domingo, 2 de outubro de 2022

Presidente Bolsonaro em 12 frases: gripezinha, jacaré, bicha, 'imbrochável'...

O presidente de extrema-direita segue fiel ao estilo que conquistou milhões de brasileiros apesar do conselho de seus aliados da "velha política" de moderar o tom

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro anda a cavalo durante uma feira de gado em agosto. (Foto: André Penner (AP)

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro é uma metralhadora para as manchetes, e seu palavreado aparentemente incontrolável é parte fundamental de seu capital político. Ao seu histórico de frases racistas, misóginas, machistas, autoritárias ou nostálgicas da ditadura militar de seu tempo como deputado e bem conhecidas antes de chegar à presidência, em 2018, uma longa lista foi acrescentada agora que ocupa a chefia de Estado. São frases diversas, desde o negacionismo pandêmico e ambiental até todo tipo de ataque às instituições democráticas. Estes serão alguns dos mais lembrados:

"No meu caso específico, devido ao meu histórico como atleta, se eu fosse contaminado pelo vírus não precisaria me preocupar, não sentiria nada, no máximo um pouco de gripe ou um pouco de resfriado." (março de 2020)

O Brasil registrou os primeiros casos de covid-19 e, embora tenha questionado anteriormente a virulência do vírus, essa frase, proclamada com a solenidade de um discurso televisionado à nação, foi a pedra fundamental do negacionismo que marcaria toda a sua gestão do crise de saúde. A partir de então, a falta de sensibilidade para com as vítimas e a desinformação sobre medicamentos e vacinas foram uma constante.

"Y? Desculpe, o que você quer que eu faça? Eu sou o Messias, mas não faço milagres” (abril de 2020)

Mais uma resposta agressiva à imprensa quando o Brasil chegou a 5.000 mortes. Hoje, o país tem quase 700 mil mortes por covid-19, bem acima da média mundial em número de habitantes.

“Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Temos que deixar de ser um país de queers” (novembro de 2020)

Bolsonaro sempre foi contra as medidas de isolamento social para conter a propagação do vírus. Homofobia e masculinidade tóxica também são marcas da casa.

"Se você vira jacaré, problema é seu" (dezembro 2020)

Assim, ele criticou que a farmacêutica Pfizer não tenha sido responsável pelos possíveis efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. O governo atrasou as negociações com os laboratórios, mas quando os brasileiros finalmente conseguiram aderir com entusiasmo à campanha de vacinação, muitos foram para a fila vestidos de jacarés. O recém-destituído presidente da Petrobras foi se imunizar naquela época com uma camisa polo verde da Lacoste com o logo do crocodilo.

"Acabou-se. Não vou esperar que minha família seja ferrada de má fé, ou um amigo meu só porque não posso trocar alguém de segurança que pertence à estrutura. É mudado; se você não pode, você muda o chefe, se você não pode mudar o chefe, você muda o ministro. E ponto final, não estamos aqui para uma brincadeira” (abril de 2020)

Com o país imerso no caos da pandemia, veio à tona o vídeo de uma reunião do conselho de ministros em que Bolsonaro reclamou por não conseguir proteger seu meio ambiente veio à tona por meio de uma audiência judicial . Pouco depois, o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão acusando-o de interferir na liderança da Polícia Federal para proteger seus filhos de vários escândalos de corrupção.

“Pode ir se foder, imprensa de merda, pode enfiar todas essas latas de leite condensado no cu” (janeiro de 2021).

Os ataques a jornalistas têm sido recorrentes. Nessa ocasião, ele acusou a imprensa por ter revelado uma compra inusitada de grandes quantidades de leite condensado pelas Forças Armadas.

“Pirata-te, Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha” (setembro 2021)

Os ataques a esse juiz do Supremo Tribunal Federal, que tem Bolsonaro no centro das atenções por seus contínuos ataques às instituições democráticas, são um clássico dos círculos mais radicais de Bolsonaro. Atualmente, o juiz Moraes preside o Tribunal Superior Eleitoral, que adquiriu um papel inusitado nessas eleições.

“A Amazônia não está queimando. Você pode jogar uma lata de gasolina na selva, que não queima, a selva é úmida” (dezembro de 2021)

Bolsonaro repetiu essa ideia dezenas de vezes, apesar de durante seu governo o desmatamento e as queimadas na floresta tropical terem batido todos os recordes. Ele também repete com frequência que a vegetação nativa do Brasil está intacta, como encontrada pelo português Pedro Álvares Cabral em 1500.

“Juntos, com fé, alcançaremos nossos objetivos. É uma missão que tenho e só Deus me tira dessa cadeira (da Presidência da República)” (maio de 2022)

Citações bíblicas e menções a Deus estão no DNA do bolsonarismo, assim como o desprezo pelas regras do jogo democrático. Em outras ocasiões, ele também disse que só pensa em deixar o poder "prisioneiro ou morto".

"Os resultados das urnas serão respeitados se as eleições forem limpas e transparentes" (agosto de 2022)

Ao tentar dar uma trégua em sua escalada para questionar a confiabilidade do sistema de votação eletrônica sem provas, Bolsonaro diz que aceitará o resultado “se” as eleições forem limpas, dando a entender que essas condições não existem hoje.

“Existem pessoas que passam mal? Sim, tem gente que passa mal no Brasil. Alguém viu alguém pedindo pão na porta da padaria? Isso não existe, caramba” (agosto de 2022)

Nas ruas das principais cidades do Brasil não é difícil ver pessoas que até vasculham o lixo em busca de comida. Quase 33 milhões de brasileiros passam fome, segundo relatório publicado em junho pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.

"'Imbrochavel, Imbrochavel!" (setembro de 2022)

Difícil de traduzir para o espanhol, um "imbrochável" seria um homem que não tem problemas de disfunção erétil. Bolsonaro cantou a favor de seu suposto poder sexual em ato diante de milhares de seguidores durante as comemorações do bicentenário da Independência, em 7 de setembro. Ao seu lado, sua esposa, Michelle, seu grande trunfo eleitoral para atrair o voto das mulheres evangélicas.

Joan Royo Gual, do Rio de Janeiro - RJ para o EL PAÍS, em 01.10.22, às 19h32

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