Sistema de saúde do Amazonas vive colapso com recordes de internação devido ao alto contágio do novo coronavírus e falta de oxigênio. Secretário da Saúde de SP disse que contatou o governo do Amazonas para saber quantos bebês e grávidas precisam de atendimento.
Bebês recém-nascidos em UTI da Santa Casa de São José dos Campos, em São Paulo. — Foto: Divulgação/Santa Casa SJC
A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas informou nesta sexta-feira (15) que vai transferir para outros estados brasileiros bebês prematuros internados em maternidades públicas amazonenses, por conta da falta de oxigênio dos hospitais. O sistema de saúde amazonense entrou em colapso após as internações por Covid-19 no estado baterem recorde (veja mais abaixo).
Segundo a secretaria, os recém-nascidos serão transferidos a partir da autorização dos pais e serão acompanhados pelas mães nos voos que estão sendo preparados pelas autoridades locais.
O governo amazonense não informou a quantidade de bebês que serão transferidos, mas disse que “técnicos da secretaria estão trabalhando no planejamento da logística de transferência” e a os recém-nascidos "passarão por avaliação clínica" para saber se têm condições de transferência.
Os estados que receberão os bebês transferidos ainda não foram divulgados pelas autoridades amazonenses, mas nesta sexta o governo de São Paulo anunciou que vai disponibilizar leitos e assistência médica para bebês e gestantes internados em Manaus e que correm o risco de ficar sem oxigênio.
O governo do Paraná também ofereceu leitos de UTI neonatal para pacientes do Amazonas nesta sexta (15). De acordo com a secretaria estadual do Paraná, há a necessidade de transferência de 61 pacientes recém-nascidos.
Projeção no centro da cidade de São Paulo, SP, com os dizeres ¨Oxigênio pra Manaus¨, nesta quinta feira, 14. — Foto: ALLISON SALES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O secretário da Saúde de SP, Jean Gorinchteyn, disse em coletiva de imprensa que tomou conhecimento da necessidade de leitos por meio da imprensa e prontamente entrou em contato com a secretaria da Saúde do Amazonas para oferecer suporte.
"Imediatamente já fizemos contato com o secretário da Saúde do Estado do Amazonas, o doutor Marcellus. Ele está fazendo um levantamento porque vários estados, de forma humanitária, estão acolhendo esses bebês. E não são apenas bebês, mas são também mulheres grávidas. São essas gestantes que também foram comprometidas pelo Covid e que necessitam de assistência. Então desta forma nós queremos saber quantas ainda precisam da nossa assistência e prontamente estaremos acolhendo aqui em SP", disse Gorinchteyn.
Jean Gorinchteyn — Foto: Reprodução/GloboNews
Durante a coletiva de imprensa, o governador João Doria demonstrou irritação com a falta de oxigênio para bebês em Manaus.
"Acabo de falar com o secretário de Saúde e São Paulo atenderá integralmente esses 60 bebês. Eu já pedi a ele, ao término da coletiva, para falar com o secretário de estado do Amazonas. Nós acolheremos todos os bebês que puderem ser transportados aqui pra SP. É o fim do mundo isso. Pra quem é pai e quem é mãe, não tem oxigênio pra bebê? A irresponsabilidade do governo Bolsonaro, me choca isso, como brasileiro", disse Doria.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta sexta-feira, 15, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, na zona sul da capital paulista, o endurecimento das regras de quarentena no Estado a fim de conter o avanço da covid-19. — Foto: VINICIUS NUNES/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
Paraná oferece leitos
O Paraná ofereceu 25 leitos de UTI neonatal para pacientes do Amazonas, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). O pedido de ajuda foi feito pelo Ministério da Saúde.
Não há confirmação de que o Paraná vá receber de fato os bebês. Segundo a Sesa, se a transferência acontecer, o transporte deve ser realizado pelo Ministério da Saúde.
Os leitos oferecidos ficam em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. São 15 leitos de UTI neonatal no Hospital do Rocio e outros 10 no Hospital Infantil Waldemar Monastier, em Campo Largo.
Paraná ofereceu 25 leitos de UTI neonatal para pacientes do Amazonas — Foto: Divulgação/Sesa
Envio de respiradores
O governador de SP anunciou também que irá enviar quarenta respiradores a cidade de Manaus. Segundo João Doria (PSDB), os respiradores que serão enviados são desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP). O governador disse ainda que o estado vai oferecer leitos em hospitais públicos e privados para pacientes do Amazonas que puderem ser transportados até São Paulo.
"Solicitei à USP para encaminharmos imediatamente para o Amazonas quarenta respiradores. Quarenta respiradores produzidos na Universidade de São Paulo, demonstrando a capacidade tecnológica desta grande universidade para o atendimento emergencial àqueles que estão sofrendo com a Covid-19 no estado do Amazonas.", disse Doria.
"Orientei também o nosso secretário da saúde em SP a disponibilizar leitos nos hospitais públicos e a gerenciar leitos em hospitais privados para aqueles que puderem ser transportados até São Paulo para o atendimento prioritário", completou.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apresenta o respirador produzido pela Universidade de São Paulo (SP) que será enviado para Manaus, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, na zona sul da capital paulista, nesta sexta-feira, 15 de janeiro de 2021. — Foto: VINICIUS NUNES/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
Durante coletiva de imprensa nesta sexta, Doria voltou a fazer críticas ao governo federal e responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela crise no Amazonas.
"Tenho a sensação de que o governo Bolsonaro gosta do cheiro da morte, e não de celebrar a vida, pois se quisesse celebrar a vida já teria contribuído com o estado do Amazonas para oferecer condições mínimas de atendimento aos brasileiros que lá vivem. Não teríamos assistido às cenas dramáticas que vimos ontem na televisão", afirmou o governador.
Segundo Marcelo Zuffo, professor da USP e responsável pelos equipamentos de suporte à respiração, os primeiros respiradores devem ser enviados ainda nesta sexta (15) para cinco hospitais da cidade. A previsão é a de que todos eles cheguem à região de Manaus até a próxima terça-feira (19).
"Há praticamente dez dias nós estamos em forte interação com cinco hospitais de Manaus: Santa Júlia, Santa Alberta, Delfina, Hospital Adventista e o Beneficência, e foi constituída uma comunidade para receber esses ventiladores e hoje nós começamos a embarcar os primeiros lotes. Até terça da semana que vem nós teremos 40 ventiladores em pleno uso na região de Manaus", disse Zuffo.
De acordo com o governador, uma companhia aérea vai fazer o transporte dos equipamentos até Manaus.
"Conseguimos a solidariedade da Latam para encaminhar, transportar e entregar imediatamente à Secretaria da Saúde do Estado do Amazonas esses 40 respiradores. É uma pequena ajuda, mas é um sentimento solidário do estado de SP aos seus irmãos do estado do Amazonas", disse Doria.
Colapso em Manaus
Amazonas está sob toque de recolher por 10 dias
Sobrecarregados, os hospitais de Manaus ficaram sem oxigênios para pacientes. Médicos transportando cilindros nos próprios carros para levar ao hospital e familiares tentando comprar o insumo foram algumas das cenas registradas pelo G1 nesta quinta. Doentes começaram a ser levados para outros estados. Cemitérios estão lotados e instalaram câmaras frigoríficas.
Dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) carregados com cilindros de oxigênio chegaram a Manaus no início da madrugada desta sexta-feira (15). Eles foram enviados de Guarulhos para ajudar na crise de saúde que assola o estado do Amazonas.
No total, 386 cilindros de oxigênio foram transportados, com mais de 18 toneladas. Eles serão utilizados pelos hospitais no atendimento aos pacientes da Covid-19 no estado.
Nesta quinta (15), (ontem), durante transmissão ao vivo por uma rede social ao lado do presidente Jair Bolsonaro, Pazuello havia dito que há um "colapso" no sistema de saúde de Manaus.
No último domingo, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), enviou um pedido de ajuda aos governadores do país por conta da "iminência de sofrer desabastecimento" de oxigênio.
A partir desta sexta-feira (15), o estado iniciou toque de recolher por 10 dias. Ninguém pode sair de casa entre 19h e 6h. A medida é uma tentativa de conter a propagação do vírus.
Mais ajuda
A empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio do governo do Amazonas, também conseguiu disponibilizar cilindros para o estado. A Polícia Militar da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) realizou, na tarde de quinta-feira (14), a escolta de cilindros de oxigênio destinados a pacientes internados com Covid-19.
Policiais militares levam cilindros de oxigênio para Manaus — Foto: Divulgação/PMAM
Os cilindros chegaram pelo Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e foram entregues à Central de Medicamentos do Amazonas (Cema), no bairro Praça 14, zona sul de Manaus, segundo nota da PM.
Ao todo, foram 150 cilindros, sendo 80 destinados ao interior do estado e os outros 70 para unidades hospitalares da capital.
De acordo com a Polícia Militar, duas viaturas com oito policiais realizaram a escolta dos cilindros de oxigênio para agilizar a chegada do material, principalmente em razão do tráfego e da necessidade de dar celeridade à entrega.A empresa também informou ter identificado a disponibilidade do produto em suas operações na Venezuela e que "neste momento está atuando para viabilizar a importação do produto para a região".
Recorde de casos
Nesta quinta-feira, o estado do Amazonas registrou 3.816 novos casos de Covid-19, sendo 2.516 somente em Manaus. Foi o maior número de novos casos registrados no estado e na capital amazonense desde o início da pandemia, em março de 2020.
Com os números desta quinta, o total de casos confirmados da doença chega a 223.360 em todo o estado, segundo dados do boletim divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS).
O número de mortes subiu para 5.930, com mais 51 mortes causadas pela doença. Do total, 44 óbitos ocorreram nas últimas 24 horas e outros sete foram registrados em dias anteriores, mas confirmados agora. Além disso, foram 254 novas hospitalizações apenas na capital.
Manaus voltou a bater o recorde de internações diárias. Foram 254 novas hospitalizações na capital, número mais alto registrado no estado desde o início da pandemia, mesmo com o colapso na rede de saúde vivido entre abril e maio de 2020. Outras quatro internações foram registradas no interior do estado, fazendo o total de casos chegar a 258 no estado.
Maior pronto-socorro de Manaus pede que famílias levem cilindros de oxigênio
Médicos cobram Conselho Federal de Medicina por atuação na pandemiaCaos em Manaus faz governo reavaliar cerimônia de vacinação e Pazuello é criticado.
Publicado por G1, em 15.01.2021
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