Após partido de Bolsonaro pedir anulação de votos de certas urnas, Moraes determinou que contas da coligação sejam bloqueadas para pagar multa; PP e Republicanos disseram não concordar com ação do PL e vão recorrer ao TSE
O deputado Marcos Pereira é uma das figuras de maior relevância na Câmara, à frente do Republicanos e ligado à bancada evangélica. Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo
Os presidentes do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), e do PP, deputado Cláudio Cajado (BA), afirmaram nesta quinta-feira, 24, que os partidos não foram consultados sobre a ação do PL que pede a anulação de votos de determinadas urnas no segundo turno da eleição presidencial. As três siglas formaram uma coligação para lançar o presidente Jair Bolsonaro à reeleição.
O PL, ao qual Bolsonaro é filiado, sustenta, sem provas, que a eleição não foi vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas, sim, pelo atual presidente.
“Não fomos consultados. Reconheci o resultado publicamente às 20:28 do dia da eleição”, declarou Pereira ao Estadão. Cajado, que administra interinamente o PP enquanto Ciro Nogueira exerce o cargo de ministro da Casa Civil, foi na mesma linha. “Não fui consultado e eles falavam em nome do PL e não em nome da coligação”, declarou.
Além do PL, a ação foi protocolada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em nome da coligação eleitoral de Bolsonaro, da qual Republicanos e o PP também faziam parte. O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, solicitou que a demanda também incluísse as urnas de primeiro turno, quando o PL elegeu 99 deputados e oito senadores, mas o partido se recusou a fazer isso.
Em resposta, Moraes considerou que a coligação e o partido acionaram a Justiça indevidamente e determinou o pagamento de multa e o bloqueio das contas das três legendas enquanto o valor não for recolhido. Os presidentes do Republicanos e do PP disseram que vão entrar com um recurso para excluir seus partidos do bloqueio. “Será protocolizado hoje ainda”, afirmou Pereira. “Faremos em conjunto”, completou Cajado.
Para reforçar sua posição de distância da iniciativa adotada pelo PL de Valdemar Costa Neto, condenado pelo escândalo do Mensalão no governo de Lula, mas hoje aliado de Bolsonaro, o presidente do Republicanos divulgou um vídeo gravado logo após o resultado da eleição de segundo turno.
“Tivemos a eleição do ex-presidente Lula. Reconhecemos o resultado. Apoiamos o presidente Bolsonaro até o último minuto, trabalhamos, mas as urnas, o povo escolheu, as urnas são soberanas. Não há porque duvidar do resultado das urnas, não há porque questioná-los”, declarou ele.
Impossível dissociar primeiro turno
Contrariando a ação do PL, que visa a apenas questionar o resultado presidencial do segundo turno, Pereira reconhece que não dá para dissociar a disputa que Lula venceu das outras, inclusive as que os candidatos do Republicanos venceram.
“Senão, nós teríamos que questionar a eleição do Tarcísio (eleito governador de São Paulo pelo Republicanos), a eleição do senador Mourão, a eleição da senadora Damares, a eleição do nosso governador, que foi reeleito em primeiro turno lá em Tocantins, Wanderley Barbosa, a eleição dos 41 deputados federais”, enumerou. “Não, o resultado está aí, nós não apoiamos o candidato eleito, mas agora precisamos continuar trabalhando em prol do Brasil”, completou.
O deputado Claudio Cajado (PP-BA) é presidente interino do Progressistas; ele assumiu o comando da sigla após Ciro Nogueira se tornar ministro no governo Bolsonaro. Foto: Billy Boss/Agência Câmara
Já o presidente interino do PP chamou a atenção para fato de Ciro Nogueira comandar a transição para o governo Lula pelo lado do atual governo. De acordo com o dirigente, é “claro” que o partido reconhece a vitória de Lula. “Se o chefe da transição pelo atual governo é o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, e que já praticou os atos da transição, sim, claro (o PP reconhece o resultado da eleição)”.
O Republicanos declarou que vai adotar postura de independência durante o próximo governo Lula, sem se classificar como base ou oposição. Já o PP ainda não decidiu a postura que será tomada.
Lauriberto Pompeu / O Estado de S. Paulo, em 24.11.22, às 10h54
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