Se compararmos, talvez, com o nosso tempo de criança, quando, ao que parece, éramos mais soltos e, por isso mesmo, mais criativos até no jeito de sonhar, as diferenças que marcam hoje o mundo não o fazem menor na galaxia por onde navegam os nossos devaneios.
Ora, se nem havia John Lennon ninguém sonhava em ser John Lennon. Por décadas seguidas, muitas infâncias miraram-se num santo protetor, São Luiz Gonzaga, por exemplo, o padroeiro dos estudantes, e ajoelhando-se ante a imagem do jovem seminarista santificado tão cedo, as certezas do futuro estavam ali, a caminho dos céus, mais que certas.
Jonnhy Weissmüller, porém, batia de longe nas preferencias dos meninos. Filhos de pobres ou filhos de ricos, todos queriam ser Tarzan. Nada de Leão para Rei das Selvas. Leão podia ser o Rei dos Animais. O Rei das Selvas mesmo era o Tarzan.
Os parceiros do super-herói, no caso do Tarzan, eram além da Jane, sua loura mulher, todos nós temos na vida um caso, uma loura, já cantava Dick Farney à época, um garoto chamado Boy e nunca ficou bem claro se ele era mesmo filho do Tarzan e para divertimentos da criançada ainda em idade de não entender nada ou lá muitas coisas havia a Tita, a chipanzé amiga e inteligente, mais que muitas gentes.
Tarzan era o modelo que todo menino queria ser quando crescesse. Filho de ingleses, ficou orfão muito cedo, tendo sido criado pelos macacos. Atleta, saudável, sem medo, movia-se veloz na floresta entre cipós, defendia a natureza sem ser dono de ong ambientalista e quando seres ditos civilizados apareciam na mata para suas explorações predatórias, Tarzan fazendo concha com as duas mãos emitia um grito único, inimitável, espécie de convocação urgente e logo suas tropas integradas por feras de todo tipo, parecendo sairem do nada, apareciam aos milhares, prontas para a defesa ou para o ataque, quando fosse o caso.
Outros, na escola, vendo as gravuras dos poetas ou dos escritores, ou os bustos dos heróis nas praças, sonhando mais alto, queriam ser, quando crescessem, que nem aquelas pessoas. Não faltavam bons exemplos na história ou no cinema, ou mesmo no circo, para as crianças se mirarem.
Essa pergunta, menino o que tu vais querer ser quando cresceres, hoje em dia, parece causar um tremendo transtorno nas ambições das crianças, tantos são os albuns de figuraças e figurinhas à disposição. A globalização que parece ter encolhido o mundo ao ponto de cabe-lo por inteiro na tela da televisão disponibiliza nesse quesito, o que tu vais querer ser quando cresceres, incontáveis opções.
Hoje, mais que ontem, a cabeça das crianças se povoam não só de heróis, mas também de anti-heróis.
Os que atuam em histórinhas fazendo papel de anjo mal, amiguinho do demonio, deslumbram a muitos, não só aos aficcionados em desenho animado, mas também aos que já tendo alguma noção das coisas começam a eleger os seus anti-heróis fora da fantasia.
Hoje em dia o mais invejado, de longe, que pena, como chefe de famiglia é o Dom Corleone, de Mário Puzo, imortalizado por Marlon Brando.
Daí que a mãe do menino, num dia desses perguntou, meu filho que vais querer ser quando cresceres? Politico, respondeu na bucha. Bem, pensou a mãe, isso não é de todo mal. Ainda temos politicos bons neste Brasil. Fala aí, filho, o nome de um politico desses que tu vais querer ser. Vais ficar muito ofendida, mãe. E um bom filho faz de tudo para não ofender o seu pai ou a sua mãe.
A mãe insistiu tanto que o menino acabou revelando o seu anti-herói. O pai chegando naquele instante ficou tão pê da vida que se segurou por inteiro para não lhe dizer umas coisas muito sérias. Mas pensou rápido, isso pode acabar gerando um trauma nessa criança e vai que ele não se cura e acaba querendo ser que nem esse politico mesmo.
Dos males, o menor.
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