios, a mídia e o Judiciário. Basicamente, todo mundo que não apoia ele e seu partido é membro da uklad.”

A tradicional divisão entre esquerda e direita não é mais o centro das disputas políticas. É preciso levar em conta o novo embate político tradicionais versus outsiders e políticos democráticos versus políticos autoritários.

“Estamos tendo uma transição no processo democrático que ainda não sabemos se para melhor ou pior, mas percebemos uma certa fadiga do modelo tradicional atual. A busca por resultados rápidos tira da cena políticos tradicionais e traz outsiders, principalmente da ala empresarial”, explica o coordenador de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), Moisés Marques.  Segundo o analista de risco político Thomaz Favaro, diretor da Control Risks, a erosão da democracia tem impacto na vida empresarial nos países. 

“Houve um aumento na demanda por análises de risco para os EUA nos últimos anos, desde empresas operando no país, até empresas estrangeiras, que usam matéria-prima por exemplo da China, e poderiam ser afetadas por alguma decisão política. Os EUA eram um bastião de estabilidade e de repente não são mais”, conta Favaro. No Brasil, diz ele, não ocorreu o mesmo por causa da eleição de Jair Bolsonaro, pois o país nunca foi considerado um “bastião de estabilidade”.

Até mesmo uma democracia consolidada como a de Israel, em uma região que abriga governos autoritários e fechados, a crise é explícita. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta acusações de corrupção e, sem conseguir manter sua coalizão política, viu o Parlamento ser dissolvido de novo. Como resultado, Israel terá a quarta eleição em menos de dois anos. 

“Aqui você tem a direita moderada e a direita mais radical. Netanyahu ainda não tem certeza a qual ele pertence. A direita moderada está disposta a se comprometer se sentir que há uma chance real de paz (com os palestinos). A direita radical, que representa cerca de 25% do eleitorado, enxerga esse conflito como sendo um jogo em que ‘é tudo nosso e nada deles’. Mas 75% do eleitorado não é assim. E a questão é como se quebra a aliança entre a direita moderada e a radical”, explica Yossi Klein Halevi, analista israelense autor do livro Cartas Para Meu Vizinho Palestino.

Américas

Democracias tidas como consolidadas nas Américas enfrentaram desafios inéditos. Nos EUA, o país considerado a maior democracia do mundo, as instituições políticas que garantiam os freios e contrapesos ao Poder Executivo foram colocadas em xeque por Donald Trump, e Joe Biden tem o desafio de reunificar o país.

No México, após duas décadas de construção de uma democracia com falhas, mas com pluralismo partidário, o líder de esquerda Andrés Manuel López Obrador tem abusado do populismo e, segundo analistas, usado sua popularidade para fazer referendos e atacar o Judiciário. Na Bolívia, onde a esquerda aliada a Evo Morales voltou ao poder com Luis Arce, e no Peru, onde o sistema político levou a renúncias e impeachments em sequência, a volatilidade política deve continuar. 

Europa

Governos autoritários de Polônia e Hungria desafiam a unidade da União Europeia. Sob o comando de Viktor Orbán e do partido Fidesz, a Hungria deu uma guinada autoritária. Reduziu a independência do Judiciário, perseguiu a oposição política, a imprensa livre e minou os direitos civis, dificultando a atuação de ONGs e o combate à corrupção nos altos escalões.

A Polônia segue o mesmo roteiro desde que Jaroslaw Kazcynski, líder do partido de extrema direita polonês Lei e Justiça (PiS), chegou ao poder, em 2015. Um relatório da Comissão Europeia publicado em setembro de 2020 afirma que “as reformas do judiciário polonês desde 2015 são fonte de controvérsia, tanto domesticamente e em nível da UE, e levanta vários problemas, vários desses ainda persistem”. 

Ásia

A pandemia de covid-19 acelerou tendências populistas e nacionalistas no mundo, mas a Ásia foi uma exceção. A China e a Coreia do Norte, é claro, continuam sendo Estados de um só partido, com pouco espaço para a liberdade de expressão, muito menos escolha política.

Mas as democracias da região resistiram ao lidar com a covid-19 com competência e manter suas economias à tona – e, no processo, reforçando a fé do público nos sistemas democráticos, casos de Japão, Coreia do Sul e Taiwan. No sul da Ásia, países como Índia e Paquistão, sofreram com o renascimento do discurso nacionalista. Na Ásia Central, a democracia nunca foi o forte, e países como Turcomenistão, Casaquistão e Usbequistão viram mais do mesmo: eleições fraudulentas ou dominadas por um autocrata.

África

O ano de 2020 foi marcado por eleições importantes em todo o continente africano. No total, 13 países foram às urnas. A complexidade do cenário é prova de que não há um padrão de democracia no continente, o maior em número de países – 54 – que abriga 1,3 bilhão de habitantes. Desses, 10 são democracias com algum grau de liberdade.

Outros 28 são regimes híbridos: onde as instituições democráticas tem pouca capacidade de atuar, mas não são uma ditadura. E 16 são regimes autoritários – mas só quatro nações não realizam nenhuma forma de eleição. Por outro lado, muitas dessas democracias passam por estados de fragilidade, e o continente. Muitos países sofreram com governantes que usaram a pandemia de covid-19 para reprimir a oposição ou impor mais controle sobre as instituições.

Oriente Médio

Há dez anos, o mundo assistia a um levante popular que provocou um terremoto no Oriente Médio, com jovens indo às ruas para protestar contra regimes repressores, pedindo liberdade e democracia. Depois da Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Síria e Iêmen se viram presos em um redemoinho que mudou a face do Oriente Médio e Norte da África.

Já a Turquia, que no fim do século 20 era considerada um exemplo regional, aos poucos teve suas instituições democráticas minadas pelo poder de Recep Tayyip Erdogan. Em Israel, o baluarte da democracia no Oriente Médio, os quase 12 anos de Binyamin Netanyahu no poder levaram ao aumento da polarização no país. No Irã, onde lampejos de movimentos sociais são sufocados pelo regime teocrático, a consolidação da democracia permanece distante. 

Oceania

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o número de mortes e casos da Oceania tem sido relativamente baixo: 943 mortes e 30.657 casos (até dezembro). A condução dada à crise pelo governo da Nova Zelândia chamou atenção e levou à reeleição da primeira-ministra Jacinda Ardern. O Partido Trabalhista, da primeira-ministra, venceu com ampla margem as eleições gerais de novembro, com quase 50% dos votos, um “resultado excepcional”, imediatamente reconhecido pela oposição. Os trabalhistas de centro-esquerda registraram 49% de apoio e seu aliado, o Partido Verde, somou 7,6%. O Partido Nacional, de Judith Collins, principal força de oposição, apareceu com 27%.

Fernanda Simas, O Estado de São Paulo, 10 de janeiro de 2021 / Colaboraram Paulo Beraldo, Levy Teles, Rodrigo Turrer, Renata Tranches e Thaís Ferraz.


Incutir a dúvida, colher a certeza

Quando o presidente da República diz que houve fraude nas eleições de 2018, ele está acusando a Justiça Eleitoral de cumplicidade ou negligência com o crime. Ou a Justiça fez parte da fraude ou não foi capaz de garantir a lisura do processo eleitoral. Diante disso, o que fazer? Este o tema do artigo de Miriam Leitão em O Globo, edição de hoje.

A Procuradoria- Geral da República (PGR) teria que notificar o presidente para a apresentação das provas, dado que ele está publicamente dando a notícia de um crime. O PGR nada faz que incomode o presidente.

Tudo se passa no Brasil como se a democracia não pudesse se defender de um ataque que está sendo preparado lenta e consistentemente. Em parte, me explicou uma autoridade do Judiciário, “porque tudo é muito inusitado”. Em parte, porque o PGR foi neutralizado. O presidente Jair Bolsonaro não está agindo por impulso. Está repetindo há dois anos fatos sem comprovação. Ele está incutindo a dúvida para colher a certeza. E nada se faz, além das notas de repúdio, porque é inusitado que um presidente da República conspire contra a democracia. Só que está acontecendo. Aqui e nos Estados Unidos.

Bolsonaro age de caso pensado e de forma coerente. Ele tem um plano e dois anos pela frente para executá-lo usufruindo da imunidade que o cargo lhe dá. O objetivo dele no final todos conhecem. A democracia brasileira não tem sabido usar os instrumentos para se defender. Esta semana ele deu um passo adiante ao fazer uma ameaça. A de que ocorreria aqui algo mais grave do que o que houve nos Estados Unidos caso o voto não seja impresso.

O presidente brasileiro justificou o que houve nos Estados Unidos. Bolsonaro disse que foi causado por fraude, e ela surgiu porque “potencializaram a tal da pandemia”. Com isso ele está alimentando duas mentiras. A de que a pandemia foi “criada” com um propósito. E a de que houve fraude nos Estados Unidos. Isso justificaria o ataque ao capitólio, pelo que se depreende dessa fala. De forma terminativa, garantiu: “ninguém pode negar isso aí.” Todos os tribunais americanos recusaram as alegações de Trump de que houve fraude, todos os estados, mesmo os governados pelos republicanos, certificaram a eleição. Ou seja, todo mundo pode negar isso aí que o presidente brasileiro está afirmando.

A democracia americana tem 200 anos e foi alvo de um ataque. Trump estimulou durante semanas a invasão do capitólio. E mesmo sendo um lame duck, um governante em fim de mandato e com poderes declinantes, as instituições dos fundadores da Pátria americana não foram capazes de evitar o assalto. Foi preparada a conspiração à luz do dia e pelas redes sociais. O presidente usou o aparato da presidência para falar aos seus seguidores no dia mesmo do atentado. E toda a reação é a posteriori.

Nós temos uma democracia jovem que já passou por duros testes. O general Etchegoyen, que foi ministro do governo Temer, disse numa entrevista a Andréa Jubé do “Valor” que o Brasil despreza a força da nossa democracia. “A cada tosse, achamos que ela não vai aguentar.”

Mas como não ter dúvidas se o próprio general é capaz de fazer a seguinte afirmação: “Qual a atitude efetiva de Bolsonaro de desapreço à Constituição Federal, comparável a de alguns ministros do STF que não se constrangeram em agredir a gramática para dar sustentação à esdrúxula tese de apoio à reeleição, na mesma legislatura, dos presidentes das duas Casas do Congresso?”

No STF, venceu o respeito à proibição da reeleição na Câmara e no Senado. Alguns ministros queriam ignorar o sentido da palavra “vedado”. Mas o general usa esses votos, que acabaram derrotados, para abonar o que Bolsonaro já fez. Ele não acha que seja atitude efetiva de desapreço pela Constituição o presidente participar de passeatas pedindo o fechamento do Congresso e do STF. Mesmo quando Bolsonaro foi para um desses eventos no helicóptero da Aeronáutica, tendo o ministro da Defesa a bordo, e disse que as Forças Armadas estavam com eles. O difícil, general, é encontrar demonstrações de apreço de Bolsonaro pela Constituição. Desapreço, há muitas. Etchegoyen é um general de pijama, hoje na iniciativa privada. Mas defende que Bolsonaro nunca mostrou desapreço pela democracia.

Diante dessa falta de sensibilidade para as afrontas à lei por parte de líderes políticos e militares, o presidente continua semeando dúvidas sobre o sistema eleitoral para colher o caos quando for a hora.

Miriam Leitão é analista de economia e política de O Globo. Publicado originalmente em 10.01.2021.

Com Alvaro Gribel (de São Paulo)

sábado, 9 de janeiro de 2021

Brasil precisa tomar cuidado com (o mau) exemplo de Trump

Bolsonaro insinuou que aqui seria ‘pior’. País precisará estar preparado para resposta política e institucional

A sociedade e as instituições republicanas brasileiras precisam se preparar. Numa referência aos eventos desta semana nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro insinuou que aqui ocorrerá o mesmo, caso perca a eleição em 2022: “Se não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, vamos ter problema pior que os Estados Unidos”.

Veladamente, a declaração deixa claro que ele está disposto a, mais uma vez, imitar seu mentor americano e incitar atos violentos e antidemocráticos. Por sinal, nem é preciso que perca. Desde muito antes da invasão do Capitólio pelas hostes trumpistas, Bolsonaro semeia dúvidas sobre as urnas eletrônicas e, sem apresentar prova, já denunciou fraudes eleitorais no Brasil até em 2018, quando ele próprio venceu.

O Brasil tem um sistema eleitoral mais confiável, eficaz e seguro que o americano. Todos os testes e auditorias externas comprovam isso. É indigente o argumento de que é preciso ter um rastro físico de cada voto, já que as seções eleitorais imprimem uma lista que fica à disposição dos fiscais partidários. Na prática, o rastro físico já existe. Tanto que a imposição do voto impresso por um projeto de Bolsonaro foi vetada pela presidente Dilma e declarada inconstitucional pelo Supremo.

Bolsonaro retomou o mote das fraudes eleitorais ao reverberar as denúncias infundadas feitas por Trump, todas derrubadas pela Justiça e pela recontagem de votos em vários estados. Claro que não é a lisura das eleições que está em jogo nas tentativas contemporâneas de autogolpe. A intenção é manter as bases radicais mobilizadas à espera de ordens como a que deu Trump para a invasão do Capitólio.

O projeto de desencadear uma crise institucional vem sendo esboçado há muito tempo, por atos e declarações descabidas do presidente e de seu clã. Trump incentivou um movimento de sedição e, ante a possibilidade de ser afastado antes da posse de Joe Biden, viu-se obrigado a recuar. A resposta política e institucional americana serve de exemplo. Como nossas instituições não têm a mesma resiliência, é preciso que o país se resguarde para evitar o “pior” a que Bolsonaro se referiu.

Houve acertada repulsa às palavras de Bolsonaro entre ministros do Supremo. “Uma importante lição da história é que governantes democráticos desejam ordem”, disse Luís Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Por isso mesmo não devem fazer acenos para desordens futuras, violência e agressão às instituições.” O ministro Edson Fachin foi ainda mais incisivo ao afirmar que “a violência cometida contra o Congresso americano deve colocar em alerta a democracia brasileira”.

É necessário desde já fortalecer a Constituição para evitar o retrocesso da democracia no país. A Carta já nos garantiu 33 anos consecutivos de democracia, recorde na República. Não se imagina que as Forças Armadas como instituição aceitem rasgá-la e retroceder a um passado longínquo. Ao contrário. Todas as armas que a Carta prevê na defesa do estado democrático de direito devem ser acionadas.

Editorial de O GLOBO, edição de 09.01.2021

(A expressão "o mau" no título foi inserida pelo editor do blog). 

Cada vez mais isolado, Trump é ameaçado novamente de impeachment

Processo, que leva semanas, pode não ser concluído antes que o presidente eleito Joe Biden tome posse, em 20 de janeiro.

Os democratas norte-americanos começeram a preparar, neste sábado (9), um segundo processo de impeachment contra o presidente Donald Trump, que não dá sinais de renunciar após a ação violenta de seus partidários no Capitólio.

Os democratas informaram que o processo de impeachment pode começar na segunda-feira (11) —num ritmo extraordinariamente acelerado de um processo que historicamente leva semanas, mas que pode não ser concluído antes que o presidente eleito Joe Biden tome posse, em 20 de janeiro.

A presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, alertou que os democratas vão lançar o processo a menos que Trump renuncie ou que o vice-presidente Mike Pence invoque a 25ª Emenda, onde o gabinete destitui o presidente.

"Ele é louco, desequilibrado e perigoso. Ele deve partir", tuitou Pelosi, referindo-se a Trump, na sexta-feira (8).

A nova ameaça de destituição ganhou força após a invasão do Capitólio na quarta-feira (6) por apoiadores de Trump, que terminou com cinco mortos, incluindo um policial.

As autoridades anunciaram neste sábado que prenderam 18 dos invasores, entre eles Jake Angeli, que se tornou um símbolo do ato contra o Capitólio com seu rosto pintado de vermelho, branco e azul e por usar uma chapéu de chifres de bisão.

Perigo para os EUA

O texto de impeachment que está sendo preparado pelos democratas culpa diretamente o presidente pelo incidente.

"Em tudo isso, o presidente Trump ameaçou gravemente a segurança dos Estados Unidos e de suas instituições de governo. Ele ameaçou a integridade do sistema democrático, interferiu na transição pacífica de poder e colocou em perigo um braço coordenado do governo".

O documento já foi assinado por pelo menos 180 congressistas, de acordo com o democrata Ted Lieu.

Trump, que pediu a seus partidários que se reunissem em Washington na quarta-feira para um protesto contra sua derrota nas eleições de novembro, segue firme, mesmo depois de finalmente postar um vídeo na quinta-feira prometendo tardiamente uma "transição ordenada" para o governo Biden.

Mas o presidente também ressaltou que era "apenas o começo da nossa luta".

Esse tipo de linguagem levou o Twitter a suspender a conta de Trump permanentemente e alimentou as ações dos democratas contra ele.

À suspensão de sua conta no Twitter, @realDonaldTrump, o republicano reagiu em um comunicado na sexta-feira acusando a plataforma de "coordenar com os democratas e a esquerda radical".

Biden cede ao Congresso

Vários democratas e pelo menos uma republicana — a senadora Lisa Murkowski, do Alasca — pediram que Trump renunciasse e evitasse a confusão de um processo de impeachment em sua última semana completa no poder.

Trump garantiu que não esperava que seus partidários atacassem o prédio do Capitólio, onde o Congresso se reunia para certificar a vitória de Biden, mas apenas pretendia encorajar protestos pacíficos.

Mas em meio ao caos daquele dia, uma apoiadora de Trump foi baleada e morta, legisladores, repórteres e funcionários foram forçados a se abrigar, um policial do Capitólio foi morto e os invasores saquearam e vandalizaram o edifício histórico.

Assim como quando Trump sofreu processo de impeachment em uma traumática votação partidária em 2019 — mas em que terminou sem ser condenado — o processo exige primeiro o apoio da maioria na Câmara de Representantes controlada pelos democratas e, em seguida, para a condenação, a aprovação de dois terços no Senado.

Atingir dois terços pode ser difícil num Senado dividido, mas vários republicanos que há muito apoiam Trump expressaram sua repulsa com os eventos de quarta-feira.

Apoiadores de Trump, incluindo o senador Lindsey Graham, pediram que Biden atue junto aos principais legisladores democratas para impedir o esforço de impeachment.

"Estou ligando para o presidente eleito Biden, para Nancy Pelosi e para o 'Squad' para encerrar o segundo impeachment", disse Graham na sexta-feira à Fox News, referindo-se à presidente da Câmara e a um grupo de quatro jovens democratas progressistas.

Mas Biden evitou, na sexta-feira, a pergunta de um repórter sobre o impeachment. "O que o Congresso decidir fazer é o que deve fazer", disse ele.

Por France Press / 09/01/2021, às  20h54. Publicado no Brasil pelo G1.

Brasil tem em média 988 mortes por coronavírus, maior número desde 22 de agosto; média de casos novos é recorde

País contabilizou 202.657 óbitos e 8.075.670 casos da doença desde o início da pandemia. Pelo segundo dia seguido, nenhum estado apresenta queda nas mortes.

Brasil tem 988 mortes por coronavírus em 24 horas e média de casos novos é recorde

O consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h deste sábado (9).

O país registrou 1.115 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 202.657 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 988, a maior desde 22 de agosto. A variação foi de +58% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de crescimento nos óbitos pela doença.

Em casos confirmados, desde o começo da pandemia 8.075.670 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 59.750 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 51.550 novos diagnósticos por dia, recorde desde que os dados começaram a ser medidos. Isso representa uma variação de +48% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de crescimento também nos diagnósticos.

Dezesseis estados, mais o Distrito Federal, estão com alta nas mortes: PR, RS, MG, RJ, SP, DF, GO, AC, AM, AP, RO, RR, TO, CE, PB, RN e SE.

Pelo segundo dia seguido, nenhum estado apresenta queda nas mortes.

Brasil, 9 de janeiro

Total de mortes: 202.657

Registro de mortes em 24 horas: 1.115

Média de novas mortes nos últimos 7 dias: 988 (variação em 14 dias: +58%)

Total de casos confirmados: 8.075.670

Registro de casos confirmados em 24 horas: 59.750

Média de novos casos nos últimos 7 dias: 51.550 por dia (variação em 14 dias: +48%)

Estados

Subindo (16 estados + DF): PR, RS, MG, RJ, SP, DF, GO, AC, AM, AP, RO, RR, TO, CE, PB, RN e SE

Em estabilidade, ou seja, o número de mortes não caiu nem subiu significativamente (10 estados): SC, ES, MS, MT, PA, AL, BA, MA, PE e PI

Em queda: 0 estado

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás (entenda os critérios usados pelo G1 para analisar as tendências da pandemia).

Vale ressaltar que há estados em que o baixo número médio de óbitos pode levar a grandes variações percentuais. Os dados de médias móveis são, em geral, em números decimais e arredondados para facilitar a apresentação dos dados.

Por G1, em 09.01.2021

Maia diz que Bolsonaro é 'covarde' e tem 'culpa' por 200 mil mortes causadas pela covid-19

Parlamentar atacou o presidente nas redes sociais, ao comentar notícia que afirma que o presidente credita a Pazuello o atraso nas vacinas e a queda da sua popularidade

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamou o presidente Jair Bolsonaro de "covarde" em uma publicação no Twitter na tarde deste sábado, 9. Minutos depois, Maia disse que Bolsonaro tem "culpa" pelas 200 mil mortes provocadas pela covid-19.

Primeiro, o parlamentar compartilhou uma nota da coluna Radar, da revista Veja, que aponta suposta insatisfação do chefe do Planalto com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

"Bolsonaro é covarde", escreveu Maia ao compartilhar a notícia com o título "Bolsonaro culpa Pazuello por perda de popularidade e atraso da vacina". A insatisfação, de acordo com a coluna da revista, teria sido manifestada em reunião ministerial convocada pelo Planalto para discutir a vacinação contra a covid-19. A coluna diz ainda que a situação de Pazuello diante do presidente melhorou um pouco depois que o ministro resolveu atacar a imprensa em uma entrevista coletiva nesta semana, atitude aprovada pelo chefe. Procurado, o Planalto não comentou a declaração do presidente da Câmara.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Foto: MARYANNA OLIVEIRA/AGÊNCIA CÂMARA

Após a pressão para o Brasil começar a vacinação, o Ministério da Saúde preparou um plano para aplicar as doses a partir deste mês. Na quinta-feira, 7, a pasta anunciou um contrato para comprar 100 milhões de doses da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e que será distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.

Na sequência, o presidente da Câmara fez mais uma publicação sobre o conoravírus. "Bolsonaro: 200 mil vidas perdidas até agora. Você tem culpa." Nesta quinta-feira, 7, o Brasil atingiu a marca de 200 mil mortes pela covid-19. Bolsonaro disse, naquele dia, que lamenta as vítimas da pandemia, mas que "a vida continua". 

Maia disputa com Bolsonaro o controle da Câmara dos Deputados a partir de fevereiro. Mais cedo, o parlamentar intensificou a reação após o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), candidato à presidência da Casa, ter feito um comentário sobre suposta pressão para influenciar o resultado. Maia afirmou que Lira, aliado de Bolsonaro, usa as mesmas práticas do "chefe" para dirigir ataques contra adversários.

'Bolsonaro é covarde', escreveu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Foto: Reprodução]]

Daniel Weterman, O Estado de São Paulo / 09 de janeiro de 2021 | 16h39

Banido do Twitter, Trump tenta sem sucesso usar perfis do governo e de campanha

O Twitter excluiu na sexta-feira (9) novos tuítes do presidente dos EUA, Donald Trump, dessa vez disparados da conta oficial do governo (@POTUS). A rede suspendeu ainda a conta de campanha presidencial (@TeamTrump) pelo mesmo motivo.

Horas depois de sua conta principal (@realDonaldTrump) ser banida, Trump tuitou "Não seremos SILENCIADOS!" da conta do governo, que possui 33,4 milhões de seguidores e é passada de presidente para presidente. 

"O Twitter não é sobre LIBERDADE DE EXPRESSÃO", prosseguiu Trump nos tuítes agora excluídos, acrescentando que está considerando construir sua própria plataforma de mídia social em um futuro próximo.

A conta de campanha do presidente foi outra a ser banida, logo depois dela enviar um tuíte com uma "declaração do presidente Trump" acusando o Twitter de "banir a liberdade de expressão" e coordenar com "os democratas e a esquerda radical" para silenciá-lo.

Gary Coby, diretor de campanha digital de Trump, tentou "emprestar" sua conta (@garycoby) para o chefe, mudando o nome do perfil para "Donald J. Trump" e colocando uma foto do chefe do executivo. Também foi suspensa.

Procurado, o Twitter disse que as contas usadas por Trump para tentar contornar a proibição podem enfrentar suspensão permanente sob suas políticas.

Da Reuters / Publicado pela CNN Brasil, em 09.01.2021

Veículo com bombas foi encontrado próximo ao capitólio, nos Estados Unidos

Na última quarta-feira (6), dia em que extremistas norte-americanos invadiram o congresso dos Estados Unidos, a polícia encontrou uma caminhonete, estilo pick up, com onze bombas caseiras explosivas e duas armas. 

O veículo estava estacionado a dois quarteirões do Capitólio e ficou parada por algumas horas até que os policiais descobrissem e o esquadrão anti-bombas desarmasse os explosivos.   

O dono da caminhonete foi encontrado pelos policiais. Ele estava na região e portava duas pistolas. O homem foi preso.

Outro homem também foi preso, acusado de enviar mensagens para conhecidos dizendo que ele queria matar a Presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi. Ele chegou a Washington um dia antes da invasão e nas mensagens ele dizia que iria atirar ou atropelar Pelosi.

Outros criminosos ainda estão sendo localizados pelo FBI e polícia norte-americana, que está utilizando tecnologia de reconhecimento facial. Ao todo, cinco pessoas morreram e mais de sessenta foram presas.  

Da CNN, em São Paulo / 09 de janeiro de 2021 (Publicada por Luiz Raatz)

Extremistas intensificam tom violento antes do Dia da Posse

Apoiadores de Trump invadiram o prédio do Capitólio, em Washington D.C / Foto: Reprodução/Twitter

"Trump ou guerra. Hoje. Simples assim”.

“Se você não sabe atirar, você precisa aprender. AGORA”.

“Vamos invadir os prédios do governo, matar policiais, matar seguranças, matar servidores e agentes federais e exigir uma recontagem”.

Nas semanas, dias e horas antes do cerco de quarta-feira (6) ao Capitólio pelos fiéis partidários do presidente Donald Trump, os sinais de alerta foram claros: postagens online de grupos de ódio e provocadores de direita conclamavam a guerra civil, as mortes de legisladores importantes e os ataques às forças policiais.

Agora, enquanto a poeira assenta e o país luta para dar sentido à violência que deixou cinco mortos – incluindo um oficial da Polícia do Capitólio dos Estados Unidos – especialistas alertam que os apelos à violência só estão intensificando antes do Dia da Posse, quando o presidente-eleito Joe Biden será empossado como comandante-chefe.

“Estamos vendo conversas desses supremacistas brancos, dos radicais da extrema direita - eles estão se sentindo encorajados neste momento”, afirmou Jonathan Greenblatt, CEO da Liga Antidifamação (ADL), que rastreia e combate o ódio. “Acreditamos que esta violência pode piorar antes de melhorar”.

O caos do dia 6 – que eclodiu durante um protesto para dissuadir o Congresso de certificar os resultados da vitória inequívoca de Biden – mostrou uma perda de controle e súbita quebra do vínculo que por quatro anos manteve Trump, seus apoiadores e a liderança republicana unidos. 

Depois que os arruaceiros derrubaram barricadas, agrediram policiais, quebraram janelas e invadiram o edifício sagrado da democracia (que havia sido invadido apenas uma vez na história, quando foi incendiado pelos militares britânicos invasores em 1814), Trump fez um morno apelo para que eles voltassem para casa – e, de novo, repetiu a mentira de que a eleição tinha sido roubada. Naquela noite, líderes republicanos naquela noite – incluindo o vice-presidente Mike Pence e o líder da maioria no Senado Mitch McConnell – condenaram os manifestantes nos termos mais veementes.

Mas tudo pareceu ter pouco efeito sobre a direita radicalizada.

“Trump SERÁ empossado para um segundo mandato em 20 de janeiro!!", disse uma pessoa no site thedonald.win, um fórum online pró-Trump, na quinta-feira, um dia após o ataque. “Não devemos deixar os comunistas vencerem. Mesmo se tivermos que queimar DC até as cinzas. Amanhã retomaremos DC e retomaremos nosso país!!”

Preocupações antes da posse

John Scott-Railton, pesquisador sênior do Citizen Lab, um grupo da Universidade de Toronto que monitora a segurança cibernética, disse que está “terrivelmente preocupado” com a posse.

“Enquanto o povo em geral ficou horrorizado com o que aconteceu (na quarta-feira) no Capitólio, em certos cantos de conversa de direita o que ocorreu é visto como um sucesso”, afirmou à CNN.

Nos dias e semanas antes do ataque ao Capitólio, sinais de que o protesto poderia se transformar em violência eram abundantes.

A Advance Democracy, Inc., uma agência apartidária de governança, destacou os sinais de alerta nas redes sociais. Nos seis dias que antecederam o evento, por exemplo, havia 1.480 postagens de contas relacionadas à QAnon que faziam referência ao evento e continham termos de violência. Segundo o relatório, vários posts no Parler se referiram a uma guerra, incluindo declarações como “a guerra começa hoje”.

Ali Alexander, um ativista político que organizou comícios pró-Trump, incluindo uma das manifestações que convergiram no gramado do Capitólio na quarta-feira, acusou a esquerda de “tentar nos empurrar para a guerra”. No final de dezembro, Alexander disse a seguidores no Periscope que ele e três congressistas republicanos – os deputados Paul Gosar e Andy Biggs do Arizona e Mo Brooks do Alabama – estava planejando algo grande.


Apoiadores de Donald Trump protestam em frente ao capitólio / Foto: REUTERS/Mike Theiler

“Era para criar um ímpeto e gerar pressão e, então, no dia seguinte, mudar os corações e mentes das pessoas do Congresso que ainda não haviam decidido ou que viam toda aquela gente do lado de fora e pensavam: ‘Não posso estar do lado oposto dessa multidão’”, disse Ali, que insistiu, entretanto, que não tenha pedido violência.

A CNN procurou os escritórios dos três congressistas, mas apenas Biggs respondeu, com uma declaração de um porta-voz negando que ele tenha trabalhado de alguma forma com Alexander ou qualquer manifestante.

“O congressista Biggs não tem conhecimento de ter ouvido falar ou se encontrado com o Senhor Alexander em nenhum momento – muito menos de ter trabalhado com ele para organizar parte de um protesto planejado”, disse o porta-voz. “Ele não teve nenhum contato com manifestantes ou arruaceiros, nem encorajou ou fomentou a manifestação ou protestos. Ele estava concentrado em sua pesquisa e nos argumentos para trabalhar dentro dos limites da lei e estabelecer precedentes para restaurar a integridade de nossas eleições e garantir que todos os norte-americanos – independentemente da filiação partidária – possam novamente ter total confiança em nossos sistemas eleitorais”.

Agências emitiram avisos antes do cerco

Várias organizações que monitoram o extremismo online emitiram avisos antecipadamente.

Em 4 de janeiro, a ADL publicou uma longa postagem em seu blog detalhando ameaças de violência relativas ao comício que se aproximava.

“Em resposta a um usuário que se perguntou o que aconteceria se o Congresso ignorasse a ‘evidência’ de que o presidente Trump venceu a eleição, um usuário escreveu: “Invadir o Capitólio’'", diz a postagem do blog da ADL.

O post continuou a dizer que, embora não tivesse conhecimento de quaisquer ameaças credíveis de violência planejadas para 6 de janeiro, “se o passado é alguma indicação, a combinação de uma presença extremista nos comícios e a natureza acalorada da retórica sugere que a violência é uma possibilidade”.

Também em 4 de janeiro, uma análise de risco feita pela empresa de segurança G4S afirmou que “a retórica atual sugere que haverá participantes com intenções violentas, incluindo grupos de milícias armadas” entre 6 e 20 de janeiro, data da posse.

A análise citou vários posts nas últimas semanas defendendo a violência no site de direita thedonald.win, incluindo uma do final de dezembro que dizia: “Teremos que alcançar uma vitória tática real, como invadir e ocupar o Congresso, para ter o efeito pretendido”.

Outro disse: "Patriotas que AINDA, NESTE MOMENTO, são covardes demais para tolerar a violência, são parte do problema”.

Especialistas em segurança disseram que ficaram intrigados com a resposta direta da polícia.

“É surpreendente o porquê do policiamento muito menos agressivo”, disse Jonathan Wood, diretor de análise de risco global da Control Risks, com sede em Londres. “Muitos analistas de segurança ficaram surpresos com a falta de segurança e de uma resposta de segurança robusta”.

Policiais pegos de surpresa

Policiais federais e locais insistem que não faziam ideia de que o cerco aconteceria.

“Não houve inteligência que sugerisse que haveria uma violação do Capitólio dos EUA”, disse o chefe de polícia de DC, Robert Contee, em uma entrevista coletiva no dia seguinte.

Steven A. Sund, que renunciou ao cargo de chefe da Polícia do Capitólio dos EUA em meio a críticas sobre a aparente falta de preparo para lidar com a multidão violenta, disse em um comunicado que o departamento tinha um plano robusto para lidar com “atividades previstas da Primeira Emenda”. A Primeira Emenda garante o direito de se expressar e se manifestar, entre outras coisas.


“Mas, não se enganem: esses distúrbios em massa não foram atividades da Primeira Emenda, foram um comportamento criminoso desenfreado”, continuou.

Manifestantes pró-Trump invadem Capitólio / Foto: Leah Millis/Reuters

Quanto à segurança no Dia da Posse, o Serviço Secreto divulgou um comunicado dizendo que seus planos para o evento estão em construção há muito tempo.

“A posse do presidente dos Estados Unidos é um elemento fundamental de nossa democracia”, disse a agência em um comunicado. “A segurança e proteção de todos os participantes da 59ª posse presidencial é de extrema importância”.

Robert Dodge, presidente de serviços de risco corporativo da G4S (que emitiu o alerta de 4 de janeiro) disse nos meses que antecederam 6 de janeiro, viu “muita retórica preocupante e hostil, que em nosso mundo chamamos de indicador de ameaça”.

Ele acrescentou que o edifício do Capitólio dos EUA parecia não ter a fortificação adequada.

“Será que as pessoas que se aproximam do Capitólio viram um nível adequado de barreiras físicas, de barreiras psicológicas, como sinais dizendo não cruze esta linha ou você será preso?", questionou. “Você viu as janelas de vidro sendo quebradas. Por que algumas delas não foram reforçadas? Parece que houve alguns ameaças sérias de segurança física que foram deixados para a polícia do Capitólio mitigar”.

Varridos pela desinformação

Não são apenas os elementos marginais que foram arrastados pelo fervor atual. Misturando-se à multidão de grupos de milícias, nacionalistas brancos e teóricos da conspiração de alto nível no gramado do Capitólio na quarta-feira, estavam outros cidadãos que fizeram a viagem para questionar a certificação da eleição.

Uma era a moradora do Texas e ex-candidata a prefeita Jenny Cudd, cujo slogan de campanha foi simplesmente "Jenny para Prefeita".

Depois de protestar contra o que ela descreveu como fraude eleitoral e uma eleição roubada, ela pediu a morte daqueles que cometeram traição.

“Tudo o que precisamos é de um enforcamento em praça pública, e então as pessoas começarão a agir da maneira certa. Acho que seria útil se ainda tivéssemos o pelotão de fuzilamento para a pena de morte”, disse Cudd. “Veremos se haverá um enforcamento público em nosso futuro porque esse ainda é considerado um jeito válido de morte por traição".

Cudd postou um vídeo na noite anterior aos protestos, no qual falou sobre como o dia seguinte seria um "tumulto".

“Não sei o que vocês pensam sobre uma revolução, mas sou totalmente a favor”, afirmou. “Ninguém realmente quer guerra, ninguém quer derramamento de sangue, mas o governo trabalha para nós e infelizmente parece que eles se esqueceram disso, muito; então, se uma revolução é necessária, que seja”.

Donald Trump discursou para apoiadores nesta quarta-feira (6)

Foto: CNN Brasil (6.jan.2021)

A rede de notícias de direita OANN postou uma foto de Cudd no Twitter na tarde de quarta-feira, mostrando-a dentro do Capitólio, usando uma bandeira Trump como uma capa. Naquela noite, ela postou um vídeo de seu hotel, onde bebeu uma cerveja e sufocou as lágrimas enquanto conduzia seus seguidores sobre o que havia acontecido naquele dia.

“O momento em que Pence nos traiu foi quando decidimos invadir o Capitólio”, disse.

Na sexta-feira, Cudd disse a uma agência de notícias de TV local que ela não fez nada ilegal.

“Eu subi mesmo os degraus e daí vi uma porta aberta para o Capitólio”, contou. “Eu, pessoalmente, não destruí nada, destruí nada”.

Em resposta a um pedido de comentário da CNN na sexta-feira, Cudd mandou uma mensagem de texto com um link para um vídeo dela mesma repetindo uma versão da declaração que ela fez para o meio de comunicação local, dizendo: “a cultura do cancelamento está em pleno vigor” e que ela recebeu “várias ameaças de morte, junto com milhares de avaliações de uma estrela” para sua empresa.

Joel Finkelstein, diretor do Network Contagion Research Institute da Universidade Rutgers, disse que conspirações na web cresceram de sites menores e obscuros como o 8kun, frequentado por adeptos do QAnon, a sites mais populares como Facebook, Twitter e Instagram. O resultado, disse ele, é que muitas das pessoas atraídas pelos protestos de quarta-feira não eram extremistas, mas sim norte-americanos comuns que não entenderam que haviam sido enganados.

“São nossos vizinhos: eles são nossos vizinhos e amigos”, contou. “São pessoas que todos conhecemos. Eles estavam fazendo isso no Facebook. Eles estavam fazendo isso no Twitter. As ameaças à nossa democracia não vêm apenas do 8chan. E não estão vindo apenas da QAnon”.

Algumas das conversas mais violentas nas redes sociais refletem o que parece ser uma hostilidade crescente para com os líderes republicanos por parte dos apoiadores de Trump.

“Tenho quase certeza de que ver Pelosi e Mitch escroto balançando os corpos em uma corda vai trazer mais atenção do gado que normalmente não segue ou se preocupa com política”, disse um comentarista na quarta-feira no thedonald.win.

Como as forças policiais começaram a agir com mais peso sobre grupos extremistas de direita (o líder dos Proud Boys, Henry “Enrique” Tarrio foi preso pela polícia de DC antes do protesto de 6 de janeiro), os especialistas estão percebendo uma antipatia crescente pela polícia nesses círculos, que tendem a se considerar aliados de homens e mulheres uniformizados.

“Isso cria uma situação muito perigosa”, pontuou Cassie Miller, analista de pesquisa sênior do Southern Poverty Law Center. “Porque não só pode haver encontros violentos com os esquerdistas, mas também aumenta o potencial de que haverá um confronto violento com os policiais também”.


Yahya Abou-Ghazala da CNN, Nelli Black, Blake Ellis, Drew Griffin, Melanie Hicken e Benjamin Naughton contribuíram para esta reportagem.

Rob Kuznia, Curt Devine, Scott Bronstein e Bob Ortega, da CNN. Publicado pela CNN Brasil, em 09 de janeiro de 2021 às 13:08. / (Texto traduzido, leia o original em inglês).

Banido do Twitter, Trump tenta sem sucesso usar perfis do governo e de campanha


Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

O Twitter excluiu na soto: REUTERSexta-feira (9) novos tuítes do presidente dos EUA, Donald Trump, dessa vez disparados da conta oficial do governo (@POTUS). A rede suspendeu ainda a conta de campanha presidencial (@TeamTrump) pelo mesmo motivo.

Horas depois de sua conta principal (@realDonaldTrump) ser banida, Trump tuitou "Não seremos SILENCIADOS!" da conta do governo, que possui 33,4 milhões de seguidores e é passada de presidente para presidente. 

"O Twitter não é sobre LIBERDADE DE EXPRESSÃO", prosseguiu Trump nos tuítes agora excluídos, acrescentando que está considerando construir sua própria plataforma de mídia social em um futuro próximo.

A conta de campanha do presidente foi outra a ser banida, logo depois dela enviar um tuíte com uma "declaração do presidente Trump" acusando o Twitter de "banir a liberdade de expressão" e coordenar com "os democratas e a esquerda radical" para silenciá-lo.

Gary Coby, diretor de campanha digital de Trump, tentou "emprestar" sua conta (@garycoby) para o chefe, mudando o nome do perfil para "Donald J. Trump" e colocando uma foto do chefe do executivo. Também foi suspensa.

Procurado, o Twitter disse que as contas usadas por Trump para tentar contornar a proibição podem enfrentar suspensão permanente sob suas políticas.

 Da Reuters / Publicado no Brasil pela CNN Brasil, em 09 de janeiro de 2021 às 14:26 | Atualizado 09 de janeiro de 2021 às 14:30

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Declarações de Bolsonaro e extremismo nos EUA ligam alerta nas Forças Armadas

Na avaliação dos integrantes das Forças Armadas, manifestações incentivadas por uma autoridade legalmente constituída, como Bolsonaro, podem ganhar maior proporção.

(crédito: Acácio Pinheiro/Agência Brasília)

As declarações do presidente Jair Bolsonaro de que atos de violência, como os vistos na invasão do Congresso dos Estados Unidos, possam se repetir no Brasil em 2022 levantaram o alerta da alta cúpula das Forças Armadas. A avaliação, dentro de Exército, Marinha e Aeronáutica, é de que os militares, dificilmente, embarcariam em uma investida autoritária contra um presidente eleito. No entanto, existem preocupações com manifestações civis.

Um dos fatos lembrados no setor é a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), convocado pelo presidente Michel Temer, em 2017, contra manifestantes resistentes à reforma da Previdência e que depredaram edifícios da Esplanada. Naquele dia ocorreram tentativas falhas de invasão ao Congresso, repelidas pelas forças de segurança.

No entanto, na avaliação dos integrantes das Forças Armadas, manifestações incentivadas por uma autoridade legalmente constituída, como Bolsonaro, podem ganhar maior proporção, assim como ocorreu na capital norte-americana. “O que temos de ressaltar é que a nossa sociedade é mais jovem e imatura do que a norte-americana”, destaca um integrante da Aeronáutica, ouvido pela reportagem.

Repetição

Entre os especialistas, as impressões são parecidas, com maiores preocupações em torno de manifestações civis. O cientista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, lembrou que o discurso de Bolsonaro de contestar o processo eleitoral vem de antes de sua eleição. “Já disse que tem provas sobre isso, mas nunca apresentou. Se ele perder em 2022, vai colocar em dúvida as nossas urnas e pode acontecer coisa semelhante com o que ocorreu nos Estados Unidos”, afirmou. No entanto, Noronha acrescentou que os Poderes constituídos não vão corroborar a insurgência, tampouco as Forças Armadas.

“Não vai haver apoiamento por parte das Forças Armadas, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), do Congresso e, muito menos, do Supremo (Supremo Tribunal Federal). Existem mecanismos institucionais e democráticos de questionamento. Houve na chapa da ex-presidente Dilma e há em curso da chapa do próprio Bolsonaro”, pontuou. “A confusão pode ocorrer, mas não terá apoio, mesmo com militares no governo, porque estão lá como pessoas físicas e não como instituição. O risco de os militares apoiarem isso é muito baixo”, estimou.

Para o cientista político João Feres Júnior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do Observatório do Legislativo Brasileiro, Bolsonaro cooptou os militares, empregando muitos deles, que ganham adicional no salário. “Essas pessoas vão apoiá-lo, muito mais por motivação econômica do que ideológica, mas isso não quer dizer que a instituição Forças Armadas vai se arriscar nessa aventura”, analisou.

Vicente Nunes, Simone Kafruni e Renato Souza / Correio Braziliense. Postado em 08/01/2021 06:00 / atualizado em 08/01/2021 15:10.

Temores sobre instabilidade de Trump assombram os últimos dias de seu mandato


Donald Trump, presidente dos Estados Unidos / Foto: REUTERS

Os Estados Unidos enfrentam agora 13 dias de perigo antes da partida de um comandante-chefe desequilibrado, capaz de enviar invasores para o Capitólio dos EUA em um ato de insurreição que destruiu uma tradição de mais de 220 anos de transições pacíficas de poder.

O comportamento golpista do presidente Donald Trump provocou uma crise total dentro de seu bunker da Casa Branca em seus últimos dias, após um rompimento com seu ultraleal vice-presidente Mike Pence, que se recusou a se juntar ao esforço fútil, mas destrutivo, para reverter o resultado da eleição.

Depois de orquestrar um dos dias mais notórios da história política dos Estados Unidos e arrasar a democracia ao se recusar por semanas a aceitar sua derrota, Trump repentinamente emitiu um comunicado de madrugada, prometendo uma transição ordenada de poder para o presidente eleito Joe Biden em 20 de janeiro.

Mas, como de costume, a mudança pareceu motivada por interesse próprio, em vez de um senso de dever, pois soou como uma tentativa de conter uma onda de demissões da Ala Oeste da Casa Branca, ao mesmo tempo em que se travavam conversas sobre um impeachment ou esforço do Gabinete para invocar a 25ª Emenda para forçá-lo a deixar o cargo.

Em cenas inacreditáveis na quarta-feira, bandidos saqueadores marcharam direto de um comício incendiário de Trump para invadir o Capitólio. O objetivo deles era impedir os legisladores de finalizar a vitória do presidente eleito Joe Biden antes da posse em 20 de janeiro. Mas a confusão, com arruaceiros quebrando janelas e sitiando legisladores, chegando até os plenários da Câmara e do Senado, teve o efeito oposto, apressando o momento de repúdio para o presidente e suas alegações infundadas de uma eleição roubada.

Uma série de republicanos do Senado que pretendia prolongar a façanha do presidente mostrou repulsa pela tomada do Capitólio, a casa da democracia, em uma culminação feia de uma presidência sem lei. Mas, apesar da indignação perpetrada pelos apoiadores de Trump, mais de 100 de seus aliados na Câmara – uma maioria de republicanos – ainda votaram para sustentar alegações totalmente falsas de fraude eleitoral. 

Pouco antes das 4h da manhã da quinta-feira (7), horário do leste dos EUA, Pence leu a contagem final dos votos eleitorais – 306 a 232 a favor do presidente eleito – e então a Constituição e a vontade do povo triunfaram sobre a atordoante tentativa de golpe de Trump.

Pouco depois, o presidente emitiu uma declaração por escrito prometendo uma transição ordenada em 20 de janeiro, embora tenha dito que discordava do resultado da eleição, mais uma vez repetindo falsas afirmações sobre como os fatos estavam do seu lado.

“Embora isso represente o fim do maior primeiro mandato da história presidencial, é apenas o começo de nossa luta para Tornar a América Grande Novamente!”, Trump escreveu.

A violação do Capitólio pela primeira vez desde 1814 ofuscou resultados extremamente significativos de duas eleições de segundo turno na Geórgia que entregou aos democratas o controle do Senado. As vitórias do reverendo Raphael Warnock e de Jon Ossoff transformarão as perspectivas para a presidência de Biden. Mesmo assim, o governo vai começar com uma nação dividida em duas pelo comportamento sedicioso de Trump e consumida por uma pandemia assassina e crescente que produziu um novo recorde diário de mais de 3.800 mortes.

Mas, antes disso, há uma preocupação crescente com a estabilidade de um presidente que teve suas contas no Twitter e no Facebook suspensas por causa da incitação da violência, mas mantém o poder total da presidência e os códigos nucleares.

Dentro de seu bunker na Casa Branca na noite de quarta-feira, Trump teve reações explosivas sobre sua derrota e aquilo que ele vê como traição de Pence.

Algumas autoridades estavam considerando sua renúncia, incluindo o conselheiro de segurança nacional Robert O'Brien. Seu vice no conselho, Matt Pottinger, pediu demissão na tarde de quarta-feira, segundo fontes contaram à CNN. Uma fonte do Partido Republicano disse que alguns membros do Gabinete mantiveram discussões preliminares sobre invocar a 25ª Emenda para forçar a remoção de Trump do cargo, alegando que ele não está apto para servir. Houve exigências de alguns democratas da Câmara para desencadear um processo de impeachment imediato. 

Após a resolução do tumulto, segue a perspectiva alarmante de um presidente incontrolável agindo com liberdade, acompanhado de uma cadeia de comando fragmentada na Casa Branca. Há graves implicações para a segurança nacional e a possibilidade de criar um vácuo que conduza a mais distúrbios.

Não está claro se os esforços para retirar o presidente consigam de fato fazê-lo. Mas eles refletem extrema preocupação até mesmo de autoridades e republicanos que apaziguaram seus impulsos selvagens e abusos de poder por quatro anos turbulentos.

Afinal, um presidente que já sofreu impeachment uma vez, que foi gravado tentando roubar a eleição na Geórgia no fim de semana passado e que nunca reconheceu os limites de seu cargo está agindo de uma forma que sugere que ele pensa que não tem nada para perder.

“Ele está fora de si", disse uma fonte que mantém contato frequente com Trump para Jim Acosta, da CNN.

O historiador presidencial Douglas Brinkley expressou preocupação com os danos que um presidente sem amarras e furioso poderia causar nas próximas duas semanas.

“Qualquer pessoa em qualquer agência federal tem que ficar de olho em Donald Trump porque ele está agindo e pensando de maneira irracional”, aconselhou Brinkley.

Um momento surreal

A verdade mais terrível revelada pelo ataque ao Capitólio não foi o ato em si. Foi a loucura de um presidente que voltou seus insurgentes contra o legislativo do país e que aprofundou ainda mais as divergências políticas que se agravarão muito depois de ele deixar o cargo.

O espetáculo de desordeiros, agitando bandeiras com o nome de Trump e usando bonés “Make America Great Again” (Tornar a América Grande Novamente) subindo os degraus abaixo da cúpula que brilha como um farol de autogoverno era surreal demais para se acreditar. Mas, embora chocantes, as cenas sem precedentes de uma horda norte-americana violenta andando pelos corredores do Congresso, de armas de policiais sendo sacadas no plenário e de desordeiros quebrando janelas não podem ser consideradas uma surpresa.

Foram, na verdade, o clímax lógico de uma presidência impregnada de demagogia, teorias da conspiração, incitação à violência e o desprezo de um homem forte pela Constituição. Eles foram o resultado inevitável de anos de desinformação e instigação de Trump, seus assessores e seus propagandistas mentirosos na mídia que deixaram milhões de norte-americanos acreditando em suas falsas alegações de uma eleição fraudulenta. 

A vergonha de um dia sombrio na história dos EUA é compartilhada por todos aqueles que zombaram das advertências de que a traição política de Trump estava fermentando uma explosão, incluindo legisladores republicanos, que foram cúmplices de suas alegações ridículas de fraude eleitoral depois de apoiar sua maligna presidência.

“Vamos descer... para o Capitólio”, disse Trump no comício perto da Casa Branca, preferindo a frase que acendeu a chama para um dia de confusão no momento em que o Congresso se reunia para finalizar a vitória eleitoral de Biden.

“Você nunca vai recuperar nosso país com fraqueza, você tem que mostrar força, você tem que ser forte”.

As cenas terríveis horrorizaram o mundo, incrédulo diante de imagens que lembravam as revoltas e rebeliões palacianas das instáveis “repúblicas das bananas”, em vez dos rituais majestosos da suposta última melhor esperança para a democracia na Terra.

“Isto não é a América”, disse Josep Borrell, uma alta autoridade da União Europeia, no Twitter.

Infelizmente, e pelo contrário, estes são os Estados Unidos forjados pelo presidente mais vingativo do país, cujos abomináveis quatro anos no poder alimentaram uma “carnificina americana” mais perigosa do que a crise econômica que ele condenou em seu discurso inaugural proferido há quase quatro anos – nas mesmas escadarias invadidas pelos seus capangas.

Na verdade, o dia de infâmia começou com o FBI abrindo uma investigação sobre uma ameaça aparentemente falsa, transmitida nas frequências de controle de tráfego aéreo, dizendo que um avião seguia na direção do Capitólio para vingar a morte de um importante general iraniano pelos EUA no ano passado. O perigo do dia não veio de fora, mas de dentro, já que a turba de Trump deu início a um evento que só aconteceu uma vez na história, há mais de 200 anos, quando exércitos invadiram o Capitólio em 1814.

Houve um debate recente entre os jornalistas sobre como se referir à tentativa de Trump de roubar a eleição livre e justa que ele perdeu, sua recusa em honrar uma transição pacífica de poder e seu incitamento de apoiadores furiosos para interromper o processo constitucional.

“Isso é o mais próximo de uma tentativa de golpe que este país já viu”, disse o ex-chefe da polícia de Washington, Charles Ramsey, à CNN.

Timothy Naftali, historiador presidencial da CNN e professor da Universidade de Nova York, disse que Trump quebrou uma sequência dourada da democracia que sustentou a liberdade norte-americana.

“Hoje foi a primeira vez em nossa história que um presidente se opôs a uma transição pacífica de poder”, afirmou Naftali.

Um episódio “vergonhoso”

A questão agora é se a indignação de quarta-feira será uma erupção única, que uma vez reprimida, se tornará uma terrível memória de uma presidência que dividiu o país.

Os sentimentos amargos desencadeados por Trump, porém, não estão confinados às dezenas de milhares de apoiadores que se reuniram em Washington. O presidente e seus truques de mídia semearam uma perniciosa desconfiança da democracia em vastas áreas do país. A maioria dos eleitores de Trump não é violenta. Mas milhões deles acreditam em suas mentiras sobre a eleição ter sido roubada – e acham que seu país está sendo tirado deles. Isso levanta a possibilidade de que a agitação de quarta-feira (6) vá além dos estertores violentos de uma presidência fracassada, e seja uma força venenosa que não só frustrará as esperanças de Biden de curar as divisões corrosivas, mas se agravará assim que Trump deixar o cargo e lhe oferecer uma plataforma para o extremismo continuado.

O senador republicano de Utah Mitt Romney disse que a melhor maneira de mostrar respeito pelos eleitores que estão chateados com o resultado da eleição não é perpetuar as mentiras de Trump, mas dizer-lhes a verdade.

“Aqueles que escolherem continuar a apoiar sua jogada perigosa, objetando aos resultados de uma eleição legítima e democrática, serão vistos para sempre como cúmplices de um ataque sem precedentes contra nossa democracia”.

Vários senadores republicanos ficaram irritados com os eventos de quarta-feira, muitos deles os mesmos que aprovaram a impunidade pelos abusos de poder anteriores de Trump, votando para absolvê-lo em seu julgamento de impeachment, e forjaram um casamento de conveniência com Trump para perseguir objetivos comuns, entre eles confirmar juízes conservadores.

“Trump e eu tivemos uma jornada infernal. Eu odeio terminar assim. Ah, meu Deus, eu odeio isso”, disse o senador da Carolina do Sul Lindsey Graham. “Tudo o que posso dizer é contem comigo. Basta”, disse Graham.

Líder da maioria no Senado, Mitch McConnell condenou a violência e reforçou sua oposição aos esforços para barrar a vitória de Biden.

“Não seremos mantidos fora desta câmara por bandidos, turbas ou ameaças", disse McConnell. “Certificaremos o vencedor da eleição presidencial de 2020”.

Pedidos de demissão de última hora e reconhecimentos da vitória de Biden, no entanto, dificilmente são perfis de coragem após a indulgência concedida pelos republicanos à conduta antidemocrática de Trump e semanas apaziguando sua negação da vitória de Biden.

Trump em silêncio no caos

Enquanto os membros do Congresso se protegiam sob seus assentos e seus apoiadores vagavam pelos escritórios dos líderes do legislativo, Trump não fez nada – a não ser assistir a desordem que ele havia provocado se desdobrar pela TV.

Uma fonte disse a Kaitlin Collins da CNN que Trump estava mais preocupado com o que ele vê como deserção política de Pence depois que o vice-presidente anunciou que não iria tentar interromper a certificação da vitória de Biden – um passo que, de qualquer forma, ele não tinha poder de tomar. Por fim, Trump divulgou um vídeo dizendo aos manifestantes para irem para casa, mas agravou a situação ao fazer mais acusações vergonhosas e falsas sobre uma eleição roubada.

O silêncio do presidente quando a violência real grassava contrastava com suas alegações pré-eleitorais incessantes e falsas de que hordas esquerdistas estavam correndo desenfreadamente pelas cidades dos Estados Unidos e seus apelos pela restauração da “Lei e Ordem”.

E as aparentemente escassas forças da Polícia do Capitólio dos EUA que foram oprimidas no Congresso contrastaram fortemente com as falanges fortemente armadas das forças de segurança de Trump despejadas nas ruas cheias durante os protestos Black Lives Matter no meio do ano passado. Naquela ocasião notória, o Departamento de Justiça enviou tropas federais à Lafayette Square com gás lacrimogêneo para afastar os manifestantes antes de uma absurda foto presidencial.

Sobra para Biden – que assumirá o cargo em um país que se quebrou pela divisão de Trump e por uma pandemia que agora está ceifando mais de 3.000 vidas por dia no país – oferecer a mão firme da liderança.

“Isso não é dissidência. É desordem. É o caos. É quase uma insubordinação”, disse Biden em um discurso em Delaware.

Stephen Collinson, da CNN / 07 de janeiro de 2021 às 17:44

(Texto traduzido. Leia o original em inglês). Publicado por CNN Brasil.


 

Trump questiona assessores se é possível conceder perdão presidencial a si mesmo

O presidente Donald Trump tem perguntado a assessores e advogados, incluindo o advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, sobre o poder que tem para conceder um perdão presidencial a si mesmo, disseram várias fontes à CNN americana.

Algumas dessas conversas aconteceram nas últimas semanas. Não está claro se foram realizadas novas consultas após os incidentes violentos no Capitólio na quarta-feira, fomentados por questionamentos de Trump à eleição, ou depois da divulgação de áudios em que pede ao secretário de Estado da Geórgia para "encontrar votos".

Segundo as fontes da CNN americana, Trump perguntou a assessores e advogados sobre as consequências jurídicas e políticas de conceder perdão a ele próprio.

A história foi relatada antes no New York Times, que noticiou na quinta-feira que Trump sugeriu em conversas desde o dia da eleição que deseja se perdoar, citando duas pessoas familiarizadas com as discussões.

Segundo as fontes, o presidente pediu opiniões de especialistas para saber se tem autoridade para emitir um perdão pessoal e foi informado sobre potenciais consequências políticas. Não está claro se Trump quer levar a ideia adiante.

Outra fonte disse que essa  possibilidade não está em andamento no escritório do advogado da Casa Branca atualmente, mas isso não significa que não acontecerá ou que o Departamento de Justiça do Escritório de Consultores Jurídicos não esteja analisando o assunto.

A CNN já havia relatado que Trump vinha perguntando a assessores desde 2017 sobre seu poder de perdão a si mesmo e estava "obcecado" com a ideia. Recentemente, aliados de Trump, como Sean Hannity na Fox News, sugeriram publicamente que ele deveria fazer isso. Trump também tuitou que acredita ter o poder para tomar a medida.

"Como foi declarado por vários estudiosos do direito, eu mesmo tenho o direito absoluto de perdão, mas por que eu faria isso se não fiz nada de errado?", disse o presidente em 2018.

Ainda assim, o perdão presidencial não foi testado e os especialistas estão divididos quanto à sua constitucionalidade. Um memorando legal do Departamento de Justiça diz que o presidente não pode perdoar a si mesmo, mas pode deixar o cargo e pedir ao vice-presidente para assumir e perdoá-lo. No entanto, esse memorando não é vinculativo.

O analista jurídico da CNN americana, Elie Honig, observou no ano passado que um perdão pessoal provavelmente desencadearia uma série de contestações judiciais visando desfazer a manobra.

"Um promotor primeiro teria que indiciar Trump, não obstante o autoperdão. Em seguida, a questão seria litigada nos tribunais, provavelmente até a Suprema Corte. Dado o peso da autoridade constitucional e histórica (incluindo a opinião do Departamento de Justiça), um perdão pessoal provavelmente não seria mantido; mas não há quase nenhuma desvantagem para Trump em pelo menos dar uma chance e ver se dá certo", escreveu Honig em julho.

"Um escudo insuficiente é melhor do que nenhum escudo", disse ele.

Trump usou amplamente seus poderes de clemência contra condenados da Justiça que são leais, bem relacionados ou adjacentes à sua família. Ele também ignorou em grande parte o processo governamental estabelecido para revisar e recomendar pedidos de clemência, em vez de confiar na palavra de amigos, doadores e apresentadores da Fox News.

No mês passado, o presidente anunciou uma onda de perdões, incluindo o aliado de longa data Roger Stone, o ex-presidente da campanha Paul Manafort e Charles Kushner, pai do conselheiro sênior da Casa Branca Jared Kushner.

Enquanto todos os presidentes emitem indultos polêmicos ao final de seus mandatos, Trump se moveu em um ritmo mais rápido do que seus antecessores, demonstrando pouca inibição para recompensar seus amigos e aliados usando um dos poderes mais irrestritos de seu cargo.                              

Por Pamela Brown e Jeremy Diamond, da CNN / 08 de janeiro de 2021 às 01:58 | Atualizado 08 de janeiro de 2021 às 16:03

Ameaça à democracia será contínua nos próximos 2 anos

Mesmo que por vezes faça recuo táticos, como aliar-se ao Centrão, Bolsonaro nunca abandonou o objetivo final de quebrar o contrato democrático instaurado pela Constituição de 1988. Adverte Fernando Luiz Abrucio, cientista político, neste artigo publicado hoje pelo O Estado de São Paulo.

Anteontem foi o dia da vergonha para a democracia americana. Trump tentou dar o primeiro golpe de Estado da história dos Estados Unidos, mas, felizmente, fracassou. Ninguém pode dizer que o assalto ao Capitólio foi inesperado. O trumpismo buscou solapar as instituições democráticas desde sua campanha eleitoral de 2016. A estratégia populista e autocrática foi reproduzida durante quatro anos, sem que tivesse havido uma reação à altura do sistema político. Parece que se caminha para um “happy end”, porém, o custo foi muito alto, e o Brasil precisa aprender com essa experiência.

Bolsonaro idolatra Trump e procura imitá-lo, embora pareça ser ainda mais irresponsável e autoritário, como mostram o descaso com as vacinas e seus elogios à tortura realizada no regime militar. Ou seja, o presidente brasileiro potencializa o que há de pior no seu ídolo, algo que tem um efeito terrível para um país com democracia mais recente e com um desenvolvimento econômico e social bem menor. 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, em Brasília Foto: Dida Sampaio / Estadão

Quando fala que o Brasil terá problemas semelhantes se não for adotado o voto impresso, Bolsonaro anuncia não apenas sua estratégia para 2022. Ele segue uma linha de atuação, adotada desde a eleição de 2018, de solapar continuamente as instituições democráticas, em nome de um populismo autoritário cujo objetivo é destruir a democracia e concentrar o poder em suas mãos. Mesmo que por vezes faça recuo táticos, como aliar-se ao Centrão após a prisão de Fabrício Queiroz, o presidente nunca abandonou o objetivo final de quebrar o contrato democrático instaurado pela Constituição de 1988.

Muitos apontam agora o risco que corremos em 2022. É preciso corrigir essa impressão: a ameaça antidemocrática tem sido cotidiana e será contínua nos próximos dois anos. O sistema político não tem respondido à altura porque as consequências já se fazem presentes num país à deriva, com desesperança na saúde, na economia, na educação e em termos de desigualdade social. Ou os democratas brasileiros reagem logo, ou em 2022, mesmo que Bolsonaro fracasse no golpe, o Brasil já estará em frangalhos. 

Fernando Luiz Abrucio, o autor deste artigo, é Doutor em Ciência Política pela USP e Professor da FGV/EASP. Publicado originalmente por O Estado de São Paulo, edição de 08.01.2021.

Vândalos da democracia

Que as declarações temerárias de Bolsonaro sirvam de alerta quanto ao risco de ele repetir no Brasil em dois anos a intentona de seu ídolo americano.

Se ainda havia dúvidas, as inacreditáveis cenas do assalto ao Capitólio, sede do Poder Legislativo dos Estados Unidos, ocorrido na tarde de quarta-feira passada em Washington, confirmaram de forma cabal o perigo da política de ressentimento estimulada pelo chamado tecnopopulismo, do qual o presidente americano, Donald Trump, é o maior expoente.

Atônitos, milhões de pessoas em diversos países puderam acompanhar em tempo real os danos que vândalos da democracia como Trump e seus imitadores mundo afora são capazes de causar. Eles vão muito além do estímulo à polarização política e à subversão da verdade factual nas redes sociais, o que já seria grave por si só. O ódio que essas lideranças populistas promovem contra as instituições democráticas, o que chamam de “sistema”, a diversidade e todos que não pertençam ao “povo” encarnado pelo líder ungido, se traduz em violência e morte.

Enquanto o Congresso dos Estados Unidos realizava uma sessão conjunta para certificar a eleição de Joe Biden como o 46.º presidente americano, um ato que em condições normais seria meramente protocolar, o presidente Donald Trump proferia um de seus mais virulentos discursos contra o que chamou de “eleição roubada”. Furioso porque seu vice, Mike Pence, simplesmente decidiu cumprir a Constituição e se recusou a participar da sedição que o manteria no poder, Trump afirmou que “jamais aceitaria” a derrota e insuflou uma horda de extremistas a “lutar” de forma “patriótica” contra a “fraude” da qual diz ser vítima.

Não houve fraude alguma na eleição presidencial dos Estados Unidos. Trump não passa de um mau perdedor e, a partir de agora, de um golpista malsucedido. Sua manutenção no poder, ainda que por mais poucos dias, representa um enorme perigo. Donald Trump deve ser impedido ou retirado da presidência de acordo com a 25.ª Emenda à Constituição americana, que prevê que o presidente pode ser destituído por incapacidade de desempenhar suas funções após uma declaração conjunta de seu vice e da maioria dos membros de seu Gabinete.

A responsabilidade pelo que aconteceu em Washington é exclusiva de Trump. “Palavras de um presidente têm peso”, disse o presidente eleito, Joe Biden. “Hoje vimos de um jeito duro o quão frágil é a democracia. Para preservá-la são necessárias pessoas de boa vontade e líderes com coragem, que se dediquem não a perseguir o poder e os interesses pessoais a qualquer custo, mas sim o bem comum”, disse o presidente eleito.

Controlada a invasão do Capitólio pelos radicais trumpistas – um rematado ato de terrorismo doméstico que culminou na morte de pelo menos 4 pessoas e na prisão de mais de 50 –, o Congresso retomou a sessão conjunta e certificou a decisão do Colégio Eleitoral, que em 14 de dezembro elegeu a chapa democrática formada por Joe Biden e Kamala Harris. A posse ocorrerá no próximo dia 20. 

No final, a secular democracia americana resistiu à infame tentativa de sublevação insuflada por Trump e da qual fizeram parte alguns senadores republicanos, como Ted Cruz, Josh Hawley e Ron Johnson. Mas o abalo seguramente foi sentido em democracias mundo afora.

O presidente Jair Bolsonaro, do tugúrio de onde expele fartas doses de mentiras e de veneno antiliberdades, voltou a prestar apoio a Trump e a dizer que a eleição americana foi “fraudada”, tal como a eleição brasileira em 2018, cantilena que repete sem apresentar provas. O presidente brasileiro afirmou que, “se tiver voto eletrônico no Brasil em 2022, vai ser a mesma coisa lá dos Estados Unidos” (sic). Se Bolsonaro não se conforma com o sistema eleitoral do País, que tente mudá-lo de acordo com as regras do jogo democrático. Se não conseguir e continuar inconformado, que renuncie à Presidência e deixe a ribalta, que não participe de um jogo de cujas regras discorda.

Como ele não tem estofo para isso, que as declarações temerárias sirvam de alerta para as autoridades brasileiras quanto ao risco de o presidente repetir no Brasil daqui a dois anos a intentona de seu ídolo americano.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de São Paulo, em 08 de janeiro de 2021 

Casos de mortes por coronavírus em 8 de janeiro - País contabilizou 200.334 óbitos e 7.942.913 casos da doença desde o início da pandemia.




O consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 13h desta sexta-feira (8).

Desde o último balanço, às 20h de quinta-feira (7), seis estados atualizaram seus dados: CE, GO, MG, MS, RN e TO.

Veja os números consolidados:

Mortes: 200.334

Casos: 7.942.913

Às 20h de quinta-feira, o país registrou 1.120 mortes pela Covid-19 nas 24 horas anteriores, chegando ao total de 200.163 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 741. A variação foi de +7% em comparação à média de 14 dias antes, indicando tendência de estabilidade nos óbitos pela doença.

Brasil chega a 200 mil mortes por Covid-19 sem vacina e sob risco de repetir piores momentos da pandemia

Em casos confirmados, desde o começo da pandemia, 7.930.943 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 56.404 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 36.452 novos diagnósticos por dia. Isso representa uma variação de -10% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de estabilidade também nos diagnósticos, depois de 8 dias seguidos em queda.

Dez estados e o Distrito Federal apresentaram alta na média móvel de mortes: RJ, DF, GO, AM, RO, RR, TO, CE, PB, PI e SE.

O estado do Paraná não divulgou novos dados de casos e mortes pela doença até o fechamento do balanço das 20h de quinta-feira.

Progressão até 7 de janeiro

Total de mortes: 200.163

Registro de mortes em 24 horas: 1.120

Média de novas mortes nos últimos 7 dias: 741 (variação em 14 dias: +7%)

Total de casos confirmados: 7.930.943

Registro de casos confirmados em 24 horas: 56.404

Média de novos casos nos últimos 7 dias: 36.452 por dia (variação em 14 dias: -10%)

Estados

Subindo (10 estados + DF): RJ, DF, GO, AM, RO, RR, TO, CE, PB, PI e SE

Em estabilidade, ou seja, o número de mortes não caiu nem subiu significativamente (12 estados): RS, ES, SP, MS, MT, AC, AP, PA, AL, BA, MA e RN

Em queda (3 estados): SC, MG e PE

Não atualizou (1 estado): PR

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás (entenda os critérios usados pelo G1 para analisar as tendências da pandemia).

Vale ressaltar que há estados em que o baixo número médio de óbitos pode levar a grandes variações percentuais. Os dados de médias móveis são, em geral, em números decimais e arredondados para facilitar a apresentação dos dados.

Por G1 / 08/01/2021 13h00  Atualizado há uma hora

A tentativa de autogolpe nos EUA e a ameaça real no Brasil

A melhor resposta da democracia americana ao autogolpe que o (ainda?) presidente Donald Trump tentou ao incentivar seus militantes a impedir a formalização pelo Congresso da eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos seria utilizar a 25ª emenda para não deixa-lo continuar no cargo por incapacitação física, ou impedi-lo, com o apoio da Câmara, que tem maioria Democrata, e do Senado, com maioria Republicana.

Por Merval Pereira

“Autogolpe” é como o professor de governabilidade da Universidade Harvard, Steven Levitsky, co-autor do livro “Como as Democracias Morrem”, classifica a invasão do Congresso em entrevista à BBC em espanhol. Consequência de "quatro anos de descrédito e deslegitimação da democracia" por parte do Partido Republicano e de Trump. Também foi um assunto polêmico desde que, na campanha presidencial, o candidato a vice, General Hamilton Mourão, admitiu o ”autogolpe” como uma possibilidade no cenário político brasileiro.

Para Levitz, "a grande diferença entre esse autogolpe e os autogolpes na América Latina é que Trump foi completamente incapaz de obter o apoio dos militares", e "um presidente que tenta permanecer no poder ilegalmente sem o apoio dos militares tem poucas chances de sucesso".

Essa análise de Levitsky vai ao encontro de diversos estudos acadêmicos sobre a militarização do governo Bolsonaro, ou a “bolsonarizacao” dos quartéis, que estamos discutindo nos últimos dias. Até ontem, podíamos especular sobre a possibilidade de termos aqui os acontecimentos decorrentes da negação de Trump em aceitar a derrota na eleição presidencial. Mas Bolsonaro deixou claro, ao apoiar Trump nas acusações de fraude nas eleições americanas, que pode haver, sim, uma rebelião como a que o presidente americano organizou.

Ao dizer que podemos ter coisa pior, se não houver cédula física nas próximas eleições, ameaça e pressiona a Justiça Eleitoral. Especulamos sobre o assunto quando ele, no início do governo, tentou várias vezes desmoralizar o Congresso, o STF, a imprensa independente, e seus militantes mais radicais atacaram com fogos de artifício o STF. Também quando fez comício contra as instituições em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, numa clara provocação.

A especulação ganha foros de verdade quando ele diz claramente que vai haver problema “mais sério” entre nós. O presidente não convive com a democracia, autoritário, querendo sempre mais poder. Por isso, as instituições da democracia deveriam impedir que essa tendência autoritária se revertesse em influência nas Forças Armadas.

A “transição militar”, que deve ocorrer com a transição política para a democracia segundo Narcís Serra, acadêmico catalão e respeitado ministro da Defesa da Espanha entre 1982 e 1991, é lembrada em um estudo do cientista político Octavio Amorim Neto, da FGV do Rio, e Igor Acácio, doutorando em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, sobre o papel político dos militares sob Bolsonaro, publicado na edição em português do Journal of Democracy, editado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso.

As transições militares têm três etapas: evitar golpes de Estado; remover os militares da política, privando-lhes de qualquer veto às decisões de governo que não digam respeito à defesa nacional e reduzindo drasticamente sua autonomia; o estabelecimento da supremacia civil.

Para os dois estudiosos, até há pouco o Brasil se encontrava na segunda, e ensaiava ingressar na última etapa. “O primeiro retrocesso decorrente do padrão de relacionamento engendrado por Bolsonaro com as Forças Armadas é óbvio: enquanto permanecer alta a presença dos militares no governo, a ideia de estabelecer a supremacia civil está suspensa”, diz o estudo.  

Para os autores, “estamos correndo o risco de voltar à primeira etapa da transição militar, pois, no primeiro semestre de 2020, a agenda política brasileira foi marcada por um intenso debate em torno da possibilidade de um golpe militar ou de uma extremamente controversa intervenção das Forças Armadas, ao abrigo do Artigo 142 da Carta Magna, nos conflitos entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal.

O terceiro retrocesso : as tendências recentes do sistema internacional, com crescentes tensões dentro e fora do entorno estratégico brasileiro, podem encontrar o país sem consenso social e político para canalizar recursos para os projetos das Forças Armadas. (Amanhã, sugestões para superar os retrocessos).

Merval Pereira, Jornalista e Escritor, é da Academia Brasileira de Letras. Comentarista politico do jornal O GLOBO e da GloboNews. Publicado originalmente em 08.01.2021.

Trump prepara uma lista de perdões para aliados, parentes e talvez para ele mesmo

Lista incluiria filhos, assessores e um rapper que cumpre pena por falsificação de documentos; autoperdão ainda é uma questão em aberto para juristas

Donald Trump deixa o Salão Oval, ao lado da filha, Ivanka, antes de embarcar para a Geórgia, no dia 4 de janeiro Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP

O presidente Donald Trump já preparou uma lista abrangente de pessoas a que ele espera conceder perdão nos últimos dias de seu governo, incluindo funcionários de alto escalão da Casa Branca, parentes, rappers famosos e possivelmente ele mesmo, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Trump planeja fazer os anúncios no dia 19 de janeiro, seu último dia no cargo, e suas ideias estão sendo analisadas por assessores e conselheiros da Casa Branca, de acordo com as informações internas.

Pressão: Presidente da Câmara pede afastamento de Trump e chama invasores do Capitólio de 'terroristas'

A maior questão na mesa de seus assessores legais é se ele tem a autoridade para perdoar a si mesmo, algo que foi levantado nas últimas semanas com pessoas de seu círculo próximo. Ele já afirmou, em 2018, ter tal poder, mas é uma questão sujeita a disputas legais e jamais aplicada por um presidente.

Um autoperdão pode também trazer uma imensa carga política e afetar uma futura candidatura à Casa Branca, com seus adversários certamente apontando que isso corresponde a uma  confissão de que ele poderia ser processado.

Perdões preventivos estão sendo discutidos para altos funcionários da Casa Branca que não foram acusados de crimes, incluindo o chefe de Gabinete, Mark Meadows, o conselheiro sênior do presidente, Stephen Miller, o chefe de pessoal, John McEntee, e o diretor de mídias sociais, Dan Scavino.

A filha mais velha do presidente, Ivanka, e seu marido, Jared Kushner, que ocupam posições no governo, estão sendo considerados. O advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, também teve o nome cogitando sobre um eventual perdão.

Outros integrantes da família, além de amigos, podem ser agraciados. Ele já levantou a possibilidade de perdoar preventivamente Kimberly Guilfoyle, ex-apresentadora da Fox News que namora o filho mais velho dele, Donald Trump Jr. Ele quer que esses perdões sejam usados para proteger os beneficiários de processos por crimes federais cometidos antes dos indultos.

Na lista ainda aparece a proposta para perdar Albert Pirro, que trabalhou com Trump no mercado imobiliário e foi condenado por fraude fiscal. Ele é o ex-marido da apresentadora da Fox News Jeanine Pirro, ex-promotora distrital do condado de Westchester, em Nova York.

Celebridades perdoadas

Outro que pode receber a benesse presidencial é o rapper Lil Wayne, que apareceu com Trump durante a campanha, além do rapper Kodak Black, que está preso por falsificar documentos para obter uma arma de fogo. O também rapper Lil Yacht e Lamar Jackson, jogador da equipe de futebol americano Baltimore Ravens, fizeram lobby junto à Casa Branca a favor de Black, e disseram que doariam US$ 1 milhão para a caridade caso ele fosse libertado — a promessa, feita no Twitter, foi apagada.

Enquanto alguns dos perdões avançaram, a ideia de um autoperdão é mais embrionária, e aparece apenas em discussões. A medida pode proteger Trump em uma série de assuntos que seus oponentes consideram dignos de abertura de processo. Eles vão desde suas informações de imposto de renda ao pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô até os gastos feitos durante a posse em propriedades da família dele.

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Alguns democratas continuaram a dizer que Trump deveria ser processado sobre o caso da interferência russa na campanha de 2016, apesar do conselheiro especial Robert Mueller não ter encontrado provas de que o presidente tenha agido com o Kremlin. Nos últimos dias, ele voltou aos holofotes legais por conta da pressão sobre autoridades eleitorais da Geórgia para que sua derrota no estado, na eleição presidencial, fosse revertida. Isso além da incitação ao que se tornou uma violenta invasão do Capitólio na quarta-feira.

Questão legal

A Constituição diz que um presidente precisa ter o “poder para garantir perdões por ofensas contra os EUA, exceto em casos de impeachment”. Essa autoridade é vista como absoluta por alguns, apesar de uma opinião legal do Departamento de Justiça, em 1974, declarar que “o presidente não pode se perdoar”, porque violaria o que é descrito como “direito fundamental de que uma pessoa não pode ser a juíza do próprio caso”.

Mesmo assim, o poder de perdão apenas vale para crimes federais, o que significa que não estará protegido de problemas legais em nível estadual. A procuradora geral de Nova York, Letitia James, abriu um inquérito relacionado a fraudes nos negócios do presidente, enquanto o procurador distrital de Manhattan, Cy Vance, está em outra frente de investigações.

Trump já emitiu alguns perdões a vários políticos aliados e amigos, incluindo nas semanas desde que perdeu a eleição. Entre eles estão seu chefe de campanha em 2016, Paul Manafort, condenado por crimes financeiros e lobby ilegal, e Charles Kushner, empresário do mercado imobiliário e pai do genro do presidente. Kushner foi condenado por crimes como preparar falsas declarações de imposto de renda e por retaliar contra testemunhas.

Jennifer Jacobs, Justin Sink e Josh Wingrove, da Bloomberg. Publicado no Brasil por O GLOBO, 08/01/2021 - 07:00 / Atualizado em 08/01/2021 - 11:05