Aromas não estão apenas nas flores. Em algumas frutas, mais que em outras, eles se agregam aos sabores.
Quando se juntam então agradando aos dois sentidos, ao olfato e ao paladar, sublimam a ocasião.
A vista ainda guarda as manhãs de sol acolhendo as inquietações das abelhas no cajueiro como se a vida das flores brotasse das asas delas.
Poucas árvores são tão generosas quanto o cajueiro. As crianças brincam se pendurando em seus galhos.
Passadas as euforias das abelhas paparicando as flores, começam a surgir as castanhas verdes.
Depois, as castanhas vão ficando rígidas, a pequena massa entre a castanha e o galho, sob a proteção das folhas, vai ganhando forma lentamente, as noites regam com orvalhos, o sol retoca a sua cor.
Daí como num milagre as cores dos cajueiros, e agora são mais de dois, se definem em exuberâncias explícitas no amarelo ou no vermelho das peles de suas polpas.
(Tampouco turva - se a lágrima nordestina, apenas a matéria vida era tão fina e éramos olhar-nos intacta retina, a cajuína cristalina em Teresina.)
Cajuína cristalina, menina, é em Teresina. O pedaço de poema aí em cima é coisa do Caetano em merecidos agrados ao pai do Torquato.
Ê São João, ê Pacatuba! Ê Rua do Barrocão, vê o Parnaíba passando, separando a minha rua das outras do Maranhão. Saudades de ti, Torquato.
Entre essas margens do rio que inventa essas ruas, minha prima, há uma diferença enorme. Ainda hoje se fala de coisas boas que iam para o Maranhão e que acabaram indo para o Piauí, menina.
Coisa de ágil, de gente ágil! Teve gente que até viu o cão chupando manga. Então, o melhor é mudar de assunto. Oportuno falar de manga. Você sabia que a manga é da mesma família do cajueiro?
Deve ser por isso que quando é tempo de manga, também é tempo de caju. A manga veio da Índia, trazida pelos portugueses. O caju é natural destas terras, descoberto pelos índios.
Com o tempo, caju e manga foram ficando amiguinhos e hoje são tão inseparáveis que até afloram no mesmo tempo, e já são até parentes, quase inseparáveis.
Manga com leite - pode ou não pode?
Conversa dos ingleses na Índia. Querendo o leite só para eles inventaram para os nativos a sacralidade das vacas.
Até hoje as vacas na Índia passeiam por onde querem fazendo o que bem entendem à custa da imunidade tributária e do foro privilegiado.
No Brasil, os portugueses estimulavam os escravos ao consumo de manga ao mesmo tempo em que lhes proibiam de beber o leite das vacas. A pecuária era fraca. Então, não dava para se tirar da panela carne de vaca.
Manga com leite dava febre, ameaçavam os senhores das casas grandes aos escravos das senzalas, e se ainda assim, com febre, o moreno resolvesse comer manga, podia endoidecer.
Daí aquela desconfiança sugerindo que o cara parecia delirar – você parece que comeu manga com febre...
As mangas do quintal da infância em suas variações de forma e cor tinham nomes – manga d água, manga espada, peito de moça, manguita, manga rosa.
Na Estação Domingou, em Caxias, entre as mangueiras várias há um pé de manga rosa, manga que já faz tempo deixou de ser cheirosa, se deteriorou, atacada por famílias de cupim.
Apesar da sua popularidade, meninos vendo outras mangas ao longe e atirando rebolos, a cada safra o sempre mimado pé de manga rosa foi perdendo a graça como se alcançasse a mesmice das árvores velhas, sem encanto como certas velhas sem noção de presente e sem compromisso algum com o futuro.
Foi ficando assim decadente que nem as oligarquias. Frigida que nem interessa mais às abelhas. Indiferente às bênçãos das chuvas, muito estranha às alegrias do sol. Como se já sumisse no fundo do palco da vida.
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