Ofegante,
parado, o olhar vivo de um ser assustado, ei-lo aqui na varanda, um estranho
saído do nada.
Por
um instante me perquiro querendo entender o que teria trazido ou tangido este
sapo logo nesta hora da tarde em que mais bate o sol sobre a cerâmica do piso
na varanda.
É
normal nesta época o assédio de estranhos, mas o sapo nem é candidato a nada.
Nem lhe caberia bem uma camisa azul ou vermelha dessas de grife que estão em
moda por aí.
Sapo
não é gente, mas o que o impediria na corrida eleitoral hoje se pesando bem, sopesando-se os pros e os
contra, não acabaria sendo o preferido por centenas de milhares, quem sabe?
Afinal,
dando conta dos mosquitos, o sapo ao comê-los presta hoje mais serviços no
saneamento básico nas comunidades do que o Governo.
Houve
um tempo em que os bichos podiam compartilhar direitos políticos com os homens,
concorrendo às eleições.
No
mais antigamente, era um pedacinho de papel conhecido como chapinha com o nome
impresso do candidato que o eleitor colocava num envelope e o enfiava na urna.
Depois,
querendo mais consciência no dever do voto, os fazedores das leis mudaram para
o que passaram a chamar de cédula única. Numa mesma tira de papel eram
relacionados todos os cargos, restando os espaços correspondentes para que o
eleitor os completasse escrevendo o nome ou o número dos seus candidatos.
Até
ali, em qualquer um desses sistemas, os bichos podiam concorrer às eleições. Não
dependiam de comissões provisórias fazendo como hoje a festa e a fatura dos
donos dos partidos. Nem de impugnações e quejandas, em grandes partes
resolvidas como hoje por juízes neófitos em direito eleitoral.
Os
bichos, diferentemente dos homens, podiam saltar os obstáculos de todas as
instâncias partidárias e judiciais, chegando limpos, fichas limpas, ate a boca
das urnas num sufrágio resoluto dos eleitores mais conscientes.
Os
eleitores optavam por um bicho, davam-lhe um nome de candidato e bancavam a
campanha, tudo conforme as regras e os figurinos predominantes. Não havia
comitês, voluntários pagos, militância subsidiada.
No
tempo da chapinha os adeptos do bicho escolhido pagavam a gráfica e faziam a
distribuição nas vésperas das eleições. Com a cédula única, feita a divulgação
do nome do bicho durante a campanha, depois era só escrever o nome do bicho ao
lado do cargo.
Os
bichos que se tornaram famosos sendo os mais votados, em diversas eleições,
foram o Cacareco, um rinoceronte do zoológico de São Paulo; o Gregório, um bode
de um subúrbio que pastava legal no mato crescente de uma praça, em Recife; e o
Tião, um macaco do zoológico carioca.
Todos
- Cacareco, Gregório e Tião, cada um no seu tempo, foram eleitos Vereadores.
Mas aí a Justiça invocando uma lei que tornava nulos os votos dados a
candidatos não registrados não os declarou eleitos.
Mas
em que isso foi importante se a maioria de votos apurados, ainda que nulos,
eram a expressão torrencial da soberana vontade popular?
O
sapo anônimo, visitante inusitado, com o seu olhar esbugalhado e uma papada de
não fazer inveja a políticos conhecidos, bem que poderia, a estas alturas, em
que muito do novo é bem antigo, ser o nosso candidato a Prefeito. Por que, não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário