quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O que você vai fazer pelo seu país?

Se dobrarmos a aposta nos populistas de direita e de esquerda em 2026, o Brasil vai naufragar. Não podemos continuar vivendo entre a omissão e a adulação


A polarização que consome o País. Temos que acabar com ela.

A qualidade da democracia pode ser mensurada por três indicadores: preservação da ordem, solidez do Estado Democrático de Direito e qualidade da educação básica. Nesses três quesitos, o Brasil está entre os piores do mundo democrático. Somos um dos países mais violentos do mundo, de acordo com o ranking da Organização das Nações Unidas (ONU). Responsável por 10% da taxa global de homicídios, apenas países em guerra contabilizam 44 mil assassinatos por ano, como ocorre no Brasil. Enquanto o crime organizado prolifera, o incompetente governo petista foi incapaz de unificar os sistemas de inteligência das polícias e endurecer as penas dos criminosos.

A nossa Justiça é lenta, parcial e corrupta, como indica o índice do World Justice Project. O País tem a segunda Justiça mais parcial do mundo (só perde para a Venezuela) e está no 114.º lugar (entre 142 países) no cumprimento do devido processo legal. Vivemos num país onde o que está escrito na lei e na Constituição pode ser deturpado pelo voluntarismo de um juiz ou pelos interesses corporativistas do Judiciário. A existência de inquéritos sem prazo determinado e sigilosos que violam as regras basilares do Direito à ampla defesa e ao devido processo legal; a anulação de sentenças de criminosos e corruptos confessos; o ativismo judicial que sepultou o equilíbrio constitucional entre os Poderes; a morosidade do Conselho Nacional de Justiça para apurar os escândalos de venda de sentenças nos tribunais regionais; e a escandalosa acumulação de supersalários, privilégios e mordomias que transformou o Poder Judiciário no mais caro do mundo.

A tragédia da educação envergonha o País. Mais da metade das nossas crianças não está devidamente alfabetizada e é incapaz de fazer operações básicas de matemática. O Brasil está entre os 15 piores do mundo na avaliação do aprendizado de jovens de 15 anos de idade em matemática, língua e ciência no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Sem educação básica de qualidade, não há igualdade de oportunidade. Cria-se um abismo econômico e social entre a parcela mais bem educada e aquela que não aprendeu nada. A massa dos desafortunados torna-se refém de políticas assistencialistas do Estado, do subemprego e das promessas infundadas de governos populistas.

Os populistas encantam o eleitor ao denunciar as mazelas do sistema político, mas eles são incapazes de prover soluções duradouras para os problemas prementes. Populistas têm alma de tirano. Lutam para subjugar as instituições aos seus caprichos, cooptar a Justiça, censurar os opositores e usar a democracia como mera fachada para legitimar o mando. Não estão interessados em reformar o Estado, criar um governo eficiente e deixar a livre economia funcionar.

Se dobrarmos a aposta nos populistas de direita e de esquerda em 2026, o País vai naufragar. Não podemos continuar vivendo entre a omissão e a adulação. A omissão é camuflada pela desculpa de votar no mal menor e apoiar o populista menos ruim. A adulação ocorre na falsa intimidade de jantares e de conferências para tentar influenciar governantes. Mas quando os malabarismos dos convescotes falharem e os populistas destruírem o País, a elite vai se mudar para os Estados Unidos e para a Europa e deixará um cadáver de nação para o povo. Foi assim que países como a Venezuela foram destruídos. Por isso, é hora de reunirmos os cidadãos de bem e agirmos – antes que seja tarde.

A polarização retrata a insatisfação popular com um Estado caro, ineficiente e falido. Cabe a nós deixar de nos iludirmos com os populistas e trabalhar desde já para eleger gente séria e competente para o Congresso e para a Presidência da República. Temos uma boa safra de governadores testados e preparados. É o caso de Ratinho Jr., Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado, entre outros. O Brasil precisa de políticos com histórico de realizações e de defesa de valores democráticos. Duas décadas de governos populistas aceleraram a degeneração institucional do País. Perdemos competitividade, mercado, reputação internacional e confiança no Estado e nas nossas instituições.

Quando me perguntam o que podemos fazer para mudar o Brasil, sugiro seguir o exemplo de Martin Luther King. Sem dinheiro do governo ou apoio de ONG, ele começou sua peregrinação utilizando as ferramentas que tinha: a voz e os pés. Organizou a marcha da cidade de Selma a Montgomery (Alabama), e revelou ao longo das marchas sua capacidade extraordinária de liderar, inspirar, comunicar e mobilizar as pessoas em torno da defesa dos direitos civis. Martin Luther King mudou a história dos Estados Unidos sem exercer cargo público ou participar do governo. Apenas defendeu o que era certo e de maneira exemplar. Você também poder empregar o seu talento para promover mudanças no País. Responda à pergunta: o que você vai fazer pelo Brasil? Abandone a omissão e a adulação e comece hoje a construir o Brasil que queremos. Nós podemos mudar o País. O futuro é fruto das nossas escolhas e ações.

Luiz Felipe D'Avila, o autor deste artigo, é cientista político e autor do livro ‘10 Mandamentos – Do Brasil que Somos para o País de Queremos’. Foi candidato à Presidência da República, em 2024. Publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo,  em 29.01.25

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