Não faz muito, num dia nem tão longe, teve gente que não se agüentando em seu ufanismo chegou a tocar foguete depois do anuncio de que o Brasil estando agora entre as maiores economias do mundo ultrapassara a Inglaterra.
Achar-se melhor ou maior que os outros faz parte do show da vida, embora nos tempos de agora isso não pareça tão fantástico assim.
Ora, no que interessa à maioria das pessoas no Maranhão, por exemplo, saber que o Brasil já supera a Inglaterra economicamente se o bem bom das coisas de lá passam muito longe das coisas daqui?
Nem o uísque de lá que dizem ser o melhor do mundo, nem as mensalidades dos cursos de inglês daqui, se tornaram mais alcançáveis à maioria das pessoas nesse Brasil agora mais rico que a Inglaterra.
É só pensar em qualquer coisa que possa estar acontecendo por lá e nas mesmas coisas, ou coisas parecidas, que possam estar acontecendo por cá.
Por exemplo, um sanduiche em Londres é mais saudável e mais barato que um sanduiche algo menos saudável no Brasil.
Diferenças muitas há lá e cá, não há duvida.
Duas noticias recentes, porém, nos põem em pé de igualdade com a Inglaterra, depois de termos amargado tantas desigualdades, em especial nos quesitos dos indicadores sociais.
Ninguém venha nos dizer que a Inglaterra só porque foi ultrapassada economicamente pelo Brasil amarga agora a segunda pior expectativa de vida da Europa ou que os piores índices sociais do velho mundo tenham sido captados naquela ilha que inspirou tanto fascínio a Napoleão, mas na qual ele nunca conseguiu aportar.
O Brasil ganha agora da Inglaterra em economia, mas, ainda assim, os piores indicadores sociais ainda estão no Brasil, melhor dizendo, no Brasil que fica no Maranhão, um Estado cujo território é quase do tamanho da Alemanha com uma população maior que a do Reino da Jordânia.
De cada 1.000 crianças que nascem no Maranhão, 40 não chegam ao primeiro ano de vida. Esse é o índice de mortalidade infantil. 78% dos maranhenses dependem de algum programa do Governo federal. Dos 50 municípios com maior volume de miséria no Brasil, mais da metade, ou seja, 32 são do Maranhão.
Analfabetismo? Ganhamos fácil do Haiti, mas perdemos longe e feio para a República Dominicana, ali no caribe.
Numa coisa, porém, o Brasil, quero dizer o Brasil que fica no Maranhão, já se iguala à Inglaterra. É na questão dos cemitérios. Em Yardley, ao sul de Birmingham, por exemplo, não há mais vagas nos cemitérios. No Maranhão, também.
Dentro de 2 anos, registra em chamada na primeira página o jornal de Sarney, o sistema funerário da Capital, só para inicio de conversa, entrará em colapso total por falta absoluta de vagas nos cemitérios.
Assim, viver ou morrer no Maranhão hoje lembra aqueles botões dos 120 baixos da sanfona do Luiz Gonzaga. De tão emparelhados. Se a vida está pela hora da morte, morrer então estaria pela hora da vida?
Só há vaga agora em cemitério se o tumulo é abandonado e aí logo surge outro morto e a invasão ocorre pelos sete palmos de terra abaixo como num movimento dos sem - sepultura.
Tempos de grandes sonhos aqueles de outrora em que o poeta, o nosso Gonçalves Dias, exilado na Europa, só pensava no Maranhão, e clamava aos céus – “não permita Deus que eu morra | sem que eu volte para lá...” Deus não quis. Já naquele tempo Deus não quis. E o poeta singrando a volta morreu num naufrágio. Não voltou.
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