Governo brasileiro elevou autorizações de exportação de tecnologia militar para Arábia Saudita, durante gestão Jair Bolsonaro
Bolsonaro com Mohammed bin Salman, príncipe da Arábia Saudita (José Dias / PR)
Plantas devem atender toda a demanda militar do regime saudita por explosivos e espoletas de detonação de bombas.
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consolidou um acordo sigiloso de exportação de produtos e tecnologias para a Arábia Saudita construir a sua primeira fábrica própria de explosivos militares. As plantas foram criadas por uma empresa brasileira sob demanda do regime saudita que pretende, até 2030, “suprir toda a demanda militar” do país por explosivos e espoletas de detonação de bombas, itens que podem ser úteis em guerras e conflitos no Oriente Médio.
A autorização para a venda de equipamentos e serviços ao regime de Mohammed Bin Salman foi concedida no segundo semestre de 2018, na reta final da gestão de Michel Temer. As principais etapas da construção se desenvolveram sob o governo Bolsonaro. Em paralelo, ele aumentou autorizações para exportação de tecnologia militar aos sauditas.
Com Bolsonaro, cresceu o interesse da indústria militar em negócios com a Arábia Saudita. A emissão de autorizações pelo governo brasileiro também. Os dados obtidos pelo Estadão são inéditos. Em 2019, 2020 e 2021 houve 21 pedidos de empresas à gestão Bolsonaro, dos quais 17 foram deferidos. Eram contratos para venda de armas, blindados, bombas e serviços. Nos anos anteriores, o interesse brasileiro no país foi menor. Entre 2017 e 2018, houve dez pedidos, sendo oito autorizados. Em 2015 e 2016, nenhum.
A empresa que pediu e recebeu autorização do governo brasileiro para fechar o contrato é a Mac Jee, com sede em São José dos Campos (SP). A estrutura montada tem cerca de 500 mil metros quadrados e fica dentro da Saudi Chemical Company Limited (SCCL), maior empresa de produção de energia civil e militar do país.
COMPONENTES. A fábrica produz TNT e RDX, componentes usados para determinados tipos de bombas. Todo o processo de autorização e de contratação é protegido por sigilo. Procurados, os ministérios que lidam com o tema informaram que não poderiam comentar motivações ou condições do acordo da Mac Jee. O valor do contrato é desconhecido.
Por serem armas consideradas de alto poder destrutivo, o governo brasileiro não poderia permitir a exportação em razão de acordos internacionais. Em 1995, o País assinou o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), de não proliferação de armas de destruição em massa. Assim, o Brasil deveria ter pedido garantias da Arábia Saudita de que isso não ocorreria, sob pena de sanções. O governo diz não poder se manifestar.
Contexto
O Estado de S. Paulo.19 Jun 2023
• O perigo do RDX
Em 2021, agências de inteligência americanas descobriram queoauditas estavam produzindo mísseis balísticos com a ajuda da China. O RDX poderia equipar ogivas.
• Viagens e joias
No período da construção da fábrica, várias comitivas foram a Riade. Em uma delas, joias avaliadas em R$ 5 milhões foram entregues ao ministro Bento Albuquerque, que tentou entrar com elas ilegalmente no Brasil.
Vinicius Valfré , o autor desta matéria, é Jornalista. Publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo, em 19.06.23
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