terça-feira, 28 de junho de 2011

Ultimato

Quem estuda o Brasil morando lá fora e conectado com o que se passa no demais do mundo, decerto que não consegue entender como é que este País se agüenta.

O Brasil se declara República Federativa, mas os membros federados, todos, sem exceção, dependem do poder central.

É presidencialista, mas a governabilidade depende mais das Medidas Provisórias do que das eventuais maiorias parlamentares que o Governo do momento consegue, a duras penas, organizar.

A Dilma agora está às voltas com mais um desafio em suas próprias bases congressuais.

Os Deputados, que somam a maioria esmagadora para a Presidente passar os seus projetos no Congresso, ameaçam boicotar a pauta e não votarem nada enquanto ela não mandar pagar as emendas parlamentares em atraso desde 2009.

A maioria do eleitorado que votou na Presidente e nos Deputados e Senadores nem sabe que negócio é esse de emenda parlamentar. Poucos sabem que é uma grana que eles próprios inscrevem no Orçamento da União com a destinação que eles próprios decidem.

E aí vêm as pressões dos Prefeitos, os quais em muitos casos financiam as campanhas dos Deputados e Senadores. Prefeito e Vereador, no geral, são os que mais entendem do que fazer com o dinheiro público no País.

Então, o problema não é da Dilma. O problema não é dos Deputados nem dos Senadores que estão aí sendo pressionados pelas suas bases por causa das emendas em atraso. O problema é nosso, do Povo, que nos recusamos ao exercício pleno da nossa cidadania.

Quando o Brasil tiver uma sociedade civil mais ativa, mais cobradora, mais participante, mais interessada diretamente no que se passa nos meandros da nossa incipiente República e cambaleante democracia, recusando o voto aos profissionais da política, àqueles que não conseguem viver sem um mandato e quando o perde apela para qualquer sinecura, quando o Povo em geral resolver escorraçar, e pode, os pilantras do poder público, o único risco que o Brasil poderá correr será este de cair, em definitivo, numa República de verdade e numa democracia à prova desses ultimatos para não se dizer chantagem até contra a Presidente da República.

Mas a Dilma, que, dizem, é carne de pescoço, e eu não sei se isso é bom, já mandou dizer que os parlamentares da sua base podem espernear à vontade, mas que ela não vai mandar pagar coisa nenhuma de emenda parlamentar.

Pela razão, está certa. Não sei se fazendo vistas grossas à chantagem emocional, fazendo de conta que isso tudo não tem nada a ver com ela, vai conseguir levar o seu barco político para além dos nevoeiros e para bem longe daquelas ondas que em passado recente quando não derrubaram, enfraqueceram Presidentes.

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