quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Reprovação a Lula traduz deficiências de seu governo

Saúde e segurança são as duas maiores angústias responsáveis pela insatisfação da população

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: EVARISTO SA / AFP/18-02-2025

A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira mostra que a reprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva supera 60% nos três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nos oito estados pesquisados, violência e saúde são as maiores preocupações. A violência é o maior problema para moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. A saúde é o que mais aflige cidadãos de Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Trata-se de mais um recado para Lula. Em ambos os temas, o governo federal não tem conseguido dar respostas minimamente satisfatórias à angústia dos brasileiros.

Na segurança, os sinais de que a situação saiu de controle estão por toda parte. Porções significativas do território são dominadas por organizações criminosas que achacam moradores, cobram taxas por serviços essenciais, impõem leis marciais e têm a audácia de impedir a entrada do Estado em seus domínios, como mostram as barricadas na entrada de comunidades do Rio. Facções do Sudeste, como a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) ou a fluminense Comando Vermelho (CV), atuam em diferentes regiões do país e até no exterior, disseminando a violência. O problema não é novo, mas precisa ser enfrentado.

Disputas sangrentas entre traficantes ou milicianos se traduzem em assassinatos, tiroteios, balas perdidas, prejuízos a aulas e serviços de saúde, quando não em ataques a ônibus e prédios públicos. Nas ruas das metrópoles brasileiras, cidadãos andam com medo, em meio à explosão de furtos e roubos, muitas vezes com desfecho trágico. É óbvio que tudo isso afeta a percepção sobre o governo.

Diante do poder assustador que ganharam as organizações criminosas, os estados não conseguem combatê-las sozinhos. O ônus recai também sobre a esfera federal. É verdade que o Ministério da Justiça elaborou uma Proposta de Emenda à Constituição sensata para a área de segurança, prevendo maior participação federal e melhor integração entre as forças da lei. Mas lá se vão dois anos de mandato, e até agora tudo o que existe é uma proposta que enfrenta dificuldades para avançar.

Na saúde, a situação também é deficiente. O próprio Lula passou recibo, ao demitir a ministra Nísia Trindade. Embora motivos políticos tenham influenciado a decisão, são indisfarçáveis os problemas. Na gestão Jair Bolsonaro, a saúde errática foi alvo preferencial dos petistas. Mas o governo que assumiu vacilou na logística de vacinação, comprou produtos desatualizados, jogou no lixo frascos com validade expirada, hesitou diante da crise dos hospitais federais do Rio e fracassou diante da maior epidemia de dengue já registrada, responsável por 6,6 milhões de casos e 6.230 mortes no ano passado. Não se sabe se o novo ministro, Alexandre Padilha, chega ao ministério para resolver as mazelas da pasta ou apenas para atender aos desígnios de Lula, que parece encarar todas as deficiências de seu governo apenas como “problema de comunicação”.

A realidade das ruas é outra, como mostra a pesquisa Quaest. O cidadão que pena nas filas do SUS para conseguir consulta, exame ou cirurgia, que enfrenta a alta dos preços na feira e no supermercado ou que é obrigado a entregar o celular ao ladrão, muitas vezes sob a mira de uma arma, já se cansou. O receituário de Lula podia convencê-lo há 20 anos, mas não convence mais.

Editorial de O Globo, em 26.02.25

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