sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Surpresa com Lula: seu Governo apresenta aumento da corrupção, maior que com Bolsonaro

O presidente brasileiro tropeçou no facto de as instituições do Estado serem dominadas pela corrupção e com as quais teve que fazer acordos para governar

Lula da Silva, presidente do Brasil, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira em Brasília. (Sdriano Machado, Reuters) 

O Governo Lula, que veio reparar o desastre de Jair Bolsonaro, não se conforma com o resultado recentemente divulgado dos índices de corrupção registados pela ONG Transparência Internacional, a mais antiga e global da história da corrupção mundial. O partido de Lula, o PT, reagiu de forma dura e indignada.

Segundo esta ONG, o Brasil perdeu 10 posições nos índices mundiais, passando para a 104ª posição entre 180 países. Aparece como um dos países mais corruptos da América Latina e perdeu 30 cargos em relação ao último ano do governo Bolsonaro. Hoje o Brasil aparece em índices de corrupção no nível de países como Argélia, Sérvia e Ucrânia.

A BBC Brasil destacou sete razões para explicar este retrocesso nos índices de corrupção do Governo como “a falta de compromisso com a reconstrução dos sistemas e mecanismos de controlo da corrupção no primeiro ano de Governo”, entre elas, destaca, a interferência na autonomia das instituições, nomeando, por exemplo, seu advogado e amigo pessoal, Cristiano Zanin, para o Supremo Tribunal Federal, e não tendo respeitado a regra da lista apresentada pelos procuradores para a nomeação do importante cargo de Procurador-Geral do Estado, nomeando um católico conservador, amigo dele.

Em seu editorial da última quinta-feira, o jornal O Globo alertou que o aumento dos índices de corrupção no Brasil é um risco, pois “desincentiva os empresários a investir no país”. Lula preferiu ficar calado diante do aumento dos índices de corrupção e deixou sua defesa ao presidente do seu partido, o PT, sua fiel escudeira, Gleisi Hoffmann , que chegou a acusar a ONG Transparência de corrupção. “Explicar primeiro (referindo-se aos membros da ONG internacional) quem os financia, abrir as suas contas, explicar os seus negócios”, escreveu em X e acrescentou que se trata de um sistema de medição da corrupção global “onde a injustiça da lei” é é aplicado de acordo com os interesses do Governo e das elites."

Talvez a maior dificuldade de Lula esteja justamente na questão do combate à corrupção. Ao contrário dos seus dois governos anteriores, Lula teve de enfrentar o facto de as instituições do Estado, como o Congresso, o Judiciário ou os governos locais, serem dominadas pela corrupção e com as quais teve de se reconciliar, oferecendo-lhes ministérios e cargos em cargos públicos. o Estado, para poder governar e aprovar algumas das suas medidas mais importantes.

Existe o perigo de que também neste ano de eleições municipais Lula tenha que fechar os olhos ao apoiar candidatos ligados a Bolsonaro ou negociar com eles para poder escolher seus candidatos e não repetir as últimas eleições de 2020 em que seu partido fracassou abertamente ao não conseguir vencer um único grande governo local.

A dificuldade de Lula é justamente que ele se viu, seja no nível nacional ou local, com o poder nas mãos de políticos de extrema direita, com os quais ele precisa mais do que combatê-los de frente, mas negociar para recuperar terreno para ser capaz de realizar as reformas de fundo que pretende impor, precisamente para reduzir os índices de corrupção que envergonham um país.

O Governo Lula, como ao mesmo tempo reconhece a ONG Transparência Internacional, fez esforços no primeiro ano para renovar as instituições e as liberdades civis, bem como para reforçar os mecanismos de ajuda às classes mais necessitadas e reforçar as políticas sociais, algo que tem sido feito. reconhecido internacionalmente.

Daí a necessidade de Lula saber manter o equilíbrio neste ano, para compensar o desastre das eleições de 2020. Lula vai precisar de um equilíbrio forte para poder recuperar o poder local perdido sem fazer concessões excessivas à extrema direita que ele mantém, precisamente nesse poder local, a sua força reacionária.

Perguntar muito? Talvez, mas se ele sonha com um quarto mandato em 2026, quando completar 82 anos, ele e seu partido precisarão nestes três anos de governo mais do que realizar um duelo ideológico com seu antecessor Bolsonaro para apresentar ações concretas de profunda renovação social que até restaurar à direita não fascista a esperança de um Brasil renascido do pesadelo de Bolsonaro, que apesar de tudo, continua vivo e com aspirações de voltar ao poder.

Juan Arias, ao autor deste artigo é Jornalista. Publicado originalmente no EL PAÍS (Espanha), em 02.02.24

Nenhum comentário: