sábado, 17 de outubro de 2009

Genéricos

É um antigo desejo esse do homem de querer por diversas maneiras se eternizar.

Seria preciso uma forma de reprodução integral resumindo a morte a um ou dois acordes do samba de uma nota só como se fosse uma vinheta incidental no meio da canção da vida, uma canção bonita, alegre, romântica, interminável.

Não bastaria a descendência consangüínea.

Até porque a genética, nesses casos, atuaria como um buscador maluco e volta e meia alcançando genomas distantes fisgaria figuras que de tão encrencadas se tornariam indesejáveis à família.

Um parente que vive metido em encrencas, que não consegue atravessar a linha da marginal e viver no espaço sadio e seguro da decência, é um horror para os amigos, isto quando consegue contabilizar alguns amigos, e uma vergonha para os parentes.

Ninguém quer ser parente de alguém tão sem conceito.

Talvez por isso tanto investimento na pesquisa científica, nos mapeamentos genéticos, nos conjuntos haplóides de cromossomos.

Talvez por isso os homens, no geral, apostem na clonagem que assegure ao mundo seres tão bons e iguais ao que acham que eles próprios os são.

Talvez por isso esse interesse crescente pela teoria da evolução das espécies. O Lula e eu acreditamos sinceramente que Charles Darwin tinha razão.

Muitos de nós, aliás, somos a confirmação de que as espécies evoluem, sim. Algumas demoram muito mais que as outras, sim, mas evoluem. Imperceptivelmente.

Os que achando que podem morrer a qualquer hora, vendo que com os consangüíneos vão é perder tempo, se entregam à captura de quem, na sua ilusão, lhes possam suplementar ou substituir como excepcionais discípulos.

Se os mestres ensinam tudo aos discípulos eles acabam sendo ate mais que os mestres. Mais safados inclusive. Se o mestre é um safado enrustido, é claro.

Talvez porque Deus fez o mundo estabelecendo a todas as coisas e a todos os seres os respectivos prazos de validade que os homens, no geral, estejam sempre inventando atalhos na vida para não terem de se encontrar com a morte.

Há também os que vendo prazos de validades de uns se expirando não seguram a ansiedade e ate se exasperam querendo assumir logo as características comportamentais de outros.

Você olha o cara e nada lembra o original. Mas é ele começar a dar tom às palavras, a argumentar, a querer convencer, e as semelhanças se escancaram como uma denúncia.

O imitador se sai melhor na mentira.

Há uma denominação mais recente para esses tipos. Genéricos porque são copias mais baratas.

Os genéricos são resultado de patentes expiradas, mas só podem entrar na competitividade dos mercados depois de aprovados nos rigorosos testes de bioequivalência. Olha só o nome do teste – bioequivalência.

Podem substituir os originais, mas não podem usar seus nomes. O genérico reproduz a fórmula, mas não a marca. Por isso o seu menor preço. Existem hoje genéricos para dezenas de situações, não só cardiocirculatórias. Também políticas.

Os genéricos contêm o mesmo principio ativo, na mesma dosagem da sua referencia. A embalagem? Aí você está indo longe demais. Está querendo saber muito.

Ou não sabe que é pelos frutos que se conhece a arvore? Porque toda arvore boa dá bom fruto e toda arvore má dá mau fruto. Tem mais no evangelho.

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