Ele mostra como o socialismo e a regulamentação reduzem o desabrochar humano
O economista Ludwig Heinrich Edler von Mises (1881-1973) - Ludwig von Mises Institute
Estou lendo dois livros do economista e filósofo social Ludwig von Mises (1881-1973).
Judeu nascido no Império Austro-Húngaro, ele ensinou Hayek, entre outros, na Universidade de Viena. Mas em 1934 fugiu de Hitler para a Suíça e em 1940 conseguiu atravessar a França e a Espanha rumo aos EUA.
Depois da guerra, lecionou por décadas na Universidade de Nova York. Seus alunos incluem algumas estrelas que me influenciaram, todos exibindo o refinado senso comum chamado de economia "austríaca". A Escola Austríaca, a propósito, é desprezada pela maioria dos economistas na Áustria hoje em dia. Grandes tolos. Mas eu sou mais tola ainda por não ter lido Mises antes.
Os dois livros são "Socialismo: Uma Análise Econômica e Sociológica" (1922) e "Liberalismo" (1927). Ambos têm edição em português.
Neles Mises mostra como o socialismo e a regulamentação que dominam a política brasileira reduzem o desabrochar humano. Como no meu país. Veremos se as propostas admiravelmente antissocialistas do governo Trump poderão superar suas propostas terrivelmente fascistas.
O próprio Mises, na década de 1920, viu o fascismo como uma represa temporária contra o socialismo recentemente "bem-sucedido" na Rússia. De forma alarmante, alguns de seus seguidores e inimigos interpretaram seus comentários como se ele fosse aprovar o fascismo de Trump. De forma alguma. Ele detestava a dependência do fascismo da violência, em vez da persuasão, e previu corretamente que ele levaria a uma guerra geral. Os fascistas italianos e outros acreditavam, como Trump, que o comércio e outras relações internacionais são de soma zero —que a Itália só poderia prosperar conquistando a Etiópia ou a Grécia, por exemplo. Mises foi o grande expoente da soma positiva do verdadeiro liberalismo, comprometido com o livre comércio e a paz.
Os livros são análises interessantes, combinadas com um amor apaixonado pela liberdade. Mises resumiu as visões das quais discorda de forma totalmente justa. A maioria dos acadêmicos vê os oponentes como malignos, na pior das hipóteses, idiotas na melhor. Mas Mises elogiou os socialistas pelo desejo sincero de ajudar os pobres. Infelizmente, como observou, as intervenções prejudicaram os pobres.
Mises não era um quantificador. Isso o tornava menos persuasivo. O monopólio, por exemplo, pode ser mostrado quantitativamente como trivial, a menos que seja apoiado por um Estado corrupto. Veja o monopólio do táxi ou os excessos absurdos na lei de patentes. Combinar sua estrutura com números, como fazem os austríacos da Universidade George Mason, é uma ciência melhor para as políticas.
No entanto, Mises e a maioria dos economistas, ainda hoje, e alguns até da George Mason, acham que o investimento em capital explica o grande enriquecimento desde 1776. Não explica. A nova ideia do liberalismo, e não os direitos de propriedade sobre o capital, que sempre foram fortes, libertou a criatividade humana de uma vez por todas.
Em "Liberalismo", ele escreveu: "São as ideias... apenas elas, e não as armas, que, em última análise, viram a balança". Exatamente. Pessoas libertas acabam sendo fantasticamente inovadoras.
Vamos fazer isso. E pare de dar ao Estado mais coerções fascistas.
Deirdre Nansen McCloskey, a autora deste artigo, é economista, professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago (United States of América). Publicado originalmente em lingua portuguesa na Folha de S. Paulo, em 18.12.24
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