Reunidos em Londres com Zelenski, líderes europeus e de países da aliança militar Otan querem ajudar Kiev a retomar negociações com Trump e apaziguar americano após bate-boca na Casa Branca.
Líderes europeus e da aliança militar Otan se reuniram em Londres com Volodimir Zelenski para discutir apoio à Ucrânia após fiasco de negociações de paz mediadas pelos EUA. (Foto: Christophe Ena/AP/picture alliance)
O Reino Unido e a França, as duas potências nucleares da União Europeia, estão encabeçando uma "coalizão dos dispostos" a garantir a paz na Ucrânia – isto é, a defendê-la militarmente com tropas e armamentos –, anunciou neste domingo (02/03) o premiê britânico, Keir Starmer, após reunião em Londres com lideranças de 18 países.
A coalizão entraria em cena após a assinatura de um cessar-fogo apoiado pelos americanos. Deste modo, os europeus querem desencorajar novos ataques russos contra a Ucrânia, transformando-a num "porco-espinho de aço indigesto para potenciais invasores", nas palavras da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
"Nosso ponto de partida deve ser colocar a Ucrânia na posição mais forte possível agora, para que eles possam negociar a partir de uma posição de força, e estamos reforçando nosso apoio", disse Starmer ao final da reunião. "Os que estiverem dispostos [a aderir à coalizão] vão intensificar seus planejamentos agora com verdadeira urgência.
Participaram das discussões governantes europeus e do Canadá e da Turquia, além do chefe da aliança militar Otan, Mark Rutte, e do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
O encontro já estava planejado, mas ganhou caráter de urgência após a implosão de um acordo para exploração de terras raras ucranianas pelos Estados Unidos. Essa proposta é encampada pelo governo de Donald Trump como solução para o fim da guerra na Ucrânia.
O tratado deveria ter sido assinado na sexta-feira, mas acabou suspenso após Trump e seu vice, JD Vance, baterem boca com Zelenski e o acusarem de ingratidão. A insistência dele em garantias de segurança irritou Trump, que o despachou da Casa Branca e disse que só voltaria a conversar quando ele "estiver pronto para a paz".
Segundo Starmer, o Reino Unido está preparado para ser o fiador da paz na Ucrânia "com botas no terreno e aviões no ar, junto com outros [países]". O britânico, porém, frisou que embora a Europa tenha que dar conta da parte mais difícil desse trabalho, a paz no continente depende de um apoio sólido dos Estados Unidos – a quem os europeus agora tentarão persuadir.
Apesar de serem potências nucleares, o Reino Unido e a França não dispõem de um poderio militar comparável ao dos EUA. Eles querem convencer Trump de que a Europa é capaz de aumentar seus gastos militares e se defender, mas que a Rússia só irá respeitar um acordo se ele também for respaldado militarmente pelos americanos.
"Rearmar a Europa"
Von der Leyen disse que a União Europeia precisa "se preparar para o pior" e defendeu aumentar o "espaço fiscal" para manter elevados investimentos em defesa por "um período prolongado de tempo". O bloco encaminhará um plano em 6 de março para "rearmar urgentemente a Europa".
Assim como outros líderes europeus, Von der Leyen defendeu que a Ucrânia precisa de "garantias abrangentes de segurança". Segundo ela, a UE está pronta para "defender, junto com os EUA, a democracia e o princípio de que há um Estado de Direito, de que não se pode invadir [...] e atordoar vizinhos ou mudar fronteiras à força".
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, que deve ceder o cargo nas próximas semanas para o conservador Friedrich Merz, também defendeu a autonomia ucraniana, posicionando-se contra um veto da Rússia à entrada de Kiev na UE. Segundo Scholz, também não cabe à Rússia condicionar a paz à desmilitarização do país.
A Alemanha, que é a maior economia da UE e acabou de sair de uma eleição, até agora vinha evitando a discussão sobre o envio de tropas alemãs à Ucrânia. O assunto era considerado delicado e os conservadores, que venceram o pleito, descartaram a ideia durante a campanha.Resta saber se eles mudarão de ideia agora.
Starmer reconheceu que será preciso envolver Moscou num acordo de cessar-fogo, mas frisou que, diante de seu histórico de desrespeito a acordos, o presidente russo, Vladimir Putin, não deveria poder ditar quais garantias serão oferecidas à Ucrânia.
Ele justificou o apoio europeu à Ucrânia como necessário à estabilidade e segurança do próprio Reino Unido e de todo o continente. "O caminho para garantir estabilidade é garantir que somos capazes de defender um acordo na Ucrânia. Porque tem uma coisa que nossa história nos ensina: se há conflito na Europa, os dejetos acabam nas nossas praias."
Além do empréstimo de 2,26 bilhões de libras esterlinas (R$ 16,75 bilhões) à Ucrânia anunciado no sábado, Starmer prometeu mais 1,6 bilhão de libras esterlinas em financiamento para compra de "mais de 5 mil mísseis de defesa aérea" de fabricação britânica.
O anúncio deste domingo deve implicar o aumento de gastos com Defesa num contexto de arrocho fiscal, possivelmente demandando cortes em outras áreas, como gastos com assistência social, educação e investimentos em infraestrutura. (a/as (DPA, Reuters, ots)
Publicado originalmente por Deutsche Welle, em 03.03.25
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