Apesar de todos os ataques dos últimos anos, Sergio Moro continua com forte apoio popular
O senador Sergio Moro — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
A pesquisa Genial/Quaest sobre a Operação Lava-Jato, completada uma década de seu início, mostra que em bom senso a população brasileira supera em muito seus representantes parlamentares, e também um Judiciário que vem se comportando nos últimos anos como ativo participante do debate político.
A versão de que acabar com a Lava-Jato seria a solução para a crise institucional que ela desencadeou não foi comprada pela população, que vê nela ainda bons resultados no combate à corrupção, problema que não foi varrido para debaixo do tapete, apesar dos esforços dos membros do establishment, como queriam os políticos à época em que as investigações começaram a atingir todos os segmentos partidários, e não apenas o PT de Lula.
Ao mesmo tempo que 42% concordam que a força-tarefa que apurou o megaesquema de desvio de dinheiro na Petrobras foi extinta, em 2021, “por causa da ação dos políticos para barrar a operação”, percentual semelhante (44%) considera que o trabalho do ex-juiz Sergio Moro foi reprovável, depois das revelações da Vaza-Jato. Mas a atuação de Moro continua tendo o apoio de 40% da população. Isso significa que, apesar de todos os ataques dos últimos anos, ele continua com forte apoio popular.
O que leva a crer que a campanha para que seu mandato de senador da República pelo Paraná seja cassado continua sendo mais tentativa de vingança de seus inimigos políticos. O caso nada tem a ver com a Operação Lava-Jato, e é possível que, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ele seja preservado dessa violência. O caso contra Moro, se terminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ficará marcado ainda mais como decisão da Justiça vingadora, que tem caracterizado as decisões envolvendo juízes e procuradores de Curitiba, como o deputado cassado Deltan Dalagnol. Reflexo da posição política de parte dos ministros do STF.
A reação dos brasileiros à Lava-Jato parece indicar que os entrevistados, apesar de 25% considerarem que seu fim deveu-se a “exageros e erros por parte dos investigadores e juízes envolvidos na operação”, não fariam terra arrasada das investigações e condenações feitas, dando margem a que os erros das investigações tivessem sido corrigidos e punidos, mas os culpados pelos desvios de corrupção não ficassem livres, leves e soltos por aí, como se nada tivesse acontecido.
Fica claramente identificada na pesquisa a posição majoritária da população a favor do combate à corrupção. Metade (50%) diz acreditar que a Lava-Jato “fez mais bem” ao Brasil, ante 28% que consideram que ela “fez mais mal”. Quase metade dos brasileiros (49%) afirma também que a operação “ajudou a combater a corrupção”, ao passo que 37% dizem que “não”, e 4% que “mais ou menos”.
A polarização política fica patente quando se nota que 43% da população acha que Lula “sempre foi inocente”, exatamente o mesmo percentual que diz que o atual presidente “é culpado e deveria estar preso”. Mesmo o ex-presidente Bolsonaro tendo contribuído para o desmanche do combate à corrupção, quando investigações chegaram próximas a seus filhos e apaniguados, a maioria de seus apoiadores é a favor da Lava-Jato, não fazendo a ligação necessária entre suas atitudes e o arrefecimento do combate à corrupção.
A polarização está refletida na distribuição econômica das pessoas que consideram Lula inocente ou culpado. Mais da metade dos entrevistados de baixa renda, com ganho familiar de até dois salários mínimos por mês, considera que Lula é inocente (52%), enquanto, entre os mais ricos (que ganham acima de cinco salários), 52% acham o contrário.
Um detalhe da pesquisa é importante para projetar atitudes futuras em relação a uma provável disputa para a eleição de 2026: no grupo dos que votaram em branco, nulo ou não foram votar no segundo turno de 2022, há uma parcela maior que considera o petista culpado (47%), ante 30% que acreditam na inocência do atual chefe do Executivo. Indicação de que a pecha de “ladrão” continua perseguindo o presidente da República — e pode ter consequências eleitorais.
Merval Pereira, o autor deste artigo é jornalista e escritor (Presidente da Academia Brasileira de Letras). Publicado originamente n'O Globo, edição impressa, em05.03.24
05/03/2024 04h30 Atualizado há 3 horas
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