Licenças para armas de fogo dispararam no atual governo
Arma apreendida pela polícia com membro do PCC. -
"Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado", disse Bolsonaro, em abril de 2020. 72% da população discorda dele. Mesmo assim, licenças para armas de fogo dispararam: 473% nos últimos quatro anos; no primeiro ano do atual governo (2019), cresceu em 68% o número de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs). Nos estados onde Bolsonaro ganhou no 1 turno em 2018, houve explosão no número de armas.
Bolsonaro precisa explicar como um homem de 27 anos está menos escravizado agora que foi morto por um menino de 5 anos na última segunda-feira (8) em Jacareí (SP), por uma arma de tiro esportivo deixada no banco traseiro do carro. Bolsonaro precisa explicar quantas pessoas ele deixou morrer desde que assinou decretos sugerindo que atiradores esportivos andassem armados por aí, mesmo longe de clubes de tiro, por vezes sob efeito de drogas e álcool.
Bolsonaro precisa explicar como pode um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) ser registrado como atirador esportivo, com o aval do Exército. Bolsonaro precisa explicar por que segurança pública para ele significa permitir que policiais armados fora de serviço possam balear na cabeça um campeão mundial de jiu-jítsu ou atirar em um motoboy numa briga de trânsito.
Bolsonaro precisa explicar como um dono de um clube de tiro em Pirassununga (SP) de 62 anos estaria mais seguro agora que entregou 12 armas para criminosos que invadiram sua casa e fizeram sua mulher de refém. Nos últimos cinco anos, criminosos levaram de residências 5.978 armas em SP. Bolsonaro precisa explicar por que quer beneficiar milícias armadas.
Bolsonaro precisa explicar por que humilhou a Polícia Federal ao esvaziar o controle de armas. Bolsonaro precisa explicar como o Exército quer fazer uma contagem alternativa das urnas eletrônicas quando sequer sabe padronizar o registro de armas numa planilha. Bolsonaro precisa explicar quantas pessoas sua política armamentista matou. E, sim, deveria ser preso por isso.
Thiago Amparo, o autor deste artigo, é advogado e professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. É Doutor pela Central European University (Budapeste). Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 11.08.22
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