"Tenho amigos e seguidores que me contam as delícias, ilusões e decepções de estar solteiro hoje com 50, 60 anos"
Em mais uma manifestação da prodigiosa sorte que me acompanha pela vida, um mês e meio depois de terminar meu casamento, aos 78 anos, encontrei um novo amor, que também havia acabado de se separar. Não há acaso nem coincidências, talvez sincronicidade, artes do destino. O fato é que vivi só um mês e meio solteiro, e não estou atualizado sobre a “solteirice moderna”, mas tenho amigos e seguidores que me contam as delícias, ilusões e decepções de estar solteiro hoje com 50, 60 anos.
Como o meu amigo Charles, 60, coroa bonitão em plena forma, produtor cultural, também recém-separado à mesma época que eu, e ainda solteiro depois de um ano e meio. Primeiro veio a euforia da liberdade, da libertação do que estava fazendo-lhe mal, de poder fazer o que quiser sem dar satisfação a ninguém. Entrando em aplicativos de encontros, alimentando contatinhos, solto na noite, procurando nos bares e nos shows, na praia. Às vezes consegue pegar alguém, para um vinho, sexo e alegria, mas depois a sensação é de vazio: quanto mais come, mais fome tem, e não é de sexo. É de nexo. Na sua vida, seus objetivos e propósitos, dar fim às ilusões. Encontrar alguém que, além de um bom sexo, que é mais fácil de encontrar do que bons sentimentos, também valha a pena acompanhar, que aquilo tenha algum futuro, para não seguir gastando tempo e energia em vão.
Minha seguidora no Instagram, Denise, 50, psicanalista, bonitona e gostosona, também solteira depois de alguns anos de casamento, não estava feliz na relação, por motivos que nem ela sabia direito, e, embora viva muito bem consigo mesma, também me diz no Direct que está dura a vida solo. Como ela, muitas mulheres estão se queixando nas redes sociais. Primeiro, os homens estão muito babacas, e, depois, os mais interessantes que aparecem são gays.
Mas para mulheres é bem fácil encontrar homens dispostos, parece que todos estão sempre, não faltam candidatos. Mas, depois das primeiras ficadas, desfrutando a liberdade, ela descobriu que os caras só queriam mesmo comê-la, e ela se considera boa nisso, mas nem quiseram repetir, não quiseram aprofundar nada, nem conhecê-la melhor: querem outra.
Não que fosse ruim para ela, fez sua atuação, se divertiu, gozou, mas não basta. No fim, se sentiu vazia. Ela quer romance, carinho, diálogo, possibilidades, o cara já vai embora, feliz e saciado. Não vai nem telefonar no dia seguinte. E por que as mulheres não podem ligar no dia seguinte, dizerem que foi bom, que querem ver de novo? Medo de o cara não querer? Rejeição dói.
Conclusão: estava escolhendo os homens errados, pela aparência física, no Tinder ou na academia ou no barzinho. E então foi se tornando muito exigente, priorizando qualidades humanas e atraída por inteligência, talento, integridade. Mas ficou tão seletiva que não encontra ninguém à altura rsrs — ou, como ela diz, depois que se valorizou não come mais ninguém.
Estou pensando em apresentar o Charles à Denise, vai que dá match.
Feliz Dia dos Namorados a todos.
Nelson Motta, o autor desta crônica, é compositor popular. Publicada originalmente n’O Globo, em 07.06.24
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