terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Lula impopular é um perigo

Pesquisa aponta derretimento da aprovação ao presidente, sobretudo no Nordeste e entre a população de baixa renda, o que deve fazer o governo acelerar medidas demagógicas

Uma pesquisa da Genial/Quaest divulgada ontem trouxe más notícias para o governo do presidente Lula da Silva. Na comparação com o último levantamento, realizado em dezembro, a aprovação ao petista caiu 5 pontos porcentuais, de 52% para 47%, e pela primeira vez ficou atrás do porcentual dos que reprovam a atual gestão, com evidente viés de baixa para o governo.

Trata-se da mais significativa desaprovação ao trabalho de Lula desde o início do terceiro mandato, resultado até natural ante a corrosão constante de sua popularidade, que os petistas invariavelmente creditam aos culpados habituais – a alegada desordem deixada pelo antecessor, Jair Bolsonaro, as fake news e as big techs, a comunicação do governo e uma suposta incapacidade da população de perceber as virtudes do atual governo.

A notícia mais dura para o presidente Lula, porém, vem dos grupos em que a deterioração da popularidade apareceu com mais força: no Nordeste, tradicional reduto do presidente, onde o governo perdeu quase 10 pontos porcentuais de aprovação, e na população de baixa renda (-7 pontos) e renda média (-5 pontos). Mais: metade acredita que o País está na direção errada, e 65% acham que Lula não conseguiu cumprir suas promessas de campanha.

Ou seja, há uma fratura naquela que é a maior base social do presidente e, para piorar, o atual governo está produzindo frustração nos brasileiros em vez de incutir-lhes esperança de melhorar de vida. Um desalento que emerge não de alguma perversa conspiração da mídia ou do mercado financeiro, tampouco de uma eventual máquina de desinformação da extrema direita. É, isso sim, o retrato da vida real, cuja raiz é uma só: a inépcia de Lula e sua incapacidade de entender as aflições do Brasil que governa.

Não se gastaria tempo e esforço neste espaço se a revelação dos números servisse apenas para perturbar o humor presidencial, habituado aos aplausos frequentes que recebe dos sabujos palacianos. O problema vai além de Lula e dos morubixabas petistas, que até hoje têm a mais plena convicção de que as dificuldades com a popularidade decorrem de mentiras e desinformações que impedem que as ações do governo cheguem à população. Ocorre que ninguém que torce pelo Brasil pode sentir-se bem diante do fato de que apenas 25% dos brasileiros reconhecem que a economia melhorou no último ano e que, portanto, a percepção popular sobre a situação econômica continua majoritariamente negativa. Ou que apenas 39% acreditam que o País esteja na direção certa, que o aumento dos preços dos alimentos passou a ser uma tormenta e que a economia, mesmo malvista pela população, foi ultrapassada pela violência na lista de temas que inquietam os eleitores.

Tão sério quanto essas evidências é o risco embutido na pressa de Lula para mudar os números de sua popularidade e, sobretudo, garantir a viabilidade de sua reeleição em 2026. Afinal, se já é mau sinal quando as pesquisas de opinião pública ditam os rumos e a ansiedade de um governo e de um presidente, torna-se um perigo para a população ter um Lula obcecado com a popularidade, inconformado com a desaprovação e ansioso pela eleição. Para o presidente, como se sabe, é algo rotineiramente menor avaliar e aperfeiçoar programas, ajustar a gestão, corrigir rotas ou modelos que não mais funcionam. É o que fazem bons governantes. Mas, como bom demagogo, Lula tem a indisfarçável ambição de quem se enxerga um mítico representante dos interesses do povo e, como tal, em situações de crise, recuperar o amor popular significa escolher atalhos populistas, capazes de gerar resultados vistosos no curto prazo e devastadores no longo.

Sempre que precisou escolher entre a responsabilidade e a popularidade, Lula nunca titubeou. Donde se conclui que os números revelados pela Quaest certamente servirão de pretexto para ampliar o arsenal de estultices produzidas pelo governo, desde “intervenção” nos preços até guerra de araque contra as big techs. Serão dois longos anos pela frente.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S. Paulo, em 28.01.25

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