Ex-ministro chegou a ficar 11 horas no local, em período no qual a PF afirma que investida antidemocrática foi planejada; defesa nega acusações
General Walter Braga Netto — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Preso no sábado sob suspeita de tentar atrapalhar investigações, o ex-ministro Walter Braga Netto foi uma presença constante no Palácio da Alvorada nos dois últimos meses do governo de Jair Bolsonaro, quando, segundo a Polícia Federal, houve discussões sobre um golpe de Estado no país. Braga Netto esteve no local em 44 dos 60 dias entre 31 de outubro de 2022, um dia após a derrota na eleição presidencial, e 30 de dezembro, quando Bolsonaro viajou para os Estados Unidos.
Ao todo, há 55 registros de entrada de Braga Netto no Alvorada neste período — em alguns dias ele esteve no local duas ou até três vezes. Com exceção de membros da família de Bolsonaro e de funcionários do local, ele foi a pessoa que mais esteve na residência oficial no fim do governo. O tenente-coronel Mauro Cid, por exemplo, que era ajudante de ordens do então presidente, tem 53 registros. Os dados foram coletados pela PF e usados como prova na investigação.
A defesa de Braga Netto afirma que irá comprovar que não houve tentativa de obstrução das investigações.
Além de ter chefiado a Casa Civil e o Ministério da Defesa, Braga Netto foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro na disputa de 2022. Em depoimento como parte de sua delação premiada, Mauro Cid afirmou que o ex-ministro, que é general da reserva, entregou dinheiro para financiar operações do suposto grupo criminoso. A defesa nega as acusações.
As visitas variavam, podendo ser curtas, de menos de uma hora, ou mais longas, chegando a até onze horas. A maior delas foi no dia 4 de novembro, quando Braga Netto esteve no local por onze horas e 24 minutos.
No dia 22 de novembro, o general passou pouco mais de dez horas no palácio, das 9h06 às 19h14. Nessa data, o PL apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido para anular os votos dados em quase 60% das urnas usadas no segundo turno das eleições presidenciais.
Pouco antes, no dia 18, ele foi gravado falando com apoiadores que estavam no Alvorada: "Vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora". Neste dia, ele ficou mais de oito horas no local, das 8h06 às 16h23.
Os horários de Braga Netto também coincidem com ao menos três reuniões com os comandantes das Forças Armadas, nos dias 1º, 14 e 22 de novembro. Posteriormente, Bolsonaro apresentou aos comandantes uma proposta para reverter o resultado das eleições.
No dia 15 de dezembro, Braga Netto esteve no Alvorada duas vezes: uma pela manhã (entre 8h39 e 9h29) e outra de tarde (entre 14h24 e 17h28). Neste dia, de noite, de acordo com a PF, uma operação para sequestrar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chegou a ser iniciada, mas foi abortada.
Em 21 de dezembro, o general da reserva foi três vezes ao Alvorada. A última entrada foi às 16h34, e não há horário de saída. No dia seguinte, há dois registros de entrada: Braga Netto esteve no local durante meia-hora pela manhã, entre 8h15 e 8h48, e depois retornou às 15h09. Novamente, não há horário de saída.
Nesses dois dias, Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara, que era assessor de Bolsonaro, trocaram mensagens sobre a localização de Moraes. Eles conversam na noite do dia 21, entre 22h51e 23h04, e Câmara manda uma última mensagem na madrugada do dia seguinte, às 5h48.
O último registro de entrada de Braga Netto é de 26 de dezembro, quando ele passou quase onze horas no Alvorada, entre 8h46 e 19h25. Um dia depois, ele demonstrou em uma mensagem ainda ter esperança de continuar no governo, ao responder uma pergunta sobre para onde direcionar um currículo. "Se continuarmos poderia enviar para a Sec Geral (Secretaria-Geral)", escreveu, para um assessor de Bolsonaro.
Daniel Gullino, o autor, é Repórter de O Globo na sucursal de Brasília - DF. Publicado originalmente em 18.12.24
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