segunda-feira, 17 de abril de 2023

Inelegibilidade é pouco para crimes de Bolsonaro

Se for punido apenas pelo TSE, ex-presidente prolongará as férias até 2031

Bolsonaro no carro ao sair da Polícia Federal após prestar depoimento no caso das joiasBolsonaro no carro ao sair da Polícia Federal após prestar depoimento no caso das joias Sergio Lima / AFP

Até a tropa do PL já admite: Jair Bolsonaro deve ser condenado no processo que apura seus ataques ao sistema eleitoral. Se a previsão se confirmar, o TSE impedirá o ex-presidente de disputar eleições por oito anos. É muito pouco para a coleção de crimes que ele cometeu.

A Procuradoria pediu que Bolsonaro seja punido por abuso de autoridade e de poder político, desvio de finalidade e uso indevido dos meios de comunicação. O processo trata da reunião com embaixadores em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno.

Nova rotina: Pela primeira vez em 34 anos, Bolsonaro terá que responder por seus atos

O capitão convocou o corpo diplomático para mentir sobre a urna eletrônica e atacar o candidato da oposição. O discurso foi transmitido na TV Brasil e nas redes do governo, inflamando extremistas que já ensaiavam um levante contra a democracia.

Se for declarado inelegível, Bolsonaro prolongará as férias até 2031. Ganhará mais tempo para curtir o ócio com os amigos endinheirados. No último feriadão, ele usou o jatinho de Nelson Piquet para passear em Angra dos Reis.

Como nem tudo é festa, o capitão ainda deve ser obrigado a lidar com alguns contratempos. No início do mês, ele precisou se explicar à Polícia Federal sobre o escândalo das joias. Nos próximos dias, será ouvido sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

O inquérito sobre o quebra-quebra contém uma novidade. O procurador Augusto Aras, que prestou longos serviços a Bolsonaro, parece ter perdido o interesse em protegê-lo. Foi o Ministério Público Federal quem pediu, ainda em janeiro, que o ex-presidente fosse incluído entre os investigados. Ele produziu prova contra si mesmo na madrugada do dia 11, quando divulgou novas mentiras contra o voto eletrônico.

Para a Procuradoria, a publicação configurou uma “forma grave de incitação” a “crimes de dano, de tentativa de homicídio e de tentativa violenta de abolição do Estado de Direito”. O ex-presidente estava na Flórida, mas continuava a comandar seus radicais à distância.

No depoimento sobre os diamantes, Bolsonaro contou uma história da carochinha. Disse que só ficou sabendo do “presente” no fim do mandato e alegou não se lembrar de quem o avisou. A conversa é duplamente inverossímil. As tentativas de desembaraçar as pedras começaram em 2021, e ninguém se esqueceria do portador de uma notícia tão valiosa.

Se a polícia ligar os pontos e a Justiça cumprir seu papel, Bolsonaro pode pegar uma cana muito mais longa que os oito anos de inelegibilidade. E isso sem incluir um só dia de cadeia pela gestão criminosa da pandemia, que matou mais de 700 mil brasileiros.

O bloco de Lira

Se quiser aprovar o marco fiscal, o governo terá que “melhorar a sua engrenagem política”, avisou Arthur Lira na GloboNews.

Para aumentar seu poder de barganha, o chefão da Câmara acaba de montar um “superbloco” com 173 parlamentares.

“Não farei nenhum movimento para atrapalhar a governabilidade do meu país”, acrescentou, na mesma entrevista. Ah, bom!

Bernardo Mello Franco, o autor deste artigo, é jornalista especializado em assuntos políticos. Publicado originalmente n'O GLOBO, em 16.04.23

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