Onyx Lorenzoni foi deslocado para a Secretaria Geral da Presidência na primeira fase da reforma ministerial
O deputado João Roma (Republicanos-BA) foi escolhido como novo ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro. O parlamentar assume a vaga deixada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que foi deslocado para a Secretaria Geral da Presidência, numa primeira fase da reforma ministerial. A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União nesta sexta-feira, 12.
Roma, de 48 anos, venceu uma espécie de corrida interna no partido, que também avaliava para o Ministério da Cidadania os deputados Márcio Marinho (RJ) e Jhonatan de Jesus (RR). Ele foi escolhido por ter maior experiência em gestão pública e pela capacidade de articulação nos bastidores. Nos anos 1990 e 2000, passou por cargos de confiança nos governos de Pernambuco, Ministério da Administração, Ministério da Cultura e Agência Nacional de Petróleo (ANP).
João Roma é o novo ministro da Cidadania Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados - 2/7/2020
Antes de ser deputado, João Roma foi chefe de gabinete na prefeitura de Salvador, durante a administração de ACM Neto, presidente do Democratas. Em cinco anos no cargo, era considerado um dos homens fortes da gestão de ACM Neto e teve seu apoio para disputar o primeiro mandato de deputado federal, eleito em 2018. Por causa da crise no DEM, o ex-prefeito apelou para que Roma não aceitasse a indicação, mas o deputado ponderou que tinha aspirações pessoais e que sua indicação fazia parte de um acordo partidário do Republicanos com o Palácio do Planalto.
Em uma conversa recente com a cúpula de seu partido, Roma foi aconselhado a “cortar o cordão umbilical” com ACM Neto. A direção do Republicanos estava incomodada e via na tentativa de barrar Roma uma questão de vaidade do ex-prefeito de Salvador, que veria o “pupilo” assumir um cargo que nunca ele mesmo ocupou e em voo próprio, sem ser pelas suas mãos. Bolsonaro já havia definido a escolha. O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a telefonar ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), para relatar sobre a interferência do presidente do DEM.
Roma é católico, embora o partido seja um dos mais fortes na bancada evangélica e tenha vínculos com a Igreja Universal do Reino de Deus. O deputado é formado em Direito. Nascido em Recife (PE), é casado e tem dois filhos. Ele foi filiado ao antigo PFL, no qual militou na juventude. É neto do ex-deputado federal por três mandatos João Roma (PE), de quem herdou o nome. Nos anos 1960, o avô foi filiado ao PSD e à Arena, partido de sustentação do regime militar - ele deixaria a secretaria-geral da Arena em 1968, em discordância com o Ato Institucional Número 5 (AI-5).
O ingresso do Republicanos no primeiro escalão de Bolsonaro é a primeira “entrega” a partidos do bloco do Centrão que apoiaram a eleição de Arthur Lira (Progressistas-AL) como presidente da Câmara dos Deputados. A costura foi realizada por Pereira, presidente nacional do Republicanos, que deixou o grupo do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ), em que era um dos nomes cotados para a disputa, para aderir à campanha do candidato do Palácio do Planalto.
O movimento do Republicanos e de outras siglas em favor de Lira ocorreu após o governo distribuir recursos e cargos para que deputados apoiassem seus candidatos ao comando do Congresso. O Estadão revelou que apenas do Ministério do Desenvolvimento Social foram repassados R$ 3 bilhões.
Pereira se reuniu com Bolsonaro na terça-feira, dia 9, para tratar da autonomia do Banco Central, pauta conduzida por outro deputado da bancada, Silvio Costa Filho (PE).
O acordo para dar mais espaço ao Republicanos, partido conservador, vinha sendo construído numa aproximação desde o ano passado. Dois filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador no Rio Carlos Bolsonaro ingressaram no partido. O partido também indicou, no ano passado, o presidente da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) José Samuel de Miranda Melo Júnior.
Fundado com apoio de bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos nasceu durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva e apoiou os governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Políticos filiados ao partido foram ministros da Pesca, do Esporte e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Tia Eron
O licenciamento de Roma para assumir o ministério da Cidadania abrirá uma nova vaga ao Republicanos na Câmara. A suplente imediata é a ex-deputada Tia Eron (BA). Ela foi secretária nacional de Políticas para as Mulheres em 2019, tendo sido demitida pela ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Tia Eron foi secretária de Promoção Social e Combate à Pobreza na prefeitura de Salvador, durante a gestão de ACM Neto. Na Câmara, notabilizou-se em 2016 por dar um voto, no Conselho de Ética, que abriu caminho para a cassação do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ). O ex-presidente da Câmara foi preso e condenado na Operação Lava Jato.
Felipe Frazão, O Estado de São Paulo, em 12 de fevereiro de 2021, Atualizado 12 de fevereiro de 2021 | 19h46
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