O
homem nu só visível à altura dos telhados, os mais altos, já havia passado por
São Paulo, esteve à vista das pessoas numa das regiões mais frequentadas, mas
alvoroço mesmo ele só foi despertar quando o viram no alto do prédio de um
conjunto, no centro do Rio de Janeiro.
A
impressão que, aos poucos, nas primeiras horas do dia, foi se generalizando
indicava que as pessoas, lá embaixo, iriam testemunhar um tresloucado gesto.
Um
homem nu, em pé no alto do telhado de um edifício num lugar de muito movimento
estaria querendo o que? Chamar a atenção de todos para o seu tresloucado gesto.
É um
suicida, chama os bombeiros! Pula, pula, instigavam outros. As pessoas paravam
incrédulas, uma pequena multidão foi se formando, vendedores ambulantes também
foram chegando. Pula, pula, gritavam uns e a distancia era tão grande, entre o
chão e aquela altura, que o homem nu parecia nem ouvir.
A
guarda municipal chegou atarantada e isolou uma área indicando, pelos cálculos
do comandante, o lugar onde o homem nu lá de cima poderia, eventualmente, cair.
Chama
os bombeiros, já foram chamados, mas estão demorando, mas já foram chamados, é
sempre assim, quando chegam o fogo já se alastrou, mas não é bem assim, os
bombeiros somam uma corporação de heróis mal remunerados, mas que dão conta do
serviço com idealismo e muita raça. É isso mesmo, mas estão demorando.
A
estas alturas a gaiatice carioca se assanha e começam as especulações – é um
senador querendo se redimir antes que estoure um novo escândalo e seu nome,
afinal, reapareça mais explicito nos grampos!
Não,
é um vascaíno arrependido! Nada, é um cara que se hospedou num hotel em Goiânia
e sem querer, no café da manhã, sentou à mesma mesa de um sujeito que é a cara
do Cachoeira! Tá lascado, vai já ser chamado pela CPI! Lorota homem – é o novo
técnico do Flamengo que, antes mesmo de assumir, já perdeu o emprego!
Especulações
de todos os matizes, chegam os bombeiros e meia hora depois a decepção estende
seu manto sobre aquele aglomerado de maledicências.
O homem
nu era uma escultura fazendo parte de uma exposição chamada “Event Horizont” do
artista plástico inglês Antony Gormley, o qual anunciou depois que outras 30
(trinta), igualmente em tamanho natural, serão espalhadas por alturas
estratégicas pela cidade.
Viro
a página do jornal e leio que os familiares do cantor Wando, morto há alguns
meses, estão brigando entre si pela herança, não só os direitos autorais de
suas musicas, também a milionária coleção de calcinhas que as fãs em êxtase nos
shows lhe atiravam.
É
nisso que dá o sujeito em vida trabalhar tanto, formar um patrimônio para
depois ficarem os parentes, merdeiros como diria a Berenice, se esfarrapando,
em pé de guerra, por conta de inspirações que, antes, nunca tiveram. É triste.
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