Em 2018, ele disse que Brasil herdou 'indolência' dos indígenas; hoje é candidato ao Senado pelo RS
O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) - Gabriela Biló-23.mai.22/Folhapress
O vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), registrou sua candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta terça-feira (9) e se autodeclarou como branco, diferentemente do que fez em 2018, quando informou ser indígena.
Preterido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que indicou o general Braga Netto para ser seu vice, Mourão decidiu disputar a vaga de senador pelo Rio Grande do Sul.
Antes filiado no PRTB de Levy Fidelix, o vice-presidente migrou para o Republicanos em março e será candidato na chapa em que o deputado Onyx Lorenzoni (PL-RS) concorrerá ao governo estadual.
Há quatro anos, Mourão se chamou de "cacique Mourão", disse que seu pai era amazonense e sua avó "era cabocla de Humaitá".
"Eu sou pardo? Eu sou negro? Eu sou asiático? Eram as opções que eu tinha, e a quinta opção era indígena", disse o então candidato a vice na chapa de Bolsonaro.
Dias antes, em um evento em Caxias do Sul (RS), ele havia dito que o Brasil herdou a "indolência" dos indígenas e a "malandragem" dos africanos. Em seguida, negou que a declaração tinha sido preconceituosa e disse que, inclusive, era descendente de indígenas.
"Temos uma herança cultural, uma herança que tem muita gente que gosta do privilégio (...) Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem (...) é oriunda do africano", afirmou. "Então, esse é o nosso cadinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas", disse.
A região Sul, onde Mourão concorrerá neste ano, é uma das mais brancas do país.
Mas uma pesquisa divulgada no mês passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, em uma década, a população brasileira teve aumento na participação de pessoas autodeclaradas pretas e pardas. Enquanto isso, a proporção de brancos diminuiu.
O registro do nome de urna de Mourão neste ano também não conta com o "general" em seu nome, diferentemente de quando disputou a Vice-Presidência da República.
O candidato a senador declarou ainda bens no valor de R$ 1.145.761,85 –duas aplicações em renda fixa (R$ 660.870,52 e R$ 219.891,33), veículo automotor (R$ 61.000) e um apartamento (R$ 204.000).
Há quatro anos, o general da reserva declarou à justiça eleitoral bens no valor de R$ 414.470,04.
Também nesta terça foi divulgado o pedido de registro de candidatura à reeleição do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). No documento, o parlamentar se declara pardo, assim como fez em 2018. Em 2014, porém, Lira havia se autodeclarado branco.
O Congresso aprovou no ano passado mudança na lei para que, no cálculo da divisão das verbas dos fundos Partidário e Eleitoral, o voto dados em mulheres e negros (pretos e pardos) seja contado em dobro.
Essas verbas, que neste ano estão na casa dos R$ 6 bilhões, são distribuídas, em grande parte, com base nos votos obtidos pelos candidatos dos partidos às eleições para a Câmara dos Deputados.
Marianna Holanda e Ranier Bragan, de Brasília - DF para a Folha de S. Paulo. Publicado originalmente em 10.08.22
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